Como a dança pode transformar vidas

A música começa, e em poucos segundos o corpo responde. Um passo aqui, um giro ali. Para muitos, pode parecer apenas diversão; para outros, é um exercício físico. Mas, na prática, dançar é muito mais que isso. Diversos estudos apontam que a dança pode melhorar a saúde física, fortalecer a mente e até transformar relações sociais. Não à toa, ela está presente em diferentes culturas do mundo há séculos, sempre associada à celebração, à espiritualidade e ao bem-estar.

Corpo em movimento, saúde em dia

Do ponto de vista físico, a dança é considerada uma das atividades mais completas. Movimentos que envolvem pernas, braços, tronco e coordenação contribuem para o fortalecimento muscular, a flexibilidade e a resistência cardiovascular. Para quem não gosta da rotina das academias, dançar pode ser uma alternativa prazerosa e igualmente eficaz para manter o corpo saudável.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 30 minutos de atividade moderada por dia já trazem benefícios significativos para o organismo. Nesse contexto, dançar uma música em casa, participar de uma aula de forró, danças urbanas ou até dança contemporânea podem cumprir esse papel — e ainda com uma dose extra de diversão.

A dança como aliada da mente

Além dos ganhos físicos, a dança atua diretamente no cérebro. Movimentos coordenados estimulam regiões ligadas à memória, ao foco e ao equilíbrio. Em idosos, por exemplo, a prática estimula a memória e a aprendizagem, e pode até retardar a progressão da doença ao fortalecer músculos, melhorar a coordenação motora e promover a socialização, como aponta uma revisão sistemática do National Institute of Health (NIH).

Mas os efeitos vão além da ciência neurológica. Dançar também ajuda a liberar endorfina e serotonina, hormônios responsáveis pela sensação de prazer e bem-estar. É por isso que, após uma aula ou até mesmo alguns minutos de improviso na sala de casa, muita gente relata sentir-se mais leve, menos ansiosa e mais confiante. Quem atesta isso é Danielly Flamia, de 46 anos, aluna de uma escola de dança de Passo Fundo, para ela, a dança é uma forma de esquecer os problemas. “Vou para a aula com o objetivo de esquecer os problemas, dedicar um tempo para mim, e como consequência esqueço de tudo ao redor para me dedicar de corpo e alma literalmente” afirma. 

Dançar também é se conectar

Mesmo quem improvisa sozinho em casa está, de alguma forma, se conectando com a música e com sua própria identidade. Essa prática promove o autoconhecimento, o desenvolvimento da consciência corporal e a expressão de emoções. Ao dançar sem a preocupação de ser observado, é possível explorar sentimentos, reduzir a autocrítica, encontrar um estado de fluxo e fortalecer a autoestima e a saúde mental.

Outro aspecto fundamental é o social. Dançar raramente é uma prática solitária, em aulas coletivas, baile ou festas, a dança se torna um ponto de encontro, fortalecendo vínculos, ampliando círculos de amizade e promovendo inclusão.

Em muitas comunidades brasileiras, projetos de dança funcionam como ferramentas de transformação social. Jovens que antes estavam em situação de vulnerabilidade encontram na  dança não só uma atividade artística, mas também um espaço de pertencimento, disciplina e novas perspectivas para o futuro.

“É muito bom dançar em grupo, com minhas amigas porque além de praticar uma atividade física podemos dar risada, contar histórias e compartilhar momentos” fala Danielly quando perguntada sobre como se sente dançando em grupo.

Expressão e autoconhecimento

A dança também é uma linguagem. Cada movimento pode carregar significados, contar histórias e expressar sentimentos que nem sempre conseguimos traduzir em palavras. É por isso que muitas pessoas descrevem a prática como uma forma de autoconhecimento.

Bailarinos profissionais costumam falar da dança como “corpo que fala”. Mas isso não vale apenas para quem se apresenta no palco. Para qualquer pessoa, dançar pode ser uma oportunidade de explorar emoções, reconectar-se com o corpo e até redescobrir a autoestima. Quem também fala dos benefícios da dança é Letícia Matte, de 16 anos.“Acredito que a maior transformação que a dança agregou na minha vida foi entender sobre processos e enxergá-los com outros olhos. A dança por si só já é um grande processo, mas ela te faz passar por diversos outros, tanto físicos quanto emocionais”, relata. Ao se referir à grande transformação que a dança proporcionou na sua vida, ela cita sobre o tempo de aprendizado de cada cada pessoa. “Cada um tem o seu próprio processo, e não devemos compará-lo com o de outras pessoas, pois isso mais nos frustra do que agrega em algo. Acredito que esse ensinamento pode se encaixar em diversas áreas em nossas vidas, não só na dança”, declara. 

Não é preciso ter técnica para dançar

Um dos maiores mitos é acreditar que só dança quem tem talento ou técnica. Mas, na verdade, todos podem dançar — e cada corpo tem sua própria forma de se expressar. Não há idade, forma física ou estilo musical que limite essa experiência. Bailes de terceira idade, grupos de dança de salão, projetos de hip hop em periferias e até aulas online provam que o importante é o movimento, não a perfeição.

Uma prática cada vez mais valorizada

Mais do que estilo ou técnica, o que une todas essas práticas é a certeza de que dançar faz bem — para o corpo, para a mente e para a alma.

A prática de dança aqui em Passo Fundo, é diversificada e ativa, com mais de 10 escolas de dança, festivais e grupos que promovem diversos estilos, dos clássicos até os folclóricos. A Universidade de Passo Fundo (UPF) e a prefeitura da cidade são importantes apoiadores do cenário de dança no local. Em setembro deste ano, a universidade sediou o UPF em Dança. Durante o evento, mais de trinta grupos se apresentaram no palco do Portal de Linguagens, reunindo mais de 60 bailarinos de 5 a 70 anos, com performances de ballet, danças urbanas, jazz e danças folclóricas. Confira algumas imagens. 

A dança como uma terapia

Isadora Sbeghen é educadora física licenciada e bacharel pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mestre em ciências do movimento também pela UFRGS e formada em arteterapia pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Ela conta como a dança é um momento de se desconectar das coisas ou pensamentos que trazem aflição, além de falar sobre a dança como uma forma de expressão. Confira abaixo a íntegra:

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