Vida e obra de uma estrela

Foto: veja.abril.com.br

“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país. No curso sinuoso dos sentidos, nas nuvens do céu. No corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo” – Oscar Niemayer

O Brasil conquistou seu lugar na história da arquitetura mundial graças a Oscar Niemeyer Ribeiro Soares Filho, cujas obras – prédios-esculturas – estão presentes não só no Brasil, mas também nos Estados Unidos, França, Alemanha, Argélia, Itália e Israel, entre outros países.

Apesar de sua preocupação com a funcionalidade das obras que criou, sua atenção à estética é mais que evidente. A maioria dos arquitetos reconhece nele um desenhista extraordinário. Além disso, em geral se associou a grandes artistas plásticos para completar suas construções: Cândido Portinari, Bruno Giorgi, Alfredo Ceschiatti, Burle Marx e Tomie Othake.

Niemeyer entrou para a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1929 e formou-se engenheiro arquiteto em 1934. Dois anos depois, já trabalhava no escritório de Lúcio Costa – outro grande arquiteto brasileiro – integrando a equipe que projetou o prédio do Ministério da Educação, um marco da arquitetura brasileira.

Através de Lúcio Costa, conheceu o arquiteto franco-suíço Le Corbusier, que foi uma influência definitiva na sua vida e com quem teria oportunidade de colaborar. Também com Lúcio Costa, viajou para Nova York em 1939 para projetar o Pavilhão do Brasil na Feira Mundial que acontecia naquela cidade.

O ano seguinte reuniu Niemeyer ao político Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, que o convidou para projetar o Conjunto da Pampulha – uma das obras favoritas do arquiteto.

Niemeyer ingressou no Partido Comunista Brasileiro em 1945 e essa opção política veio a lhe criar diversos problemas. Em 1946, foi convidado a dar um curso na Universidade de Yale nos Estados Unidos, mas não pôde entrar no país. No entanto, no ano seguinte, ganhou por unanimidade o concurso para a construção da sede da Organização das Nações Unidas em Nova Yorke obteve o visto de entrada para desenvolver seu projeto.

No início da década de 1950 projetou o parque do Ibirapuera e o Edifício Copan, que se tornariam cartões-postais da cidade de São Paulo. Também viajou pela primeira vez à Europa, participando do projeto para a reconstrução de Berlim.

Um monumento no planalto Central

Niemayer foi um dos criadores de Brasilia, uma das capitais mais modernas do mundo. / Foto: Ruy Barbosa Pinto

Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência da República em 1º de janeiro de 1956. Entre outros projetos, pretendia construir uma nova capital no planalto Central do país e encarregou Niemeyer de organizar o concurso para a escolha do plano-piloto de Brasília, vencido por Lúcio Costa.

Em poucos meses, Oscar Niemeyer projetou o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, a Catedral, os prédios dos Ministérios, além de edifícios residenciais e comerciais da nova capital, inaugurada em 21 de abril de 1960, embora as festividades tivessem começado na véspera.

No início dos anos 60, foi nomeado coordenador da Escola de Arquitetura da recém-fundada UnB (Universidade de Brasília), que tinha como reitor o antropólogo Darcy Ribeiro. Em 1964, foi surpreendido em Israel pela notícia do golpe militar de 31 de março no Brasil. Ao retornar ao país, em novembro, foi chamado a depor no famigerado DOPS – Departamento de Ordem Política e Social, um dos principais órgãos de repressão política da ditadura militar.

Exílio e abertura

Em 1965, juntamente com outros 200 professores, Niemeyer deixou a UnB em protesto contra a nova política universitária do governo. Praticamente impedido de trabalhar no Brasil, o arquiteto transferiu-se para Paris, onde projetou a sede do Partido Comunista Francês. Além de projetos na Itália (sede da Editora Mondadori) e na Argélia (Universidade de Constantine, Mesquita de Argel).

No início da década de 1980, com o abrandamento ou distensão política da ditadura militar, a chamada “abertura lenta, segura e gradual”, Oscar Niemeyer voltou ao Brasil. Em 1980 mesmo, projetou o Memorial Juscelino Kubitschek em Brasília. Quatro anos depois, sob o governo de Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, projetou o Sambódromo. Em 1987, o Memorial da América Latina em São Paulo.

Sua produtividade é impressionante: em 1991 projetou o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e ao longo dos dez anos finais do século 20 criou várias outras obras importantes. Não interrompeu seu trabalho nos primeiros oito anos do século 21, desenvolvendo projetos no Brasil, em Oslo (Noruega), em Moscou e em Londres.

O lado humano

No plano pessoal, casou-se com Annita Baldo, em 1928, com quem teve somente uma filha Anna Maria Niemeyer. Niemeyer tem cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos. Segundo depoimento do arquiteto foi o casamento que o fez compreender a responsabilidade e o direcionou para o trabalho com seriedade.

Não se pode concluir uma biografia sua sem destacar pontos de sua carreira que mostram coragem e generosidade: Niemayer não hesitou em desprezar honrarias em prol de suas idéias, tendo se desligado da Academia Americana de Artes e Ciências em protesto contra a guerra do Vietnã. Além disso, fez diversos projetos gratuitamente, em benefício das causas que inspiravam sua construção.

Também colaborou na manutenção do líder comunista Luís Carlos Prestes, que não dispunha de renda própria na velhice. Vale lembrar que ambos se desligaram do Partido Comunista Brasileiro em 1990, por discordar dos rumos que a agremiação tomava.

morte de Niemayer na noite da última quarta-feira (05) deixou o Brasil e o mundo em luto. Com 104 anos de idade, ele era o arquiteto mais velho que ainda estava em atividade.

Sua obra e seu legado eternizam o artista, que foi um exemplo de profissionalismo e de vida.

httpv://www.youtube.com/watch?v=gdD1i0BI9tU

Fontes: Brasil Escola, Uol Educação

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