Até onde é possível conviver com a ansiedade?

Elas são as primeiras afetadas.
O comportamento de quem é ansioso se reflete imediatamente na ponta dos dedos. As unhas roídas geralmente são o primeiro sinal e o gesto típico de quem se depara com o sentimento de perturbação e medo em relação ao futuro. Essa inquietação, que destrói mesmo as unhas mais fortes, tem nome. A ansiedade, companheira constante de muita gente, vai além dos efeitos físicos e passa a ser fator de influência nas atividades do dia a dia, quando se torna um mecanismo de resposta a ameaças de sentido real ou imaginário. A incerteza e o receio ao que está por vir; a busca constante por um lugar que nos traga paz e concentração; a vontade de resolver as situações o mais breve possível para que estejamos livres delas. Essas inquietações acompanham, em algum momento, a vida de todo mundo. Mas quando é hora de se preocupar com isso? Quando buscar ajuda para tratar a ansiedade?
Para a psicóloga em formação analítica, Jordana Passinatto, o sentimento de ânsia pode ser caracterizado de duas formas: ao mesmo tempo em que existe a ansiedade normal, que é bem-vinda e acompanha naturalmente o crescimento do ser humano e as mudanças de experiências, há a ansiedade patológica, que é mais intensa e duradoura. Ela explica que, num grau normal, a ansiedade prepara o indivíduo para tomar medidas necessárias e diminuir consequências negativas. Ela começa a se tornar um problema quando existe de forma exagerada e atrapalha a execução do objeto de origem da inquietação. “A ansiedade é uma reação natural e necessária para a auto-preservação. Portanto, entende-se como um fenômeno que ora nos beneficia, ora nos prejudica. Dependendo das circunstâncias ou intensidade, é que ela se torna patológica, isto é, prejudicial ao nosso funcionamento mental e corporal”, esclarece Jordana.
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– Usados no tratamento da ansiedade e da insônia, os ansiolíticos estão entre os remédios mais consumidos no país durante os últimos anos. É o que aponta uma pesquisa da Anvisa, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segundo a agência, a venda apenas de um medicamento para ansiedade saltou de 29 mil caixas, em 2007, para mais de dez milhões em 2010.
Fonte: Portal da Saúde – SUS
[/stextbox]Trabalhar com a mente pode ser a solução
Ao contrário do que muita gente pensa, esses sentimentos não atingem apenas os experientes, chegando a afetar cada vez mais a vida dos jovens. A estudante de ciências contábeis, Patrícia Pereira do Nascimento, descreve o sentimento que sentia há um ano e que a fez ir em busca de tratamento médico. O medo constante de não conseguir fazer o que se planeja, de não realizar sonhos e de não corresponder às expectativas gerou consequencias como a de fazer com que a acadêmica descontasse os medos e aflições na alimentação. “Passei a comer mais que o costume e também não conseguia dormir”, conta.
Os estudos e o trabalho também foram prejudicados. Palpitação, dificuldade para respirar, tremedeira e vontade de chorar constantemente foram alguns dos sintomas identificados por ela. “Passei a ficar mais intolerante com as coisas, não conseguia prender a atenção a nada. Comecei a ir mal na faculdade e reprovei em uma matéria. O fato de não conseguir dormir à noite também prejudicou a atenção, pois me sentia cansada durante o dia”.
Patrícia conta que não percebeu a ansiedade de um dia para outro: ela foi crescendo gradativamente. Ao buscar o tratamento, descobriu que as causas estavam ligadas ao ritmo de suas atividades no cotidiano. Com essa experiência, ela afirma que entendeu que a mente precisa ser trabalhada. “É a cabeça que manda no restante do corpo, me entupir de remédio ajudou um pouco, mas não foi suficiente. Dormia mecanicamente, não o sono que descansa. Trabalhar com os pensamentos é um processo lento. Haverá recaídas. E, por mais clichê que pareça, mudá-los, é uma das melhores saídas”, complementa.
Fuga sem motivo
A ansiedade é definida pela acadêmica de direito, Karine Volpatto, como um medo constante e afugentador – que sufoca – deixando-a em estado de alerta e, muitas vezes, não tem um objeto específico. Foi a partir disso que a jovem de 21 anos percebeu a dificuldade em prestar atenção nas atividades que vinha desenvolvendo. “Continuei trabalhando, porém consegui visualizar que eu tinha que redobrar meus esforços no sentido de tentar manter uma qualidade próxima daquilo que eu desenvolvia. Isso gerou uma situação de estresse e cansaço permanente. Assim, comecei a ter crises de choro e isso foi relevante para que eu não tivesse mais vontade de me relacionar com as pessoas, gerando uma vontade de isolamento e de muita irritabilidade”, descreve.
Vivenciando a sensação de angústia e a percepção de situações desencorajadoras, Karine procurou um médico psiquiatra que prescreveu remédio de baixa dosagem. Assim, ela começou a controlar a ânsia por meio de atitudes simples: procurou ocupar o tempo com coisas que lhe traziam tranquilidade. “Ainda, me esforcei para me integrar mais com as pessoas, amigos e conversar sobre o que sentia. Isso ajuda bastante”, lembra. Associando a preocupação com a ideia de incapacidade e de desilusão, quando nada mais se torna interessante e animador, ela conta que priorizou atividades culturais. “Ocupo o tempo com atividades como ler um livro, assistir a um filme ou ouvir músicas que falem de coisas boas. Saí do meu trabalho que já não era tão gratificante, enfim, procurei outras alternativas para mudar as coisas que eu fazia anteriormente e que me traziam angústia”, relata.
A importância de se descobrir as causas
Boa parte das apreensões vem das milhares de possibilidades de escolhas que temos e a busca constate – e muitas vezes desmedida e desenfreada – por um ideal profissional, corporal ou pessoal. A psicóloga Jordana destaca que é possível manter a ansiedade em equilíbrio na via psíquica através de terapia, levando em consideração que as causas são relativas e particulares. “É cada vez mais comum pessoas recorrerem à automedicação para eliminar qualquer tipo de preocupação”. Porém, a psicóloga alerta que é preciso saber identificar as causas originárias. “É necessário avaliação de um profissional, seja psicólogo, analista, seja psiquiatra para indicação do tratamento adequado a cada caso”, finaliza.
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A hora de estudar para provas é um dos momentos em que a preocupação chega sem pedir licença e ocupa o espaço da concentração. A psicóloga Jordana salienta que durante a atividade a pessoa se depara com grandes dificuldades para poder internalizar, apreender e compreender. Estando com um elevado nível de ânsia, as funções de atenção, raciocínio e concentração estarão prejudicadas. “A ansiedade impedirá a completa assimilação do material estudado. Em contra partida, antecedendo uma prova e diante desta, um determinado nível de preocupação estimulará o indivíduo a ficar atento”, enaltece.
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