
O ato físico de rir traz uma lista considerável de benefícios ao ser humano. Pesquisas recentes agregam a essa lista o bem-estar e mais resistência à dor.
Analisado por Platão como distanciador da verdadeira sabedoria e renegado pela Igreja cristã medieval segundo alegação de que Jesus não teria rido em sua vida terrena, o riso foi questionado sobre suas qualidades positivas até a Idade Média. Porém, essas ideias, anteriormente solidificadas, mudaram com o passar tempo, e um dos comportamentos humanos mais prazerosos ganhou, nas últimas décadas, espaço e importância em termos de saúde. Sim: rir faz bem!
Sem nenhuma contraindicação, o riso é utilizado como tratamento médico para diferentes complicações na saúde. A história do professor e jornalista norte-americano Norman Cousins, que superou graves problemas cardíacos seguindo à risca um programa no qual um dos itens fundamentais era assistir a comédias dos Irmãos Marx, é a prova disso.
Entretanto, apesar da prova obtida no tratamento de Cousins, um impasse ainda existia: como separar o ato de rir – esse, considerado benéfico – de uma sensação geral de bem-estar na qual o riso estaria envolvido? Uma matéria publicada pela revista Planeta, de janeiro deste ano, trouxe a pesquisa feita pelo cientista inglês Robim Dunbar, que comprovou que o ato físico de rir faz mesmo muito bem à saúde.

Como resposta psicofisiológica ao humor ou a outros estímulos, o riso exige, e muito, do corpo. Dunbar diz que “o riso é, na verdade, uma coisa muito estranha”, e por achar estranho e curioso, é que surgiu seu interesse por ele. O ato de rir abrange contrações do diafragma, sons vocais repetitivos produzidos pelas câmeras de ressonância da faringe, boca e cavidades nasais, o movimento de aproximadamente 50 músculos – principalmente ao redor da boca – e, em alguns casos, até lágrimas.
Além da questão fisiológica – liberação de substâncias que causam prazer –, o riso tem uma função psicológica e emocional, como explica a professora e Doutora em Psicologia, Ciomara Benincá: “Uma questão básica é mudar o foco da atenção. Se você está com alguma dor, problema ou desprazer, e muda o foco para algo engraçado, aquilo que antes desagradava se torna algo prazeroso. O riso tem a função de relaxar.”
Praticando o prazer
Há diferentes formas de riso. Há o riso dos vilões de ficção, risos como resposta ou troca de comprimentos e o riso induzido, chamado “polido”. Mas o riso que traz benefícios, verdadeiramente, é aquele descontraído, espontâneo; a gargalhada que contagia os demais. E é desse riso, provocado por algo engraçado, que a pesquisa de Durban surgiu.
O cientísta comandou uma equipe de pesquisadores em seis experimentos, nos quais era testada em voluntários a resistência à dor antes e depois de acessos de riso social. E os resultados foram surpreendentes: rir aumenta sim a resistência à dor. A explicação que o psicólogo evolucionário da Universidade de Oxford encontrou é que o esforço muscular que ocorre no ato de rir causa um aumento na concentração de endorfinas – hormônios neurotransmissores –, que provocam um efeito de bem-estar nas pessoas, além de fazer com que elas resistam mais tempo à dor. Pontinhos a mais ao riso!

Antes mesmo da realização das pesquisas, o riso já era utilizado como um remédio doce – aquele que não se reluta para tomar – e empregado como método de distração. Os chamados “doutores da alegria”, voluntários que se fantasiam de palhaço e vão aos hospitais contar piadas aos doentes que estão sentindo dor ou que já estão há muito tempo hospitalizados e, por isso, entediados, são os que utilizam esse remédio. Segundo Ciomara, “a intenção de fazer rir é fazer com que aquela sensação desagradável possa ser minimizada no momento em que se proporciona outro foco de atenção, que é a risada, a piada, a brincadeira.”
Segundo Ciomara, “o riso é como o bocejo ou um vírus, que vai contagiando”. Ao se propagar, ele faz com que o problema inicial seja esquecido. Outro fator positivo do riso é aproximar grupos sociais, como explica Ciomara: “Rir junto com alguém da mesma coisa faz com que eu me identifique com aquela pessoa, o que traz uma certa cumplicidade”. Mas adverte: “O riso pode aproximar pessoas, mas também pode afastar, na medida que eu posso estar rindo do outro”. Parte assim, do princípio de Aristóteles, que reconhece o riso como um ato saudável, desde que não envergonhe outra pessoa.
Rir regularmente, partilhar risadas e ajudar os outros a rir é a dica que o médico espanhol Ramón Mora-Ripoll deixou em um artigo publicado recentemente na revista Alternative Therapies in Health and Medicine. O riso, portanto, deve ser inserido ao dia a dia do ser humano – desde que não agrida ninguém – de forma saudável e proveitosa.
[stextbox id=”custom” caption=”Confira um vídeo dos Irmãos Marx e aproveite para rir!”] httpv://www.youtube.com/watch?v=T1E2NgQfEcc[/stextbox]
