Brasil: Relatório da Absolar mostra que energia solar já produz mais que Itaipú

RS ocupa a terceira posição do ranking brasileiro com 2,27 GW de produção

POR MARLUSA OLIVEIRA E ANTHONY BUQUI
Produzida na disciplina de Reportagem do curso de Jornalismo da UPF, ministrada pela prof. Maria Joana Chaise

Por se tratar de uma fonte sustentável e renovável, a energia solar tem se tornado uma alternativa eficiente na vida dos brasileiros nos últimos anos. A posição geográfica do país e o clima são dois fatores que colaboram para isso, já que a incidência do sol é constante nos estados durante todo o ano, praticamente.

A Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica) atua desde 2013 no ramo e revela que os números de geração e uso dessa fonte de energia não param de crescer, especialmente após 2012, quando houve a publicação da Resolução Normativa  nº 482 por parte da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica)*. A partir dela, ficou estabelecido que o consumidor brasileiro pode gerar sua própria energia elétrica, por meio de fontes renováveis (como a exemplo da energia solar) e/ou de cogeração qualificada.

*Esta portaria foi revogada e substituída pela Resolução Normativa ANEEL Nº 1.059, DE 7 DE FEVEREIRO DE 2023.

EXPANSÃO BRASILEIRA

Atualmente, o Brasil conta com mais de 1,9 milhão de sistemas solares fotovoltaicos conectados à rede e com 2,5 milhões de unidades consumidoras. Em um ano, a energia solar teve um crescimento de 110% na potência instalada em residências, comércios, indústrias, prédios públicos e pequenos terrenos no Brasil, segundo mapeamento feito pela Absolar. Em maio de 2022, o país tinha alcançado a marca de 10 gigawatts (já neste ano, no mesmo mês, atingiu 21 gigawatts), o que corresponde a uma usina hidrelétrica e meia de Itaipu, que tem a capacidade de geração de 14 GW por mês.

Na visão da empresária Irema Lima, o mercado de energia solar está em constante crescimento, impulsionado por diversos fatores, tais como a conscientização sobre a sustentabilidade, os avanços tecnológicos, os incentivos concedidos e a redução dos custos de instalação. “A crescente preocupação com as mudanças climáticas e a busca por fontes de energia limpa têm impulsionado a busca por soluções solares. Como resultado, o mercado de painéis solares está se expandindo rapidamente, com mais consumidores e empresas adotando a energia solar”, diz ela.

Nos últimos três anos, a média de instalações de sistemas fotovoltaicos no país foi de 226,4 mil em 2020, 458 mil em 2021 e 768 mil em 2022, sendo que no último ano, o Brasil entrou pela primeira vez no ranking dos países que mais geram energia fotovoltaica no mundo, ocupando o oitavo lugar, com 24 GW de potência instalada acumulada, segundo apontou a Absolar.

Já em janeiro deste ano, essa nova forma de distribuição de energia alcançou o segundo lugar no posto de matriz elétrica mais utilizada no país, ultrapassando a energia eólica e o gás natural. De 2012 para cá, mais de 39,1 milhões de toneladas de CO2 foram evitados com uso da energia solar, mais de 151,7 bilhões já foram investidos, R$ 44,5 bilhões de tributos arrecadados e 918,4 mil novos empregos gerados devido à expansão do setor, conforme os dados acumulados, divulgados pela Absolar por meio de um infográfico em junho deste ano.

RIO GRANDE DO SUL: DESTAQUE NACIONAL

O Rio Grande do Sul está entre os cinco estados brasileiros que mais gera energia renovável e se beneficia dela. O estado gaúcho ocupa o segundo lugar do ranking estadual de geração distribuída do recurso (atingindo uma capacidade de 402,4 MW instalados), conforme divulgado pela Absolar e pela Aneel, o que faz com que o recurso seja amplamente explorado, e o Rio Grande do Sul, considerado um dos maiores produtores de energia fotovoltaica do país, ficando atrás apenas de Minas Gerais e de São Paulo.

O diferencial para este alcance se dá pelos sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica e as usinas solares, que possibilitam a eficácia na geração de energia distribuída por meio de 4 mil sistemas instalados atualmente – o que equivale a cerca de 46 mil kw de potência.

Desde que o Projeto de Lei 395/2019, relacionado a implantação de sistemas de energia solar fotovoltaica em prédios públicos do Estado, (a partir da modalidade de geração distribuída) foi aprovado no plenário da Assembleia Legislativa, a busca pelo investimento se alastrou de modo considerável por parte da população gaúcha, somado ao fato de que a instalação desse tipo de sistema garante em média, 25 anos de vida útil aos equipamentos e o retorno do investimento se dá em uma média de 4 a 5 anos (um dos retornos mais rápidos do país).

A crescente ascensão do campo é tão significativa que em dezembro de 2018 o Governo do Estado publicou o Atlas Solar do RS, que apresenta um estudo sobre as condições de geração de energia solar no território, definido como um recurso extra que “exibe as informações detalhadas da irradiação solar e da produtividade fotovoltaica em todo o território gaúcho e aponta os locais mais adequados para implantação do sistema”, conforme divulgado no site oficial do governo.

UMA ALIADA A MAIS NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA

A procura por novas formas de transição energética está relacionada com a busca por um futuro mais sustentável, capaz de reduzir a emissão de gases de efeito estufa e garantir a segurança energética do planeta. Para tanto, não é atoa que o campo ganha destaque com o transcorrer dos anos, já que a energia solar é uma das formas mais assertivas para conter gastos e preservar o meio ambiente.

“A transição energética é um processo essencial para garantir a sustentabilidade do planeta e promover o desenvolvimento sustentável. Neste  contexto, a energia solar desempenha um papel crucial como uma das fontes de energia renovável mais promissoras e acessíveis”, destaca a bióloga Fabiana Manchado.

Residências, empresas e indústrias estão cada vez mais equipadas com os sistemas fotovoltaicos, capazes de captar a energia do Sol e gerar energia elétrica de forma prática e segura. Só no primeiro trimestre de 2022, a produção do recurso cresceu 70% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Alternativas de facilitação para obtenção do recurso são sempre bem-vindas, como é o caso das linhas de crédito, que além de facilitar o alcance da geração de energia, mantém aquecida a própria economia.

O conceito de geração do recurso se dá através de duas formas: da energia distribuída (quando os consumidores instalam o sistema para uso próprio) ou da energia centralizada (que corresponde ao processo realizado pelas grandes usinas solares). É de se considerar também que ela se trata de uma energia limpa e inesgotável, convertida em energia elétrica por meio da tecnologia.

Para Irema Lima, ao adotar a energia solar, as pessoas podem contribuir positivamente para o meio ambiente. Isso pode trazer uma sensação de esperança, propósito e bem-estar, ao saber que estão fazendo parte de uma solução sustentável para o futuro. “Além disso, a independência energética e a estabilidade financeira proporcionadas por ela podem aliviar preocupações e ansiedades relacionadas às despesas de energia”.

Pensando justamente na eficiência energética, a médica veterinária Lisângela Camargo adotou recentemente os painéis solares no petshop onde é proprietária. Para ela o que motivou a instalação foi a redução na conta de luz: “Quando instalei, busquei primeiramente a eficiência energética e os efeitos já foram sentidos no primeiro mês, com redução de 90% na tarifa de luz. Isso contribui significativamente para a diminuição de gastos e ampliação do lucro da empresa “, finaliza.

PROJEÇÕES PARA O FUTURO

Embora apresente muitas vantagens, vale lembrar que os painéis solares têm duração média de 25/30 anos, e se caracterizam como um lixo eletrônico difícil de reciclar, sendo este um dos desafios ambientais mais preocupantes por parte de quem adota esse tipo de alternativa. Isso ocorre porque as placas são formadas por células solares que apresentam como materiais semicondutores o alumínio, o cobre e o silício, que levam anos para se decompor.

Estamos produzindo cada vez mais painéis solares — o que é ótimo — mas como vamos lidar com o lixo? Foto: Alessandra Neris

A bióloga Fabiana Machado lembra que o descarte de painéis solares é complexo e exige questões legais, tecnológicas e até políticas. “Ao contrário de outros países, no Brasil ainda não existe uma legislação específica para a reciclagem de painéis solares. O processo de descarte é complexo e exige cuidado e atenção pela presença de metais pesados em sua composição, para tanto é necessário a destinação em local devidamente adequado, não sendo permitido o descarte em aterros sanitários”, complementa ela.

Assim, se de um lado há motivos para comemorar, ao considerar que o Brasil está entre os 30 países que mais geram energia solar no mundo, conta com mais de 20 mil empresas que atuam no ramo, estima que mais de R$ 20 milhões sejam investidos neste tipo de energia até o fim do ano e busca atingir uma projeção de faturamento médio de R$ 100 bilhões até 2030, conforme calcula a Absolar, também existem agravantes somadas a isso, como é o caso dos prejuízos ambientais que podem ser gerados se os painéis não cumprirem etapas mínimas de descarte.

Esse é um dos problemas que pode surgir ao longo dos próximos anos, já que por se tratar de um investimento novo, a energia solar está em fase de crescimento e seus consumidores, em fase de testagem.

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