Código de Conduta

O corrupto sistema judiciário é colocado em evidência em trama que, entre ação e suspense, desencadeia uma reflexão e um conflito ético no público.

Um longa que remete aos clássicos de vingança. Com um “ar” de Desejo de matar, Código de Conduta apresenta um quê a mais. Não só tiros e explosivos são utilizados pelo diretor F. Gary Gray – conhecido pelas mais de 30 direções de videoclipes musicais (Black Hand Side de Queen Latifah em 1994 e Show Me What You Got de Jay-Z em 2006). O que o diferencia é o brilhante estrategista nato que protagoniza o filme e suas artimanhas muito bem planejadas.

Logo de cara, em menos de dois minutos, dois assassinatos em uma família. Impactante porque até então o que predominava era um clima aparentemente normal: um pai trabalhando em casa, a filha ao seu lado se divertindo e a esposa, mesmo não aparecendo para as câmeras, fazendo o jantar. É o toque da campainha que dá o start da trama. Clyde, vivido por Gerard Butler (300, O Fantasma da Ópera e PS, I Love You), abre a porta e presencia sua mulher e filha serem assassinadas cruelmente por dois homens. Um dos assassinos é preso, mas ganha liberdade em virtude de um acordo feito com o promotor Nick, vivido por Jamie Foxx. É então que Clyde sente na pele a impotência diante do sistema judiciário. Não se trata do que se sabe, mas do que se pode provar no tribunal.

F. Gary Gray demonstra cuidado no sentido visual e faz bom uso de sua experiência em videoclipes quando, em uma sincronia bem sacada, duas cortinas se abrem ao mesmo tempo: uma do palco em que a filha do promotor se apresenta e outra do local onde um dos assassinos é submetido a uma espécie de cadeira elétrica. Porém, algo dá errado e a execução, que era para ser indolor, se transforma em uma incógnita. A partir daí, Clyde começa sua vingança (aliás, ele não chama de vingança, mas é como Nick e o público veem) por meio de uma incessante busca em denunciar a incoerência do sistema judicial, que permite facilmente que assassinos sejam colocados em liberdade ou obtenham penas brandas.

Em duas cenas – Clyde frente a frente com o promotor no interrogatório e em outra com a juíza no tribunal – a real situação do sistema moralmente contraditório é colocada em discussão. O personagem principal acaba tornando-se um exemplo claro de que a justiça é falha. Não contente, ser preso e assassinar seu colega de cela também fazem parte de seu estratagema. Uma ação aparentemente sem justificativa e que deixa o público perplexo, mas que vai ter um sentido no desenrolar da trama.

Clyde quer mesmo acabar com o sistema. Consegue deixar a cidade de joelhos e a situação sob seu controle. Planeja as mortes de forma sistemática, mostrando-se um estrategista nato com táticas dignas de Jogos Mortais. Como um brilhante catalisador de ideias, sabe bem como matar pessoas sem (parecer) sair de onde está, retirando um a um os peões do tabuleiro. Comportamentos que lembram palavras de Tarantino em entrevista sobre Bastardos Inglórios, seu longa mais recente: “A vingança move mais que o amor”. E, sim, Clyde faz vingança de forma habilidosa, utilizando-se das brechas e falhas do próprio sistema judiciário.

O personagem principal cita mais de uma vez o militar Carl Phillip Gottlieb von Clausewitz, que viveu entre os séculos XVIII e XIX, ocupou o posto de general e é considerado um grande estrategista militar e teórico da guerra. De fato, Clyde busca inspiração em Carl para cometer tamanhas atrocidades. Mas parece que ignora e não adota outra parte – quem sabe a mais importante – da filosofia de Clausewitz: “A destruição física do inimigo deixa de ser ética quando ele pode ser desarmado em vez de morto”. As atitudes de Clyde, que fogem dessa filosofia, desencadeiam um conflito ético no público. Afinal, será que ele está certo em querer fazer justiça com as próprias mãos?

A ideia da trama é boa, com reviravoltas, cenas angustiantes e chocantes. Gerard Butler consegue mostrar a dualidade do personagem dosando bem ação e suspense. Porém, apesar da originalidade, a trama fica comprometida em seu desfecho e perde o ritmo. Clyde passa dos limites quando começa a atingir pessoas inocentes. Fazendo um mix dos apontamentos, o longa propõe uma reflexão muito válida sobre a (ausência de) justiça diante de um cidadão comum que se vê sendo trapaceado pelo sistema.

[xrr rating=4/5] [stextbox id=”custom” caption=”Ficha técnica”]

Elenco: Gerard Butler, Jamie Foxx, Michael Gambon, Leslie Bibb, Colm Meaney, Theresa Randle, Viola Davis, Regina Hall, Bruce McGill.
Direção: F. Gary Gray
Gênero: Ação
Duração: 108 min
Distribuidora: Imagem Filmes
Estreia: 6 de novembro de 2009[/stextbox]

Trailer:

httpv://www.youtube.com/watch?v=n34wVRu0-rQ

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