Talvez a vida se resuma a acordar de manhã cedo e enfrentar o frio extremo do sul ou o calor estridente do litoral, nem sempre com o pé direito, vestir-se, sair de casa, esperar o ônibus ou ir de carro – até mesmo a pé. Mas de um jeito ou de outro, o trânsito estará presente. Chegar no trabalho, cair na rotina, sair do trabalho. Alguns, com jornada tripla, ainda têm aula para enfrentar. Chegar em casa. Comer, dormir. Acordar, e começar tudo de novo.

Mesmice. Resumir a vida à rotina não faz parte da tática do “poeta das periferias” Sérgio Vaz. Morador e apaixonado por Taboão da Serra (SP), encontrou na poesia um modo de avivar uma comunidade. Eleito pela revista Época, no ano de 2009, uma das 100 pessoas mais influentes do Brasil pode ser considerado o criador, da maior demonstração de poesia viva no país: o Sarau da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia), evento que transformou um bar da periferia de São Paulo, em um centro cultural, e que reúne toda semana aprendizes de poetas – moradores da favela – para ouvir e falar poesia. Sérgio Vaz encontrou, por meio das palavras, poder. Sim, poder, porque é por meio delas que ele demonstra sua paixão e sua indignação. “Literatura, pão e poesia” traz histórias reais, contadas por olhos cidadãos.
Indignado com a política do país, indica para as eleições um “atestado de antecedência”, um Currículum Vitae, porque todo cidadão quando procura um emprego, precisa deixar suas informações à disposição do empregador. No caso da política, quem são os empregadores? O povo. Então porque não receber em casa um currículo dos candidatos? Seguindo a linha da jornalista Eliane Brum, no livro A Vida que Ninguém Vê, o poeta vira-lata, como se autodenomina, retrata histórias de grande relevância, que geralmente são esquecidas. No caso, da periferia do Estado de São Paulo.
Mas para comprovar que nem só de poesia vive uma comunidade, nos confins, arredores e subúrbios estão na mídia no ano de 2013. As manchetes anunciam: “Testemunha revela nova versão para homicídio na periferia”, “Aluguel sobe em áreas da periferia de SP”, “Tuberculose, uma doença de periferia” e a sempre lembrada política, não a que colabora com as melhorias necessárias, mas a que explora o voto: “PT perde apoio na periferia paulistana, seu ‘núcleo duro’ eleitoral”. Mais uma vez, esta triste realidade é salva pela poesia: “Vai chover livro na periferia!”.
A literatura periférica de Sérgio Vaz vem em forma de crônicas – mas sem perder a essência da poesia – estimular a inclusão. Seus textos mostram uma forma diferentes de enxergar e analisar as situações. Ele escreve para o povo. Para o pedreiro, a doméstica, a secretária. E com sua forma de escrita transformou a periferia em um espaço de cultura. “A periferia nunca esteve tão violenta: pelas manhãs é comum ver, nos ônibus, homens e mulheres segurando armas de até quatrocentas páginas. Jovens traficando contos, adultos, romances. Os mais desesperados, cheirando crônicas sem parar.”.
