“A mídia, quando se apropria, divulga, espetaculariza, sensacionaliza ou banaliza os atos de violência, está atribuindo-lhes um sentido que, ao circularem socialmente, induzem práticas referidas à violência. Se a violência é linguagem – forma de comunicar algo -, a mídia, ao reportar os atos de violência, surge como ação amplificadora desta linguagem primeira, a da violência.” E. Rondelli, 1998
Nós, enquanto seres humanos, somos capazes de viver em paz? Em pleno século XXI, por que tanta violência? Esteve presente na noite do dia 31 de outubro, na Universidade de Passo Fundo, o doutor e professor da Universidade de Caxias do Sul, Paulo César Nodari. Nodari acredita que as pessoas precisam parar de pensar que a violência é uma invenção do nosso século. A paz não tem como oposto a guerra, mas sim a violência, e como consequência a violência trouxe o medo. O medo se tornou uma paixão dominante da sociedade democrática. Antigamente os jovens tinham medo de envelhecer rápido demais; hoje eles têm medo de não crescer, de não terem a chance de envelhecer. O Nexjor conversou com o professor Paulo César Nodari, que expôs sua visão sobre como a mídia trata o tema violência. “Quando você expreme os jornais, saem apenas sangue e violência”, diz Nodari.
No entando, dizem que a mídia se sustenta da violência exposta pelos jornais, sites e televisão. Não podemos dizer que seja verdade, embora seja, a impressão que passa, visto que grande parte das notícias que lemos e ouvimos durante o dia é de caráter violento, negativo. Em desefa da paz, o professor Nodari explica que tirar o corpo fora não significa que o problema não seja seu. Mas até que ponto esse envolvimento da mídia com a violência cotidiana é correto? É nesse momento que entra a seguinte questão: a mídia deixa as pessoas alertas o bastante para os perigos da sociedade? Ou existe certo exagero em como as matérias são retratadas?
Percebendo a importância do fato, e principalmente o poder que têm sobre a classe média – sua maior consumidora, as mídias têm aprofundado a exposição de matérias cujo “tema” são as várias faces da violência. Há quem diga que os jornais publicam notícias de cunho violento, porque é o que a sociedade gosta de ler e porque é ela que promove essa violência. “Ensinar cultura para paz, e não para a violência” é o que diz Paulo César Nodari. O doutor e professor não censura as mídias, mas acredita que a violência possa ser exposta de outras formas para sociedade, quebrando esse paradigma de que as mídias se enriquecem desses conflitos.
Nexjor – Como o senhor avalia o tratamento do tema violência pelas mídias?
Eu creio que seja muito importante recordarmos que não é uma questão de definirmos se o ser humano é bom ou mau por natureza, mas é importante perceber que vivemos numa época tão bela e ao mesmo tempo difícil, em que as pessoas não têm mais tempo para nada, somo todos exigidos em tudo, e esses mecanismos todos que a sociedade se articula também podem criar pessoas mais violentas ou pessoas mais pacíficas. Pacíficas que não no sentido de não existir conflitos, de não existir simplesmente agressões, mas significa também uma atitude de quem quer construir um mundo de boa convivência. Infelizmente, a meu ver, há momentos, nos quais se possa dizer que a mídia, seja ela impressa ou televisiva, pode fazer da violência um objeto mercadológico. Esse é um dos grandes problemas, e nós vamos acompanhando sempre a violência, de um lado ou de outro, e vamos pensando que a natureza humana é violenta. Mas nós não podemos dizer simplesmente que a violência é natural,no entanto podemos fazer com que as pessoas aos poucos se deem conta de que suas atitudes, gestos e falas podem criar mais ambientes de convivência, de pacificidade, como também de violência.

Nexjor – Sabemos que sem violência não há notícias. Poderiamos culpar alguém pela constante exposição desses conflitos?
Se tu fores fazer uma pesquisa, irás perceber que existem tantos gestos, atitudes, iniciativas de paz. Tu vais pelas escolas, pelas associações, e poderás perceber, além de tantas situações evidentemente de agressões e violência, muitas situações de paz, de trabalho comum, de diálogo. Mas o que aparece é sempre a violência, e ela acaba aparecendo mais que aqueles ambientes, aqueles lugares, situações, e aquelas iniciativas pacificadoras. Talvez nós possamos mudar um pouco a lógica; ao invés de tantas visualizações de violência, pudéssemos visualizar mais iniciativas e criatividades pacificadoras. Porém, ao mesmo tempo nós não podemos esconder a violência, escamotea-lá. Ela existe, e podemos criar modos de que ela seja mais amena. Ou seja, é impossível pensar “De amanhã em diante não existirá mais violência em parte alguma do mundo”. Isso é ingenuidade, isso poderia ser outra forma de violência. Agora o que se pode fazer é com que todos se sintam mais comprometidos e responsáveis por um mundo de maior convivência pacífica.
Nexjor – O senhor acha que a violência exposta pela mídia possa levar a sociedade a cometer mais violência?
Eu vejo que é possível dizer, num primeiro momento de senso comum, que uma pessoa que só vê violência, pode mais facilmente ter atitudes de violência, de agressão. E uma pessoa que só testemunha situações de diálogo, tolerância, é mais facilmente capaz de ter atitudes dessa natureza. É claro que o ambiente não nos forma totalmente, ele influencia muito. Se nós vamos tendo um ambiente que nos conduza a um modo de vida, isso não significa que seja determinado de uma vez por todas nós podemos mudar, questionar. Aliás, eu penso ser muito importante hoje, colocar em questionamento esse mundo da violência, essa violência que é exposta, essa forma mercadológica como ela é tratada. Porque ainda há empresas que ganham muito por meio da violência, e é preciso coragem para enfrentar esse desafio.
Informação é poder, mas acima de tudo é cultura. Omitir ou esconder informações sobre crimes pode causar alguns riscos para a vida das pessoas. Mas, ao mesmo tempo, a imprensa precisa ter em mente que toda ação gera uma reação. Da mesma forma que omitir pode prejudicar, noticiar eventos criminais, abordar determinados assuntos envolvendo violência e criminalidade, pode causar grandes consequências também.
Como formadoras de opinião, as mídias, em primeira instância, devem apresentar de forma correta e clara as contestações e conflitos existentes na sociedade. Além de divulgar notícias de temática violenta causando comoção e revolta, a televisão, os sites e a mídia impressa devem causar na sociedade a vontade de mudança, e fazer com que as pessoas não queiram tirar o corpo fora.
