Museus do Brasil participam da 5ª Primavera dos Museus e em Passo Fundo a programação está recheada de atividades legais
A 5ª Primavera dos Museus acontece em todo o país entre os dias 19 e 25 de setembro. Neste ano, com o tema “Mulheres, Museus e Memórias”, participam do evento 589 instituições que se empenham na produção de 1.779 atividades em 310 cidades do Brasil. A primavera dos museus acontece todos os anos no início da primavera. Muito além de um espaço de discussão da arte, também é um momento de reflexão da relação humana com ela, apontando fatos que possam ligar cada vez mais o homem à arte.
E a nossa cidade não ficou de fora! O Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, o Museu Histórico Regional e o Museu Zoobotânico Augusto Ruschi participam da programação nacional com palestras e exposições para a comunidade de Passo Fundo e região. Uma das atividades foi a palestra “É possível ver com outros olhos?” ministrada pela ex-aluna da Faculdade de Artes e Comunicação da Universidade de Passo Fundo, Aniceia Daltoé. Apresentando seu trabalho de conclusão de curso ela analisou, juntamente com o público participante, a obra “Vênus em Trapos” de Michelangelo Pistoletto. Com bases na semiótica, Aniceia mostrou que pode-se ter vários olhares diante de uma mesma obra.
A semiótica é uma área ampla e que possibilita interpretações lingüístico-visuais variadas. Na obra de Pistoletto o público visualizou muitas interpretações, sendo analisado desde a montanha de roupa e a nudez da mulher, como afirma Lúcia Santaella, estudiosa da semiótica, “seu campo de indagação é tão vasto que chega a cobrir o que chamamos de vida (…) a própria noção de vida depende da existência de informação no sistema biológico”.
Interação arte e público
Durante sua pesquisa, Aniceia conversou com o público sobre obras de arte, em especial a obra “Vênus em Trapos” de Pistoletto. Foram entrevistadas 45 pessoas entre 15 e 91 anos de idade, 27% mulheres e 73% homens, com o propósito observar as leituras de mundo, os conhecimentos prévios que interferem nessa leitura, assim, ela tentou compreender como a população não aprecia a arte contemporânea, exigindo essa uma atitude introspectiva do espectador.
Abaixo segue um trecho da entrevista realizada por Aniceia Daltoé:
“A primeira questão abordava como a arte era percebida pelo público, que sentido fazia para si, sua importância ou função no âmbito pessoal, colocando previamente ao apresentar tal questionamento que não havia preocupação com certo e errado, mas simplesmente qual era a visão pessoal sobre a arte, sendo que 38% relacionaram a arte a uma forma de expressão, seja ela de sentimentos, emoções ou pensamentos, 9% estabeleceram conexões com fatos históricos, o retratar fatos, acontecimentos e a relação destes com a sociedade, sendo que causou surpresa a resposta de um adolescente, o qual afirmou que: “(…) vejo a arte como um modo de viver após morrer” (Julio, 16 anos) deixando claro a importância das obras e dos artistas que permanecem na história. Ainda houve outros 9% que se pautaram nas relações da arte com a cultura e o aprendizado que pode acontecer por meio desta troca de conhecimentos, 4,5% dos entrevistados veem a arte como uma forma de comunicação e outros 39,5% deram respostas diversas, as quais julga-se desnecessárias suas descrições, visto que encontram-se anexadas. Dentre estas respostas cabe salientar uma delas: “Arte para mim é ver os quadros e entender as imagens”. (Alisson, 16 anos). Nesta primeira questão já aparece em uma das respostas a necessidade de buscar nas obras um entendimento, mesmo que inconscientemente. Neste momento muitos dos entrevistados deixavam transparecer certo constrangimento por ter de definir, mesmo que segundo sua visão pessoal, a arte. Para a segunda questão se fazia necessária a apreciação de uma fotografia da instalação “Vênus em trapos”, a qual apesar de ser novamente uma leitura totalmente pessoal deixava muitos dos entrevistados incomodados, procurando uma resposta que, segundo seus preceitos, pudesse ser mais “coerente”, no entanto os alertava afirmando que era justamente para apresentar a ideia que surgisse à mente a partir do que viam. Uma grande parte das respostas apontou para o fato de ser uma mulher que buscava algo para vestir em meio às roupas ou que estivesse em dúvida sobre qual escolher, sendo que 40% dos entrevistados fizeram esta leitura, variando apenas o sentido desta busca, surgindo desde uma pessoa que tinha muitas riquezas materiais e em um momento de indecisão, não sabia optar por uma peça por serem talvez inadequadas, até alguém que realmente não tinha o que vestir e por isso procurava alguma vestimenta neste monte de roupas amontoadas.”
Michelangelo Pistoletto
Michelangelo Olivero Pistoletto nasceu em 1933, em Beilla na Itália. Uma das primeiras obras que executou é a pintura “Homem em Sofá”, de 1958, que revela desde logo a sua obsessão pela imagem do homem. Já na década de 60, por influência do movimento do Nouveau Réalisme (novo realismo), fez quadros em chapa de aço polido, na qual colou imagens de figuras humanas. A chapa de aço funciona como superfície refletora onde o espectador pode se observar enquanto parte integrante da obra. Desde 1967, Pistoletto encontra-se ligado a um movimento chamado Arte Povera. O artista embarca em diversos meios, com a escultura, a pintura e a instalação.
O movimento
O movimento Arte Povera significa Arte Pobre, foi um movimento artístico italiano que se desenvolveu na segunda metade da década de 60. Seus adeptos usavam materiais de pintura não convencionais (ex.: terra, madeira e trapos) com o intuito de empobrecer a pintura e eliminar quaisquer barreiras entre a arte e o dia-a-dia das pessoas.
Acompanhe a programação:
Mavrs
No Museu de Artes Visuais Ruth Schneider você pode conferir a exposição “Cidade Imaginária” de Paulo Chimendes. O artista usa lápis preto e a imaginação para tocar os sentimentos e a criatividade do público visitante. Para conferir a matéria completa sobre a exposição clique aqui.
A exposição pode ser visitada até 16 de outubro. O Museu fica aberto de terça-feira à sexta-feira das 09h às 18h e nos finais de semana das 14h às 18h. O Museu está localizado na Avenida Brasil, número 758 e o telefone para contato é (54)3316-8586.
MHR
No Museu Histórico Regional é possível conferir a exposição “Há Cem Anos”, que foi realizada em comemoração ao centenário do prédio que abriga o Museu Histórico Regional e o Museu de Artes Visuais Ruth Schneider.
Muzar
O Museu Zoobotânico Augusto Ruschi apresenta a exposição “Curiosidades da Natureza”, que além de exposição é uma oficina de estudos sobre plantas e animais. Confira a matéria completa sobre essa exposição clicando aqui.

