Por Fernanda Machado e Hana Backes
A formação de uma criança exige muito de uma família. É necessário um preparo financeiro, psicológico e organizacional que começa, muitas vezes, antes do seu nascimento, e dura um tempo indeterminado. A família precisa se dedicar integral e totalmente para essa nova vida que chegou, porém, nem todas as famílias são iguais.
Quando a pergunta é como se compõe uma família, a resposta costuma sempre ser a mesma: dois adultos, encarregados da tarefa de serem os pais, e seus filhos. Essa é a estrutura familiar mais comum em todo o mundo, mas não é um privilégio para todos. Segundo dados do Portal da Transparência do Registro Civil, entre 1º de janeiro de e 30 de abril de 2023, 859.441 crianças nasceram no Brasil, mas 59.352 não têm a figura paterna presente em seu registro civil, esse dado dá quase 7% de todos os nascimentos registrados no mesmo período. As mães solos, que exercem a maternidade sem auxílio dos pais, chefiam 87% das 12,7 milhões de famílias monoparentais no Brasil, como informa o Boletim especial de 8 de março do Dieese com dados do IBGE. Quando as tarefas que normalmente correspondem a duas pessoas recaem apenas sobre uma, tudo se torna muito exaustivo, e aí começam os desafios.
Os desafios
Os desafios no dia a dia das mães solo são muitos. As tarefas domésticas se misturam com as outras funções de ser profissional e chefe de família, e isso gera uma sobrecarga. Conforme o boletim especial de 8 de março do DIEESE, com dados do IBGE, que fala sobre as dificuldades das mulheres chefes de família no mercado de trabalho, do total da força de trabalho no Brasil, 44,0% eram mulheres, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PnadC), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o 3º trimestre de 2022. Se para as mães as dificuldades focam em se desdobrar entre dona de casa, profissional e mãe, para os filhos a situação social é a que mais dificulta a vida.

Augusto Carrão, mais conhecido por Tinho, informa que apesar de nunca ter faltado nada em sua casa, como amor e companheirismo, crescer sem um pai deixou mágoas. “Minha mãe sempre se esforçou para que eu tivesse tudo, sempre tive o apoio emocional que precisava, mas sentia falta de algo mais social. Não sabia como me machucava, mas sabia que a dor existia”, lembra.
Augusto é estudante de Jornalismo e conta que as responsáveis pela sua criação foram a mãe e a avó. Enquanto a mãe se dividia entre dona de casa, mãe, estudante universitária e profissional, a avó era a rede de apoio. Aquela pessoa que ficava em casa cuidando do neto para a filha poder trabalhar e estudar. Porém essa não é a realidade da maioria das mães solo.
Conforme os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, 59.352 crianças nasceram no Brasil sem o nome do pai na certidão de nascimento, no primeiro bimestre deste ano. Esse dado dá quase 7% de todos os nascimentos registrados no mesmo período. Fizemos um levantamento nas em cinco cidades da região de Passo Fundo e na região Sul. Abaixo pode conferir os resultados:
Augusto Carrão declara que crescer sem um pai não foi a melhor experiência da sua vida, principalmente no dia dos pais. Ao contrário das crianças que não tiveram o nome do pai na certidão de nascimento, Tinho foi registrado pelo pai. “Eu tinha uma imagem, um nome, mas eu não tinha um pai”, informa.

Conforme a Assistente Social e professora do curso de Serviço Social e do Programa de Pós Graduação em Envelhecimento Humano, Cristina Fioreze,esse abandono parental é atribuído à sociedade machista em que vivemos. “Uma vez que o pai se separa da mãe, ele entende que a responsabilidade de criar e cuidar do filho é da mãe, uma vez separado da companheira acontece essa separação do filho consequentemente”, declara.
Augusto lembra que na infância até tinha algum contato com o pai, porém conforme ele foi crescendo, e tendo maior entendimento da sua situação, a relação com seu pai mudou. O que na infância tinha na figura paterna a imagem do herói, o imaginário caiu quando percebeu que não teria o pai presente e que essa situação não iria mudar. De herói a vilão e figura paterna se transformou.
Quando Augusto ingressou na faculdade, decidiu cursar Matemática, e seu pai decidiu ajudar financeiramente com um valor que ele conseguia pagar o curso. Porém, quando decidiu mudar de curso, o valor não aumentou, e hoje é só um complemento à mensalidade.
Renda
No mesmo estudo do DIEESE, que fala sobre as dificuldades das mulheres chefes de família no mercado de trabalho, os arranjos mais vulneráveis são os da chefia feminina com filhos sem cônjuge, principalmente porque a renda do trabalho do domicílio e a renda per capita foram as menores entre os arranjos analisados. No 3º trimestre de 2022, esse tipo de arranjo somou 11,053 milhões de famílias, 61,7% chefiadas por negras (equivalente a 6,8 milhões) e 38,3%, por não negras (que representavam 4,2 milhões). Em termos de rendimento, 22,4% das famílias monoparentais chefiadas por mulheres não tinham rendimento do trabalho; 25,6% ganhavam até 1 salário mínimo; e 22,3%, entre 1 e 2 salários.
Conforme Cristina , a quantidade de políticas públicas existentes, para auxílio financeiro e social das mães solo, ainda é insuficiente, mas as existentes estão auxiliando na independência financeira e social das mães solo. Uma política pública que ajuda muito na independência das mulheres é o Bolsa Família. “Normalmente o Cadastro Único, que dá direito aos benefícios sociais do Governo Federal, é feito em nome da mulher. Pois se caso houver uma separação do companheiro, o benefício está no nome da mulher, que pode auxiliar no sustento de sua família”, conclui.
