Baixos Índices de Vacinação Causam Preocupação

É uma relação de causa e consequência: a baixa procura por vacinas pode trazer de volta doenças já erradicadas.

Reportagem: Eliana Presser, Luís Felipe Rodrigues e Ana Laura Piana, Infografia: Eliana Presser

A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, no início do mês de maio, o fim da emergência sanitária causada pela COVID-19. A pandemia durou três anos, infectou mais de 750 milhões de pessoas no mundo e ceifou a vida de quase 7 milhões em escala global. O Brasil, o sexto país com maior número de casos e segundo com maior número de mortes, perdeu mais de 700 mil pessoas das mais de 37 milhões que se infectaram com a doença, segundo dados da OMS.

Já a Pandemia de H1N1, que ocorreu em 2009, durou 1 ano e 4 meses, atingiu mais de 650 mil pessoas no mundo e pouco mais de 18 mil morreram pela doença. O Brasil foi exemplo de combate ao vírus, trabalhando na distribuição de vacinas e tratamento dos infectados. À época, foram quase 60 mil pessoas infectadas no país e 2 mil mortes, segundo a FioCruz. 

Ambas as doenças possuem vacinas oferecidas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde, mas a vacinação tem sido deixada de lado pela população brasileira. Um exemplo disso é a vacinação contra a COVID em Passo Fundo. Enquanto mais de 180 mil pessoas se vacinaram com a 1ª dose, a 4ª dose, ofertada gratuitamente, não chegou a 35 mil aplicações.

Segundo a médica infectologista Cristine Pilati, que é diretora de Governança Clínica do Hospital São Vicente de Paula (HSVP) de Passo Fundo, a baixa procura pelas vacinas pode aumentar as internações dentro dos hospitais, além de aumentar o número de casos confirmados. “Se torna muito preocupante para os casos de doenças respiratórias, isso prevendo o inverno que ainda nem começou, mas que vai chegar. As emergências já estão sentindo essa pressão”, explica.

Na opinião da médica, a desinformação em torno das vacinas contra a COVID, por exemplo, influenciou as pessoas a deixarem a vacinação, no geral, de lado. “A desinformação da vacina contra COVID contribuiu, com certeza, para que as pessoas não fossem mais buscar outras vacinas”.  

A médica Cristine Pilati já foi Secretária de Saúde de Passo Fundo. (Créditos: Eliana Presser/Nexjor)

Vacinação Infantil

Além de não se vacinarem, pais e responsáveis também têm deixado de vacinar as crianças. Isso se reflete no índice de vacinação infantil contra a Influenza: menos de 5% das crianças de até três anos fizeram a vacina, de acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde.

“O indivíduo tem que estar conscientizado para buscar a vacina e aqui vai um alerta aos pais, porque a criança não tem essa consciência, então o pai e a mãe precisam ter essa noção de levar a criança a se vacinar”. Durante a pandemia, muitos pais deixaram de vacinar seus filhos por diferentes motivos: falta de acesso, medo, desinformação, e isso pode acarretar em diversos problemas presentes e futuros para essas crianças. “Não só COVID e Influenza, mas estamos em risco de ter surtos por doenças que já estavam controladas”, explica a médica, referindo-se ao retorno de doenças como a paralisia infantil e o sarampo, ambos considerados erradicados no Brasil.

Investimentos em educação são considerados por Cristine como o ponto chave para o retorno da vacinação em massa no país. “Principalmente a educação da população, estímulos para as pessoas se vacinarem, combater as ‘fake news’ sobre as vacinas, esclarecer a população, ampliar horários de vacina e trabalhar os ‘Dias D’, que são as campanhas multivacinação”, avalia. 

Influenza tem baixa procura

Em Passo Fundo, apenas 37,8% da população prioritária está vacinada contra a Influenza, um número abaixo do esperado. Devido a isso, a cidade decidiu abrir a vacinação para todos os públicos. Crianças de seis meses a seis anos se encaixam como grupo prioritário e são o grupo com menor cobertura, apenas 17,60% dos 14.949 aptos estão vacinados. Em Carazinho a cobertura vacinal é de 42%, porém novamente a cobertura da população infantil é de apenas 23,13%.

Erechim é, das cidades da região, a que possui os piores índices: somente 29,86% da população alvo se vacinou, das 42.784 pessoas aptas, apenas 12.154 se vacinaram até agora. Entre o público infantil, a situação piora, pois das 6.795 crianças que eram esperadas a se vacinarem, apenas 650 doses foram aplicadas, número que é de menos que 10% do público esperado nesta faixa etária.

Em Soledade, 40% do público esperado já se protegeu contra a gripe. Por fim, no município de Marau, são apresentados os melhores números da região na vacinação contra a gripe: 49,35% do público esperado se vacinou. Entre as crianças também os números são superiores às demais cidades da região: 30% das crianças estão protegidas contra a gripe.

Na região, o número total é de 39,32% das pessoas aptas já vacinadas, dado inferior ao que era esperado. Ao todo, foram vacinadas 73.988 pessoas das 189.619 esperadas. Quanto ao público infantil, somente 18,53% do público alvo já foi vacinado.

Vacinas Disponíveis

A vacinação contra Influenza em Passo Fundo iniciou há quase dois meses e está aberta ao público geral desde o dia 15 de maio, além dos grupos prioritários anteriores.

A vacina Bivalente contra a COVID está disponível para todas as pessoas acima de 18 anos em Passo Fundo, e as vacinas monovalentes ainda estão sendo ofertadas. A bivalente é a segunda geração de vacinas contra a COVID, que foi adaptada para a variante ômicron e suas subvariantes, as quais atualmente prevalecem no Brasil e no mundo. Pela recomendação da Secretaria Estadual de Saúde, a imunização nos municípios é feita conforme a disponibilidade de doses. 

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