O trabalho começa antes da abertura do comércio, às 8 horas 30 minutos e segue até as 18 horas. Sol, chuva, frio ou calor, eles estão lá – às vezes tímidos – com as mãos estendidas, alcançando panfletos aos passantes. A rotina de quem trabalha com a enfrentar panfletagem é dura, mas suportar as variações do tempo em pé não é tão ruim quanto a falta de paciência das pessoas, que, às vezes, fingem que eles não existem.
Paulo Cesar Chaves e Claudilene Lima conhecem as ruas e os problemas de quem trabalha no meio da correria que é o centro de Passo Fundo. Eles contaram para o Nexjor como é trabalhar com uma capa de invisibilidade.
Paulo César da jornada dupla
Paulo César Chaves trabalhava como vendedor ambulante antes de encarar as ruas com seus panfletos. Portador de paralisia infantil, aposentou-se há quatro anos, mas recebeu a proposta de trabalhar durante quatro semanas entregando santinhos de uma candidata a vereadora.
Ele não se queixa das horas em pé ou da movimentação, e, agora que as eleições terminaram, Paulo voltará a vender nas ruas. Durante a campanha política, ele recebeu R$ 200,00 por semana, agora voltará a depender das vendas. “Às vezes me sinto ignorado, mas eu levo com indiferença, não me importo. Eles precisam ter um pouco mais de educação”. A fala de Paulo reflete a realidade de todos os que precisam ir para as ruas e encarar as pessoas, com pressa ou não.
“Você tem que conquistar o público, entendeu?”
“Você tem que conquistar o público, entendeu?”, É assim que Claudilene Lima aconselha as colegas. A carioca de 46 anos tem dedicado os últimos seis meses a vestir a camisa da empresa e entregar panfletos no sinal.
A Avenida Brasil é o escritório dela. Quando o sinal fecha, Claudilene desce da calçada e entrega as ofertas de lojas e mercados para os motoristas. Há quem feche o vidro, pegue a contragosto e faça cara feia, mas ela não tem medo e mantem o bom humor. “Se as pessoas passam e me ignoram, eu não dou bola, agradeço. Eu não perco a educação porque eu acho que, se você quer ‘quebrar alguém’, é só ser educada. Você deixa a pessoa sem chão. Passavam por mim e ‘ai, eu não quero’, e daí eu dizia ‘muito obrigada, tudo de bom’. A pessoa voltava e pedia de volta, entendeu? São coisas que mudam as atitudes das pessoas,” conta a panfleteira.
A carioca que mora em Passo Fundo há 18 anos não se importa tanto com a indiferença das pessoas. Ela acha pior quando o mau humor vem das colegas, que assim como ela, dependem do público para sustentar a família. “Cada um tem os seus problemas, mas os problemas a gente tem que deixar em casa, não tem nada que resolvê-los na rua. Eu acho uma falta de respeito com as pessoas, “acrescenta Claudilene.
A mãe de família sonhava em ser professora ou modelo, mas parou os estudos na sétima série, porque começou a trabalhar aos 13 anos para ajudar a mãe. “O segredo é você não levar problemas para o trabalho, resolver em casa, não deixar tudo na mão de Deus direto e curtir a vida. Estar sempre de bem com o espelho e com a vida porque se estressar envelhece”, conta a carioca que abraçou a cidade, quando resolveu estabelecer-se aqui.
Panfletagem que incomoda
Paulo, apresentado no início da matéria, pertence a um time que incomoda. Ou melhor, incomodava. Ele distribuía panfletos políticos, fazendo propaganda com os famosos e odiados santinhos.
O vendedor ambulante e seus companheiros de trabalho provisório foram alvo de muitas reclamações nas redes sociais. O facebook deixou de ser uma simples rede social desde o momento em que as pessoas perceberam o potencial da troca de informações. É na rede que a informação de uma pessoa é disparada como pólvora, acionando a reação de outros usuários. Foi assim antes, durante e depois das eleições, que ocorreram no dia 7 de outubro. O grupo chamado “Passo Fundo – A Capital dos Buracos” foi um dos palcos para a discussão. Nele, os membros reclamavam da sujeira da cidade após as panfletagens políticas.
Nas ruas, os trabalhadores que distribuíam santinhos eram ignorados, mas, após as eleições, todos se lembraram deles. Os pátios das escolas foram inundados por imagens e propostas políticas. Dessa vez, a população não reclamou ou fez cara feia para as pessoas que entregavam o material, mas para os vereadores que contratavam os serviços e o fizeram da pior forma possível: poluindo e entupindo esgotos com camadas de papéis.
