O grande vencedor do Oscar é mais um na lista de homenagens ao cinema.
– “Fale! Fale!”
– “Não vou falar!”
Numa época em que inovações tecnológicas, como o cinema 3D, são cada vez mais celebradas, a lembrança a um grande passo da indústria dado em 1927 rende boas histórias. Filmes como O cantor de jazz (1927) deram origem ao cinema como conhecemos hoje – que une som e imagem. Os talkies, filmes falados, foram uma revolução e, durante o período de transição, muitos artistas, acostumados a não falar foram pegos de surpresa. É nessa atmosfera que se passa O artista (The artist), filme mudo e em preto e branco, que conquistou a crítica e foi agraciado pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas com o Oscar de Melhor Filme do ano.
A trama conta a vida de George Valentin (Jean Dujardin), um renomado artista de cinema mudo, que se depara com o advento do som e, orgulhoso, se recusa a mudar. Enquanto Valentin vê sua carreira decair a cada momento, Peppy Miller (Bérénice Bejo) – que foi parar na indústria cinematográfica por acaso – vive o estrelato. E é exatamente em torno disso que gira a trama: a necessidade e ao mesmo tempo a recusa do artista em falar. O que fica claro ainda na cena do início, quando Valentin está sendo interrogado por torturadores, na cena de um de seus filmes e aparecem na tela as palavras do torturador: “fale, fale”, prontamente respondido por Valentin: “não vou falar.”
O artista, ao lado de A invenção de Hugo Cabret, entra na lista de homenagens do cinema ao cinema as quais pipocaram nas telas este ano. O filme, dirigido por Michel Hazanavicius – que também ganhou o Oscar de Melhor Diretor – volta às origens da sétima arte e enche de saudosismo e nostalgia quem viveu ou conheceu os tempos áureos do cinema, o que pode não acontecer com quem busca um filme apenas para entretenimento. Apesar de ser uma trama cativante, a ausência de falas e cor pode provocar tédio em quem gosta de ação e emoção. Seguindo nessa linha, o trabalho de Dujardin e Bejo ganha destaque, já que seguram o filme com suas interpretações – tanto que garantiu a Dujardin o reconhecimento como melhor ator e deu projeção aos antes desconhecidos atores. É impossível, também, não reconhecer o trabalho do cachorro Uggie, que não passa despercebido no filme.
A trilha sonora é, talvez, o grande protagonista do filme. Afinal, é ela quem conduz a trama e prende o espectador ao que está acontecendo na tela. Apesar de todo o esforço e de toda a aclamação, O artista corre o risco de ser esquecido pelo público daqui a algum tempo, como aconteceu com o vencedor do Oscar de 2010, Guerra ao terror, que desbancou o favoritismo de Avatar, mas não provocou a mesma reação do público.
Para os saudosistas, é um prato cheio de belas cenas, combinadas com uma ótima fotografia e envolvidas em uma trilha marcante. Para os leigos, é uma pequena e bem pensada aula de história do cinema. Talvez não seja o melhor filme do ano, mas não pode ser esquecido, assim como a própria indústria do cinema não se esquece de suas origens e, a cada nova homenagem, mostra o quanto valoriza o trabalho dos que já fizeram arte apenas com um olhar e um belo e torto sorriso.
[stextbox id=”custom” caption=”Ficha técnica”]Diretor: Michel Hazanavicius 
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller, Missi Pyle, Beth Grant, Ed Lauter, Joel Murray, Bitsie Tulloch, Ken Davitian, Malcolm McDowell.
Produção: Thomas Langmann, Emmanuel Montamat
Roteiro: Michel Hazanavicius
Fotografia: Guillaume Schiffman
Trilha Sonora: Ludovic Bource
Duração: 100 min.
Ano: 2011
País: França/ Bélgica
Gênero: Drama
Cor: Preto e Branco
Distribuidora: Paris Filmes
Estúdio: La Petite Reine / uFilm / JD Productions
Classificação: 12 anos
