Tattoo

Pintar a pele. Escolher um desenho que reúna significados para levar para a vida toda: a tattoo virou uma assinatura daquilo que aconteceu de especial e que deve ser guardado com tinta sob a pele.

Provas arqueológicas encontraram vestígios de tatuagens já em egípcios há4.000 a.C., assim como os primeiros nativos da Indonésia até a Nova Zelândia usavam desenhos na pele para rituais ligados à fé e à religião.

No Brasil, a tatuagem “atracou” no país pelo porto de Santos – SP, em meados dos anos 60. Acirculação de pessoas vindas de várias partes do mundo em uma região de boemia e diversão sem limites acabou levantando preconceitos e disseminando uma imagem negativa da tatuagem. As recentes revoluções informacionais e de comportamento que têm como pano de fundo a internet e os demais meios de comunicação, ajudaram a levar a tattoo à algumas camadas mais conservadores da sociedade.

Ainda não se explica a motivação ou, em alguns casos, a vontade de se levar o desenho sob a pele como uma forma de representar o cotidiano. O “se tatuar” está atrelado a incontáveis motivos.

Bem, essa tatuagem foi porque…..

Incontáveis e interessantes, mais do que os desenhos que as pessoas carregam por ai, gravados na pele, são as histórias contadas sobre o dia em que a tatuagem virou realidade e as motivações do ato. “A minha primeira tatuagem foi uma borboletinha. Eu tinha 14 anos. Eu fiz nas costas porque eu simplesmente tinha vontade de ter uma tatuagem”. A jornalista Clarissa Battistella conta que os desenhos que tatuou foram um pouco precipitados e que, talvez, se arrependa: “Eu posso vir a me arrepender mais tarde, eu tenho outras duas tatuagens e penso que podia ter esperado mais tempo até me decidir, não ter feito só pela futilidade.”

“Eu sou viciada em café”, essa foi a motivação de Vanessa Vargas Lemos para fazer sua tattoo. “Eu gosto muito de café e então eu tatuei a fórmula da cafeína no braço.” Da vontade de ter um desenho diferente, combinada com as motivações pessoias, os desenhos que desfilam por aí, tornam-se cada vez mais únicos. Assim foi com Júllian Dalla Libera Pegoraro, que depois de cinco anos escolhendo o desenho perfeito, uma motivação pessoal o levou até o tatuador para executar a marca: “A minha tatuagem é uma frase em inglês, “just do i” escrita com a caligrafia do meu pai”, conta o estudante de odontologia explicando que a frase significa uma filosofia que escolheu para a sua vida: “Não ficar enrolando muito. Decidir e fazer as coisas sem esperar muito.”

Umas das facetas da tatuagem é a transgressão; tatuar-se para ser diferente na multidão. O professor de história, Ronaldo Canabarro, contou como a sua primeira tatuagem serviu como uma forma de rebeldia: “Minha primeira tatuagem foi um ato de liberdade. Meu pai disse que eu só podia me tatuar depois dos 18 anos. No dia em que eu completei 18 anos fui lá e tatuei a minha primeira tatuagem na perna”. A outra parte da história de Ronaldo tem a ver com ritos de passagem, como o dia em que chegou a maioridade: “A minha tatuagem é um Taz, animadinho, e que representa passar para a maioridade sem deixar de lembrar o meu tempo de infância”.

Tibbola

H á vinte anos tatuando em Passo Fundo, Marcelo Domingos Tibbola conhece muito do mercado das tatuagens. O campo cresceu, e as responsabilidades do tatuador aumentaram com os cuidados com biossegurança e termos de responsabilidades para com os menores de idade. Desde os quinze anos, acompanha o desenvolvimento da tatuagem e do trabalho dos tatuadores que se aventuram na prática. “Pra quem tatua no interior do estado, tu tens que ser bom em todos os gêneros: maori, tribal, comic, colorido, realismo, por isso a sede por conhecimento e tentar se aperfeiçoar mais nos workshops, por exemplo”, conta o tatuador de 35 anos.

A profissão exige empenho e investimento. Um estúdio de tatuagem, para um iniciante que pretende se manter em dia com as normas de biossegurança, pode custar até R$ 10.000,00. “Existem por aí muitos prostitutos da tatuagem, que não se preocupam com a qualidade do seu trabalho ou da tatuagem que fazem, só se preocupam com o dinheiro”, desabafa Tibbola, que ainda comenta sobre a realidade do tatuador amador: “eles sobrevivem, provavelmente,  pela quantidade de tatuagens propiciada pelo baixo valor que eles cobraram”, conclui.

No consultório

Uma tatuagem não é feita para ser corrigida ou, para que, no futuro, venha a causar problemas de pele. Mas acontece. Os consultórios dos dermatologistas recebem pacientes reclamando das consequências de uma tatuagem mal feita ou de alergia á tinta. O dermatologista Odair José Nardi, formado pela Universidade Federal de Pelotas, conta que em seu consultório, além da despigmentação de tatuagem, ele trata pacientes com complicações nos desenhos que fizeram. “A despigmentação, hoje, só com laser. Um equipamento que emite ondas especiais de cores”. As tatuagens feitas em estúdios profissionais resultam em trabalhos mais fáceis de serem removidos do que as amadoras, é o que conta o dermatologista: “Eles misturam muitas cores e acaba sendo mais difícil. A gente recebe cada tatuagem aqui que só vendo mesmo, mas cada caso é um caso”.

Em alguns lugares do mundo, a remoção e o manejo de uma tauagem depois do arrependimento do desenho estão institucionalizados. Nos EUA a tinta liberada para tatuagens oferece uma remoção mais viável. “É uma pigmentação que pode ser totalmente retirada depois pelo laser. Lá, as tatuagens estão sendo liberadas para qualquer um, pois essa tinta é padronizada para todas as tatuagens”, explica o dermatologista.

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