SÉRIE DE REPORTAGENS: LINGUAGENS DA ARTE LOCAL – PARTE 5

Vertentes da Arte: A música e o Teatro na Perspectiva de Giancarlo

Giancarlo, músico, ator, professor e oficineiro aqui de Passo Fundo, descreve a sua jornada musical como um legado familiar. Sua irmã mais velha começou a cantar aos nove anos, introduzindo-o ao universo da música. O artista relembra dos dias deitado no chão, ouvindo LPs de Legião Urbana, Beatles e Raul Seixas com seu irmão. A cena se desenha com clareza: eles sentados diante do som, fones nos ouvidos, perdendo-se nas melodias que ecoavam em sua imaginação.

Foto: Diogo Zanatta

Embora tenha iniciado sua jornada musical com uma bateria pequena que ganhou na infância, alguns anos depois, seu interesse passou a ser pela guitarra. “Minha irmã se casou com Evandro Lazarotto, um guitarrista famoso de Passo Fundo. Morei com eles e, seguindo a influência de Evandro, tentei tocar guitarra. Anos depois, após entrar no teatro, descobri minha verdadeira paixão, o violão”, comenta o artista.

As raízes musicais de Giancarlo se entrelaçam com influências diversas. “Aos seis anos, ouvi uma fita cassete do cantor Bebeto Alves, de Uruguaiana. Isso me marcou profundamente”, acrescenta ainda que “Legião Urbana também foi uma grande influência. Na adolescência, abracei o Rock e o Heavy Metal, mas também me encantei com Bossa Nova e samba”.

A música foi um importante capítulo na vida de Giancarlo, assim como a literatura. “Minha mãe foi uma grande influência, ela saiu cedo do interior para estudar, graduou-se no primeiro curso de Letras da Universidade de Passo Fundo, e me introduziu à literatura desde a infância”, conta, refletindo sobre a influência materna. “A sua forma crítica, especialmente em suas poesias, sua maneira de enxergar o mundo, tudo de certa forma se reflete em minha obra. Muito do que consumimos na vida se manifesta na arte que criamos.”

Em 1997, o artista começou a faculdade de educação física, e mais tarde, ainda em seu período de graduação, de uma forma inesperada o teatro entrou em sua vida e a mudou para sempre. Do grupo étnico de danças folclóricas ao papel de músico no grupo de teatro da universidade, cada passo contribuiu para sua formação artística. “Tudo se entrelaça na abordagem criativa”, reflete Giancarlo.

O desafio é uma constante na vida do artista. “O processo de formação como ator não foi fácil”, revela, rememorando os dias de estagiário. “Durante quase dois anos, passamos por um intenso treinamento, que foi o pontapé inicial para mudar minha vida.” Como escritor, ele destaca a sabedoria de sua mãe, que sempre dizia que escrever é uma prática, e quanto mais você escreve, melhor se torna na escrita. O artista observa esse princípio refletido em seu trabalho autoral.

Ele ressalta como a ideia de escrever um livro surgiu da necessidade de encontrar algo sobre musicalização que não tinha encontrado na literatura. Então, escreveu sobre a “personificação da melodia e da poesia, que quando se entrelaçam, formam uma canção”. Essa é essencialmente a temática de sua obra “Poesias de Cantar Histórias”.

A cultura de Passo Fundo e região influenciaram muito na forma como o artista vê a sua arte, e apesar de nunca ter sido frequentador de CTGs, nem acompanhar muito a cultura gaúcha, o seu pai sempre foi desse meio. “De certa forma, acredito que essas influências acabam refletindo na forma como vemos o mundo e a arte num geral”, comenta Gian.

Além das influências locais para suas obras, ele destaca o atual apoio às políticas culturais, especialmente através de editais como o Funcultura. Locais como o Teatro Municipal Múcio de Castro e o SESC desempenham papéis cruciais na promoção de eventos culturais locais. Desafios persistem para artistas que buscam viver de suas criações autorais, mas Giancarlo destaca movimentos como a “Toca do Ratão” e o Rito espaço coletivo, proporcionando plataformas vitais para músicos locais. Para Giancarlo, a arte é uma reflexão, um convite para questionar a sociedade, a política, as guerras e conflitos diários.

Sua jornada, repleta de experiências musicais, teatrais e literárias, cria não apenas um legado, mas uma rede de expressões artísticas, alimentando múltiplas direções que fluem como vertentes de um rio criativo. Em um mundo onde a cultura é a ponte que conecta passados, presentes e futuros, Giancarlo busca continuar gravando suas músicas autorais e registrando suas obras. Para ele, é crucial deixar um registro do trabalho, assegurando que a fonte nunca se esgote e que novas direções sempre possam emergir.

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