Duda, os irmãos Couto e as desilusões

“Quem um dia irá dizer que existe razão quando se escolhe essa profissão?” Duda, Anderson e Emerson e a vida de jornalista como ela é.

Duda Rangel é um jornalista desiludido, profissional e amorosamente. Através do blog Desilusões Perdidas ele expressa – com humor e críticas – seus pontos de vista sobre o dia-a-dia da profissão. Duda pode ser considerado um típico profissional do Jornalismo, mas ele não é. Duda Rangel não passa de um personagem, criado pelos gêmeos Anderson e Emerson Couto, que uniram suas duas paixões, jornalismo e humor, para a criação da página que conta a vida do jornalista como ela é.

Os irmãos Couto são paulistas de Santo André, graduados em Jornalismo pela Universidade Metodista de São Paulo e já somam 20 anos de profissão. Emerson e Anderson têm uma carreira profissional e acadêmica parecidas. Os dois já passaram pelo Jornal O Estado de São Paulo, realizaram trabalhos em comunicação corporativa e escreveram diversas outras publicações. Hoje, os gêmeos atuam como jornalistas independentes, comandando o blog Desilusões Perdidas e fazendo parte da equipe de roteiristas do programa de humor Sensacionalista, do canal Multishow.

Em 2012, o blog que conta os encantos e desencantos da profissão, ganhou uma versão impressa, “A vida de jornalista como ela é”, e durante a Semana Acadêmica da Faculdade de Artes e Comunicação, os jornalistas bateram um papo com os acadêmicos. O Núcleo Experimental de Jornalismo aproveitou para conversar com os gêmeos.

Sobre o blog

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Imagem utilizada no blog para indicar ‘Duda Rangel’.

Os motivos para a criação do blog “Desilusões perdidas” foram basicamente a união de duas paixões dos irmãos, o jornalismo e o humor, combinação que em jornais convencionais não eram muito aceitas.

“O blog entrou no ar em janeiro de 2009, sendo que começamos a escrever no final de 2008. Nós sempre gostamos de escrever textos de ficção, por mais que seja um blog sobre jornalismo, ele não é um blog jornalístico e sim de ficção” conta Emerson. A vivência de 20 anos em jornalismo diário, foi um dos fatores que levaram os irmãos a criação da página. Emerson diz ainda que “por ser um blog de ficção, precisávamos de um personagem, um narrador para contar as histórias e foi assim que criamos o Duda Rangel. O blog no começo era só para amigos e aos poucos foi crescendo e ampliando nosso público.”

A família e a escolha pelo jornalismo.

A relação da família com a escolha do jornalismo, não foi problema conta Anderson: “A gente teve bastante sorte nesse ponto, os nossos pais foram tranquilos. Deve ser, porque temos um irmão mais velho que é engenheiro, talvez por causa disso o jornalismo já estava liberado” brinca o jornalista.  Além de apoiar na escolha da profissão, Anderson diz que inclusive em todas as loucuras realizadas pelo jornalismo, eles receberam apoio.

As inspirações

“Tem muitas pessoas que trabalharam com a gente, chefes, que ajudaram muito, então admiramos eles. Para o blog, tivemos algumas referências de humor, Veríssimo, mesmo o humor de televisão, Casseta & Planeta, Monty Python, Nelson Rodrigues, a gente sempre consumiu muito isso. Então esses caras que foram os responsáveis pela gente gostar de escrever humor e o que fazemos hoje.” Já para o jornalismo em si, Emerson diz que o grande responsável, foi ter o contato com o produto e não do que por uma pessoa.

Transmitindo a informação de forma diferenciada

“As pessoas tem muito medo de ousar, fazer coisas novas, leves, porque acham que não vão funcionar. Mas tem que se experimentar! As vezes a gente consegue um tipo de linguagem mais atraente” Anderson e Emerson contam que como trabalharam em muitos lugares, o tipo de linguagem utilizada variava, mas usar o humor sempre foi um problema.

“Quando a gente entrou no Estadão, éramos recém formados e gostávamos de escrever humor, porém o jornalismo é uma coisa séria, ainda mais no Estadão que é um jornal conservador, então não tínhamos como usar o humor no nosso dia-a-dia. Eu acho, que o Estadão foi uma experiência legal, vivemos o jornalismo diário e essas histórias que a gente conta hoje, muitas vieram dessa época. Eu nunca me senti censurado” declara Emerson.

O jornalismo atualmente

Adaptação é para Anderson a palavra que define o jornalismo de hoje. Com um novo perfil de leitores e novas formas de passar a informação à diante os profissionais estão tendo que se moldar às transformações. “O jornalismo como um todo está passando por um processo de mudança muito grande, principalmente o jornalismo tradicional; impresso. Já o jornalismo online ele é muito novo ainda, começou na metade da década de 90, está sendo testado e ainda pode mudar muito. O importante é que a essência do jornalismo vai continuar, sempre vai ter gente atrás de informação, o bom texto vai persistir em qualquer plataforma.”

Para ele, além de uma transformação tecnológica, há uma questão econômica que muda a forma de encarar a profissão. “Vai sobreviver quem conseguir se adaptar melhor, mesmo sendo um grande jornal ou um jornalista.”

Jornalismo e literatura

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“Ser jornalista e não ser louco é uma contradição genética.” Che Guevara. No livro, são usadas epígrafes a cada início de capítulo.

Outra união realizada pelos irmãos, foi a do texto jornalístico com a literatura. Independente do que e como, os gêmeos Couto, dizem escreverem diversos gêneros: “texto corporativo, texto ficcional que é o mais literatura, escrevemos roteiro de tv. A gente escreve tanta coisa, mas é tudo texto, a palavra escrita e é isso que a gente gosta muito.”

Duda, os irmãos Couto e as desilusões

– Algum de vocês já sofreu as desilusões do Duda?  “Os perrengues da profissão acho que são comuns a muita gente, essa coisa de ralar pra caramba desde o começo da profissão, como estagiário e mesmo depois que você não é mais estagiário você fica ralando, então isso é uma coisa normal. O Duda é assim, tem 43 anos, mais ou menos da nossa faixa etária, e a gente já passou por alguns momentos da nova profissão que ficamos cansados, queremos mudar, isso a gente já passou muito. Muitas histórias do blog são situações que a gente já viveu, histórias de amigos, coisas que a gente ouviu, mas sim, tem muitas experiências nossas ali. Muitas situações difíceis que o Duda enfrenta, a gente já enfrentou, dá uma desanimada às vezes mas também tem as coisas legais, então tem muita coisa nossa lá sim.”

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