ROCK IN RS

13 de julho, O Dia do Rock, visto de um jeito diferente: pelos olhos das bandas independentes da região.

Em meio à uma sangria de “tchus e tchas”, nós ainda ouvimos os gritos do “iê-iê-iê”. Mesmo aqui, no interior do Rio Grande do Sul, esses gritos também ecoam e tem espaço nesse Raio X do Rock. Vamos avaliar, como médicos apaixonados, esse nosso velho paciente Rock’n Roll. Ele já andou por longos caminhos com sua armadura de Iron man. Já fez do seu jeito, viajou em submarinos amarelos, subiu a escada para o paraíso e bateu em sua porta. Percorreu a estrada para o inferno. Esse idoso tem muita história pra contar! Em toda trajetória há mudanças, no tempo, na estrada. As vezes chove, as vezes faz sol, transformando a atmosfera e desbotando as cores com o passar dos anos. Quão debotado está nosso velhinho?

Para a Lady Newton, pode faltar incentivo, mas amor ao rock não falta.

Cleiton Gonçalves, o Nudo, guitarrista da Lady Newton de Serafina Corrêa, acredita que as cores do senhor clássico ainda estão bem vivas. “O rock vem de uma legião de músicos que podemos chamar de “lendas” que influenciaram o próximo e assim por diante, mas chegou a um ponto que não sei mais se podemos chamar de rock. Há tantos sintetizadores e efeitos que descaracterizaram aquele rock de qualidade. Mas ainda tem muitos rockeiros de raiz criando e ramificando o verdadeiro rock clássico.” A banda está formada há um ano e dois meses e nem pensam em desistir.

Apesar de todas as influências que causaram mudanças no estilo musical do rock’n roll cru enquanto ele percorria seu longo caminho, é possível perceber um resgate dessa história. Quando uma banda, no ano de 2013, sobe no palco e começa a tocar a introdução inconfundível de Come Together, ou então nada mais nada menos que Blowin’ In The Wind, não é de arrepiar?! Essas músicas – Beatles e Bob Dylan, respectivamente – fizeram sucesso na década de 60, em uma explosão político-cultural, revolucionária e visceral na busca pela libertação do corpo e da mente. No berço dos 60 nascem as lendas sucessoras de Elvis, inspiradas em seu estilo divertido, copiando seus acordes na guitarra, seu ritmo e muitas vezes seu visual. Aquela juventude revolucionária, que tinha na mochila elementos da geração Beat e Hippie, tomou força. Com suas bandeiras na contramão da sociedade, puxaram pela mão quem estava encima do muro e nadaram contra a corrente numa nova esquerda da época. O rock era mais do que apenas música, ele era uma forma de ser, era o grito de uma geração que iria ecoar por muito tempo.

[stextbox id=”custom” caption=”Origem do Dia do Rock”]O bom e velho Rock’n Roll está de aniversário. Mas por que 13 de julho é considerado Dia Mundial do Rock? Vamos descobrir!

O show do Live Aid, que ocorreu ao mesmo tempo em Londres (Inglaterra) e Filadélfia (Estados Unidos), no ano de 1985, tinha como objetivo principal o fim da fome na Etiópia. Organizado por Bob Gedolf, o festival contou com a participação de monstros do rock como The Who, Led Zeppelin, Queen e Paul McCartney. Os shows foram transmitidos para diversos países, abrindo os olhos do mundo para a miséria africana. Em 2005 Bob organizou o Live 8, que foi uma segunda edição do evento. Nele o grupo Pink Floyd tocou junto, depois de 20 anos de separação. Desde então, 13 de julho ficou conhecido como Dia Mundial do Rock.[/stextbox]

MUITOS ANOS DE VIDA?

O rock no final dos anos 50 já havia passado de rejeitado a aceito socialmente, não era mais o rebelde sem causa, porque em tudo se pode pôr um rótulo. Mas será que nosso velhinho ainda vai comemorar muitos aniversários?

A banda Cães de Aluguel tem 3 anos de estrada
A banda Cães de Aluguel tem 3 anos de estrada

Vinícius Heuerter, guitarrista e compositor da banda Cães de aluguel de Carazinho, mesmo lamentando as influências, quer comemorar o dia do rock por muitos anos. “Gostaria que sim. Mas a mídia enfia “goela abaixo” da população uma cultura esdruxula que a maior parte da população absorve, ficando cada vez mais difícil o rock competir com isso. Cabe aos fãs mais antigos passar esse legado aos mais novos. Mas o rock é forte, já tomou muita paulada desde que surgiu e continua ai.” Para ele, quem faz rock, faz por amor. “Infelizmente, hoje, é muito complicado tocar, pelo simples fato de não valorizarem as bandas e a remuneração dada as mesmas é mínima.”

A banda está há 8 meses fazendo rock'n roll.
A banda está há 8 meses fazendo rock’n roll.

Apesar de muito bajulado atualmente, o estilo não é visto da maneira como os músicos gostariam. Talvez porque o modismo tenha tomado conta ou porque com tantos anos de história o estilo ficou vulnerável à mudanças, assim como tudo que percorre um longo trajeto. Para o Anderson Foschiera, guitarrista da Black Sheep White Monkey de Sarandi, o espaço para as bandas da região está escasso, mas ainda vive. “Existem cada vez menos lugares voltados para o público do rock, mas ainda que existem alguns lugares, sempre tem. Quem gosta de rock, nunca vai deixa-lo morrer.” Para ele, o ritmo não só proporciona o prazer aos ouvidos, ele une as pessoas porque as aproxima de alguma maneira. “Quem de vocês que gosta de uma banda nunca foi puxar papo com alguém que também gosta?”

NO BIDÊ

Em meio ao frenesi do momento, Carlinhos Carneiro, vocalista da banda bidê ou balde, após um show em Passo Fundo, deixa transbordar o prazer e a verdadeira face de quem gosta mesmo do estilo. “Quem gosta de Rock, gosta de Rock pra sempre. Não é um grupo de pessoas que vai atrás de um modismo. É um estilo que já tem mais de 50 anos, não tem mais o que se duvidar, não tem que se pensar que um dia vai deixar de existir.”

Bidê ou Balde em Passo Fundo no dia 5 de julho.
Bidê ou Balde em Passo Fundo no dia 5 de julho.

A banda, que está lançando um novo disco, com certeza tem muito para comemorar, junto com o aniversariante do dia. Quanto a outros estilos, ele não deixa dúvidas: “O sertanejo puro é um ritmo antigo e bonito, super melodioso. Todos esses ritmos novos, sei lá, eu até torço pra todos eles durem também, mas as vezes é só um modismo. Mas não importa, eu acho que tem espaço pra todo mundo.”

A banda estará em Carazinho no dia 3 de agosto.
A banda estará em Carazinho no dia 3 de agosto.

A vida é corrida para quem tem shows marcados todas as semanas, mas é isso que a maioria das bandas almejam, além de tocar o coração do público, elas querem ser reconhecidas. O preconceito por parte de quem curte rock para com as bandas novas e de outros estilos é visível nas redes sociais, festas e mesmo nos grandes festivais como Rock in Rio, onde artistas de outros estilos são muitas vezes vaiados. Para o vocalista da Bidê, preconceito é bobagem. “Nós somos jovens e velhos demais pra ficar rotulando pessoas e ser preguiçoso na hora de falar de um determinado tipo de trabalho ou de realidade com um simples rótulo. As coisas são bem mais complexas do que isso. Então é sempre bom deixar passar pela cabeça antes de falar bobagem.”

[stextbox id=”custom” caption=”COMO SURGIU O ROCK?”]Digamos que uma de suas sementes foi a música negra, que veio nas mãos dos escravos para a América. No silêncio do pós-guerra dos Estados Unidos, se ouvia aos poucos uma batida diferente e mágica. A outra semente foi o Blues, fusão entre a música negra a europeia. Formou-se então a principal base da revolução sonora da década de 50. No entanto, o estilo se concretiza quando a dança e as guitarras elétricas entram em cena, com uma variação do Blues. O rhythm and blues surgiu como uma vertente negra do rock. Houve então a fusão deste com a música branca da América, o Country. Foram dois gritos de lamento, vindo de lugares diferentes, que se unem para formar um só. Fruto do pós-guerra e da contracultura, com revolta dos jovens ao contexto social da época onde o consumismo emergia como um deus em meio às trevas. Levantando uma forte contestação e uma legião revolucionária, o Rock and Roll vem ao mundo.

“Eu vivi uma vida que foi cheia. Viajei por cada uma e por todas as estradas. E mais, muito mais do que isso, eu fiz do meu jeito.” E o fez muito bem! Pode-se dizer que o rock nasceu nos Estados Unidos, mais precisamente, na cidade de East Tupelo, no Mississippi. Mais precisamente ainda, ele nasceu dentro de um jovem, cheio de charme desde os cabelos negros, passando pelo gingado da cintura, até a destreza dos pés em seus passos que encantavam os olhos de qualquer um. Com a voz rouca, guitarra, dançando como um doido até suar, levando traços visíveis da cultura negra para o palco. Talvez por isso considerado o iniciante dos iniciantes, mesmo tendo surgido influenciado pelo som dançante de Bill Hale, e acompanhado de Chuck Berry. Sem dúvidas, o Rock tem Presley no sobrenome.

Elvis Presley não era apenas mais um garoto comum. Em 8 de janeiro de 1935, ninguém poderia imaginar, mas o bebê que nascia no norte da América se tornaria uma lenda da história do Rock And Roll. Mais do que isso, se tornaria seu pai. Seria coroado para o resto dos tempos como O Rei do Rock. A música Country e o Blues, que invadiram sua mente durante a juventude, formaram a base do que viria a ser o estilo musical de Elvis. Com a guitarra na mão e sua voz inconfundível e extremamente marcante, ele conseguiu chamar a atenção de Sam Phillips, dono de um estúdio musical. Em 1954, o Rei do Rock começa sua carreira profissional. Ele influenciou grandes nomes que viriam a estourar nos anos 60, como os Beatles. Sua voz é tão marcante que hoje ouvimos duas palavras da música e não temos dúvida: É Elvis![/stextbox]

MENINAS NO ROCK

Em 2010 foi lançado o filme The Runaways, contando a trajetória da banda.
Em 2010 foi lançado o filme The Runaways, contando a trajetória da banda.

No início da década de 70, o som de Suzi Quatro ecoava na Europa e Austrália. Em sua terra natal – EUA – Suzi não fez muito sucesso, mas influenciou o que viria a ser uma lenda feminina do rock: The Runaways. A ideia de Joan Jett de criar uma banda só de meninas deu muito certo! As garotas fizeram shows na Califórnia e turnês nos Estados Unidos e Japão, cantando sucessos como Cherry Bomb e Queens of Nois. Porém, a banda durou pouco tempo, terminando talvez antes de atingir o auge. O começo da descida foi dado pela vocalista Cherrie Currie que resolveu largar a banda. Joan assumiu o vocal e chegou a tocar com a banda Ramones, mas a The Runaways não resistiu. Em 1978, lançaram seu último disco.

O futuro repete o passado, as figuras podem mudar, mas a vertente geralmente não muda. A Estação do Rock, Banda de Nonoai, é formada só por meninas, assim como foi a The Runaways há 40 anos atrás.  A banda tem integrantes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina e está nos palcos há dois anos. Com bases sólidas, a guitarrista Manuella de Morais deixa claro que, o que começou ao acaso, agora é coisa séria, e mostra a que vieram. “Temos como influência o propósito estabelecido desde o princípio da manifestação do rock and roll, mostrar através da música nosso conceito sobre a sociedade e o mundo. O rock é uma estrada que pode levar a vários lugares, e acredito que muitos deles ainda são inexplorados. Em sua essência, abrangeu muito mais do que o cenário musical fixando-se como uma cultura. Já foi declaração, já foi luta, já foi lema, já foi estilo de vida, já foi diversão e continua sendo tudo isso e o que mais quisermos que seja.”

Respectivamente: Paola Bueno, Giulia Zaki, Manuella de Morais, Mariana Dos Santos Ribeiro e Lilian Zaki
Respectivamente: Paola Bueno, Giulia Zaki, Manuella de Morais, Mariana Dos Santos Ribeiro e Lilian Zaki

Será que finalmente aquele machismo que Joan Jett enfrentou nos anos 60 foi derrubado? Se não foi, está próximo do fim, pelo menos nos palcos. Hoje as bandas com vocal feminino ou mulheres nos instrumentos fazem tanto sucesso quanto merecem. E ao que parece, como afirma a guitarrista Manuella, não serve apenas para as grandes bandas, nem para cidades grandes ou estrangeiras. “Recebemos convites para tocarmos em diversos lugares e o que chama atenção é que tais eventos estão se tornando cada vez mais frequentes para as bandas alternativas da região.”

Depois disso tudo, que tal um pouco de som? Confira abaixo algumas músicas das bandas citadas no texto.

Maryana Rodrigues e Guilherme Cavalli

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