O direito de lutar

Se pararmos para analisar o contexto social atual, perceberemos com facilidade que, a todo o momento, existe alguma classe ou organização que torna públicas as suas reivindicações. As causas, que são várias, geralmente coincidem nos pontos de valorização profissional e melhoria salarial – um exemplo é a greve dos professores e alunos das universidades federais (que também lutam pela melhora das estruturas das universidades e por melhores condições de ensino).

De qualquer forma, e independentemente do motivo, todos esses movimentos são guiados por ideologias próprias.

Do dicionário, a palavra “ideologia” representa um “conjunto de ideias, convicções e princípios filosóficos, sociais e políticos que caracterizam o pensamento de um indivíduo, grupo, movimento, época ou sociedade”.

O termo foi criado pelo filósofo francês Destutt de Tracy, em 1801 – logo depois do fim da Revolução Francesa – e significa, etimologicamente, ciência das ideias. Mas, no decorrer da história, muitos sociólogos se preocuparam em achar uma definição adequada para esse conceito.

Karl Marx conceituou ideologia como um sistema de pensamentos, ou seja, uma forma de conceber o mundo que abrange, principalmente, seus aspectos sociais (relações entre os homens e a sua atividade). Seria uma “visão de mundo” – produto e reflexo de uma época e de uma sociedade, mais especificamente, de grupos sociais reais, expressando os seus interesses, a sua atividade e o seu papel histórico. Marx compreende ideologia como uma consciência falsa, proveniente da divisão entre o trabalho manual e o intelectual. Nessa divisão surgem os intelectuais, que passariam a operar em favor da dominação ocorrida entre as classes sociais por meio de ideias que deformam a compreensão sobre como se processam as relações de produção.

Para a socióloga Marilena Chauí, o conceito de ideologia nos tempos modernos ultrapassa, em parte, a visão de Marx, e já não classifica as pessoas em classes sociais com base unicamente em sua renda. “É, portanto, um corpo explicativo, de representações e práticas (normas, regras e preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes, uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem atribuir tais diferenças à divisão da sociedadeem classes. Pelo contrário, a função da ideologia é  apagar as diferenças, como as de classes, e  fornecer aos membros da sociedade o sentimento de identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a humanidade, a liberdade, a igualdade, a nação ou o Estado”, destaca Chauí.

Resumindo: a ideologia corresponde à união de pessoas em prol de ideias ou causas comuns. Essa união independe da classe social (A, B, C, D…) na qual a pessoa está inserida e leva em consideração apenas o seu desejo de lutar por uma causa, originando, assim, os movimentos sociais.

A ideologia e os movimentos sociais

Os movimentos sociais são ações coletivas de um grupo organizado que busca alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico, conforme explica o site GeoMundo.

Partindo da noção de ideologia como concepção de mundo que orienta a ação de indivíduos e grupos na sociedade, os movimentos sociais têm sua razão de existir, e cada um tem sua própria ideologia.

Em geral os movimentos surgem preocupados com alguma coisa, seja no sentido de lutar para garantir o que já possuem, seja para conquistar. Na antiguidade, por exemplo, os escravos se uniam para garantir melhores condições de vida, tendo como principais necessidades a liberdade e a terra para viver.

Os efeitos dos movimentos sociais podem ser vistos facilmente. Um exemplo recente é a Primavera Árabe, que mobilizou milhares de pessoas com objetivos comuns em países do Oriente Médio. A luta delas era (e é) contra os regimes autoritários e pelo direito à democracia.

No Brasil existem muitas pessoas que levantam bandeiras e vestem a camisa de diversos movimentos. Exemplos claros são os grupos LGBT, o Movimento Estudantil, o MST, dentre tantos outros. Todos eles têm o objetivo comum de lutar por uma sociedade com direitos igualitários.

[stextbox id=”custom”]

Vinicius Manoel Eckert, 21 anos.
Estudante de ciência da computação, UPF

Comecei a militar há mais ou menos um ano, durante o período eleitoral do DCE da UPF. Militei inicialmente no coletivo Nada Será Como Antes, que participou daquele processo, e, mesmo saindo derrotado, continuamos atuando na UPF até hoje participando de todas as luta. Um pouco depois da eleição do DCE, entrei na direção do Dainfo (Diretório Acadêmico de Informática) da qual ainda faço parte. Após um tempo, entrei para um coletivo nacional de estudantes, o Vamos à Luta, e também para a CST (Corrente Socialista dos Trabalhadores) tendência interna do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), ao qual também me filiei. Participei também da fundação do Plural Coletivo LGBT, que está organizando a primeira parada da diversidade na nossa região. Participo do Comitê das Lutas Sociais, que é um instrumento de unificação de todos os que querem lutar pelas causas sociais, atuando, por exemplo, na luta contra o aumento das passagens dos coletivos urbanos. E hoje estou participando da criação de um coletivo estudantil da saúde onde estamos organizando uma vivência de estudantes e movimentos sociais do VER-SUS. Participo de todos esses movimentos, coletivos e partido porque acredito que só com muita mobilização poderemos melhorar a nossa sociedade. Acredito que uma verdadeira mudança não se dá através das eleições, já que os partidos tradicionais que se alternam no poder não propiciam uma mudança verdadeira. Essa mudança só se dá através da queda do capitalismo e da ascensão do socialismo, mas que seja um socialismo totalmente democrático em que os trabalhadores governem, e não haja propriedade privada nem desigualdades. Porém, o socialismo pelo qual luto ao lado dos companheiros da CST e do PSOL e dos movimentos sociais não é o socialismo que temos em Cuba ou o socialismo que Stalin implantou na URSS após a morte de Lênin. O socialismo pelo que lutamos é o socialismo que Marx, Lênin, Trotsky e Nahuel Moreno, entre muitos outros, também lutaram, um socialismo com liberdade.

Paloma Rizzi, 20 anos.
Estudante de ciência da computação, UPF

Faço parte do movimento nacional Dia do Basta à Corrupção, que é um movimento social, de iniciativa popular, de caráter pacífico e apartidário, formado por diversos estados e várias cidades brasileiras que visa fazer manifestações contra a corrupção tanto na rede como nas ruas. Acredito que o poder de terminar com a corrupção está nas mãos do povo. De nada adianta apenas reclamarmos da situação, precisamos agir para que isso mude, através de petições e manifestações conseguimos a aprovação da ficha limpa e esse foi apenas o primeiro passo de muitos que precisamos conquistar.

Marcos Vinícius Lazzaretti, 19 anos.
Estudante de engenharia florestal, UFSM – Campus Frederico Westphalen

Eu atuo no Movimento Estudantil, faço parte do Diretório Central dos Estudantes da UFSM e da Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Florestal (Abeef). Acho importante a atuação no Movimento Estudantil, pois, além de estar contribuindo para a luta pelos direitos da classe, o ME também se insere em um nível mais amplo, que é o da transformação da sociedade, sendo sua principal atuação na atualidade a luta por um novo modelo de universidade e de educação, que seja de fato gratuita, democrática e de qualidade. Por não estar contente com o atual modelo de educação e de universidade, acredito que, atuando no movimento estudantil, darei minha contribuição para a construção de uma universidade popular e também de uma sociedade mais justa.

[/stextbox]

[stextbox id=”custom” caption=”Principais Movimentos Sociais do Brasil”]

Movimento dos Trabalhadores sem Terra – MST

É um movimento social brasileiro de inspiração marxista, cujo objetivo é a implantação da reforma agrária no Brasil. Teve origem na aglutinação de movimentos que faziam oposição ou estavam desgostosos com o modelo de reforma agrária imposto pelo regime militar, principalmente na década de 1970, o qual priorizava a colonização de terras devolutas em regiões remotas, com objetivo de exportação de excedentes populacionais e integração estratégica. Contrariamente a este modelo, o MST declara buscar a redistribuição das terras improdutivas.

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST

Surgiu em 1997 da necessidade de organizar a reforma urbana e garantir moradia  a todos os cidadãos. Está organizado nos municípios do Rio de Janeiro, Campinas e São Paulo. É um movimento de caráter social, político e sindical. Em 1997, o MST fez uma avaliação interna e reconheceu que seria necessária uma atuação na cidade, além de sua atuação no campo. Dessa constatação, duas opções de luta se abriram: trabalho e moradia.

Estão em quase todas as metrópoles do país. São desdobramentos urbanos do MST, com um comando descentralizado. As formas de atuação variam de um movimento para outro. Em geral, as ocupações não têm motivação política, apenas apoio informal de filiados a partidos de esquerda. O objetivo das ocupações é pressionar o poder público a criar programas de moradia e dar à população de baixa renda acesso a financiamentos para a compra de imóveis.

Atualmente, o MTST é autônomo em relação ao MST, mas tem uma aliança estratégica com este.

Movimento Estudantil

Movimento de caráter social e de massa, é  a expressão política das tensões que permeiam o sistema dependente como um todo e não apenas a expressão ideológica de uma classe ou visão de mundo. Em 1967, no Brasil, sob a conjuntura da ditadura militar, esse movimento inicia um processo de reorganização, como a única força não institucionalizada de oposição política. A história mostra como esse movimento constitui força auxiliar do processo de transformação social ao polarizar as tensões que se desencadearam no núcleo do sistema dependente. O Movimento Estudantil é o produto social e a expressão política das tensões latentes e difusas na sociedade. Sua ação histórica e sociológica tem sido a de absorver e radicalizar tais tensões. Sua grande capacidade de organização e arregimentação foi capaz de colocar cem mil pessoas na rua, quando da Passeata dos Cem Mil, em 1968.

É um movimento social da área da educação, no qual os sujeitos são os próprios estudantes. Caracteriza-se por ser policlassista e constantemente renovado – já que o corpo discente se renova periodicamente nas instituições de ensino.

Movimento LGBT

O Movimento LGBT brasileiro não é uma entidade, não é um órgão. Trata-se de uma série de manifestações sócio-político-culturais em favor do reconhecimento da diversidade sexual e pela promoção dos interesses dos homossexuais na sociedade brasileira. O movimento iniciou a partir da Rebelião de Stonewall – conjunto de episódios de conflito violento entre gays, lésbicas, bissexuais e transgêneros e a polícia de Nova Iorque – ; as manifestações contra o preconceito que se exercia contra as pessoas homossexuais podem ser sentidas da década de 1940 para cá, com especial ênfase a partir da década de 70, depois da abertura política. Há pouco mais de três décadas, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais do país decidiram “sair do armário” para formar um movimento organizado, cuja agenda está focada em assegurar suas identidades, seus direitos e garantias civis fundamentais.

[/stextbox]

 


Rolar para cima