O índice de jovens escritores cresce a cada momento. Publicar não é um bicho de sete cabeças. Não mais.
O papel em branco revela a sede por conteúdo. A mão, sem as marcas da idade e do trabalho constante, indica ideias pulsantes.
Eles são jovens – intensos, contraditórios e prontos para a próxima. Decidiram mergulhar, ir (mais) fundo e explorar territórios desconhecidos. Optaram por viajar pelas letras, que, fixas nas páginas de um livro qualquer, são capazes de transportar mundos e ideias. Decidiram se embriagar de palavras. A embriaguez tornou-se tangível e possibilitou que a ideia, antes apenas na cabeça, fosse jogada no papel. Eles são jovens e optaram por libertar as amarras do pensamento através da escrita.
A descoberta que vem a partir da tentativa
O índice de escritores jovens aumenta cada vez mais. A sexta arte, outrora destinada a grupos mais seletos e sinônimo de reclusão, ganhou espaço entre o curtir e o compartilhar, ultrapassou as frases soltas publicadas em 140 caracteres e, de fato, se consagra como queridinha dos mais jovens. Débora de Marco Machado tem 21 anos e desde muito nova sempre gostou da palavra, seja ela lida, seja escrita. Aprendeu em casa, vendo pai e mãe com livros ou jornais nas mãos, mas foram os concursos que participou que a impulsionaram a ler mais para escrever melhor: “Quanto mais eu lia mais eu percebia a riqueza que isso me conferia”, comenta. Aos 9 anos homenageou o pai em um concurso de poemas e conquistou em 3º lugar. Aos 18, concorreu a uma viagem para a Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, escreveu sobre Machado de Assis e, sim, ganhou. “Penso que o talento para a literatura, que já existia em mim, tenha encontrado nesse fato uma vontade de se externar. Daí o desejo de buscar meios para realmente colocar em prática a ideia de publicar o meu livro”, conta Débora.
A publicação
No final do ano passado Clareza na escuridão chegou às livrarias e, agora, depois de contar suas histórias, histórias dos outros e da própria mente, Débora busca adesão para publicar a segunda obra. “Ter escrito o primeiro livro tendo apoio de pessoas tão íntegras e importantes me deu muita satisfação e, embora eu não tenha uma editora que me forneça a base para ter um bom reconhecimento e uma boa caminhada no mundo da literatura, a satisfação e a realização de escrever e ver um livro seu sendo lido pelas pessoas e perceber que elas se identificam não tem preço”, comenta. Por iniciativas como a de Débora que buscou concretizar o que antes era apenas uma ideia, é que o time dos jovens escritores – ou escritores jovens – ganha adeptos mais talentosos.
[stextbox id=”custom” caption=”Clareza na Escuridão, Débora de Marco Machado”]Prefácio de Lasier Martins, ilustrações de Diego Chimango e patrocinado por Luciano Camargo – da dupla Zezé Di Camargo e Luciano – o livro Clareza na escuridão é uma narrativa da pré – adolescência, adolescência e alguns aspectos da fase adulta do personagem, que pertence à classe média alta e passa por um período muito difícil com a perda do avô, ausência dos pais e depressão. É no momento em que perde o encanto pela vida que o personagem passa por uma série de reviravoltas. De uma maneira misteriosa e estranha, ele tem a oportunidade de se reencontrar com ao avô.Para adquirir a obra: clarezanaescuridao@hotmail.com ou nas livrarias, em Passo Fundo, Nobel, Maneco, Diocesana e Delta.[/stextbox]
Nascimento online
Jana Lauxen, formada em Publicidade e Propaganda pela UPF, é mais uma que opta pelo combo ideia-papel-caneta. Escreveu seis livros, publicou um – Uma carta por Benjamin -, projeta outra publicação este ano e busca, até 31 de julho, colorados que contem histórias do time – em crônica, prosa ou verso -, para organizar uma coletânea. Alimenta um blog, é colunista do Café Espacial e trabalha na filial Sul da Editora Multifoco. Sempre gostou de escrever, nunca pensou nisso como uma profissão, embora a resposta à pergunta “o que quer ser quando crescer?” estivesse na ponta da língua: escritora. Participou de diversas coletâneas e, em uma dessas, conheceu aquele que lhe diria a frase mais esperada por qualquer jovem autor: “Jana, me envia teu livro, vamos te publicar!”. Depois da primeira publicação, surgiram as coletâneas e o convite para gerenciar uma filial da editora Multifoco. “É uma delícia. É como se me pagassem para comer brigadeiros”, se diverte.
A experiência de Jana a faz pontuar a importância de persistir e buscar, sempre, a melhor forma de transpor para o papel o que está só na cabeça: “Uma carta por Benjamin foi o quarto que escrevi. Até hoje dou graças a Deus por não ter publicado os três primeiros que escrevi, pois os leio hoje e acho O Horror. O que é bom, porque, se você ler o primeiro livro que escreveu, há dez anos, e o achar genial, significa que evoluiu muito pouco, ou nada, enquanto escritor”, destaca.
[stextbox id=”custom” caption=”Uma carta por Benjamin, Jana Lauxen”] Benjamin, antes um sujeito comum e com uma vida pacata, recebe uma carta que muda sua vida. Os escritos de um remetente desconhecido o obrigam a começar a tomar decisões a respeito de uma história que, mesmo não querendo, tornou-se cúmplice. “O tempo em que ainda havia tempo para escolher terminou. Porque ou é agora. Ou não será nunca mais.”
Para adquirir a obra, clique aqui.[/stextbox]
A temática adotada por Jana segue a mesma linha de Débora – suas histórias, histórias dos outros: “Todos os meus livros espelham um pouco o que eu vivia e pensava na época em que os escrevi. Sempre digo que não há escritor mais genial, criativo e surpreendente do que a própria vida. Ela cria enredos sensacionais! A gente só copia.” E continua: “A vida é cheia de histórias e, quando estamos de olho nelas, elas aparecem para a gente em escala industrial.” E para esses jovens que buscam na vida a inspiração é de casa que vem o apoio. Assim como para Débora, o apoio de Jana veio dos pais: “Eles sempre me apoiaram muito, nunca me desestimularam a escrever. Meus pais nunca mataram a escritora que eu sou, e serei eternamente grata a eles por isso”.
Espaço x ego
Apesar do apoio incondicional, o caminho até a publicação não foi fácil. Para ela, o principal obstáculo foi encontrar uma editora capaz de abrir uma fresta para uma possível publicação: “Há quatro ou cinco anos, quando tentava publicar meu primeiro livro, a maior dificuldade era encontrar uma editora disposta a, pelo menos, analisar teu original. A maioria sequer os lia.” De lá pra cá, no entanto, muita coisa mudou: hoje há editoras criadas especialmente para oferecer espaços para quem deseja entrar no universo literário. “Porém, hoje, a maior dificuldade enfrentada para a publicação é o ego do próprio escritor”, pontua Jana.
Com o surgimento dos blogs, na virada do século, as chaves que trancavam os cadeados dos antigos diários foram perdidas para sempre. Os diários online dominaram a rede e trouxeram em suas linhas invisíveis uma nova forma de ver e fazer literatura. Débora acredita que a internet possibilita que a literatura chegue a mais pessoas. Jana vê uma melhora na escrita do jovem. E vai além: “Internet é democracia. Todos podem escrever o que quiser. Sai muita bobagem, muito texto ruim nesta democracia toda? Sai. Mas ainda assim é melhor que todos possam, do que somente meia dúzia de cartas marcadas, como acontecia há pouquíssimo tempo. Eu, sem a internet, poderia estar, sei lá, trabalhando em uma repartição pública”. O fato é que plataformas como o Twitter, o Facebook e os próprios blogs são um incentivo a mais para que mais pessoas busquem a folha em branco, seja o Word ou o papel, e expressem, ali, sentimentos, opiniões e ideias.
Mas a internet é tão instável quanto o próprio jovem. O espaço online não foi suficiente. A sensibilidade transbordou e foi aí que optaram pelo papel. Na Multifoco, por exemplo, de cada dez autores que são publicados, 7 são jovens. O Word, antes em branco e agora repleto de ideias, passou pela impressora e tornou-se tangível. Não se trata de uma troca, mas de uma complementação – a ideia surge, assume a caracterização da internet mas salta para fora da tela.
Também visando facilitar a publicação, a editora Multifoco criou um sistema que é o ideal para quem não tem dinheiro ainda, mas quer ver seu livro nas mãos dos outros: você escreve e envia para a avaliação da Multifoco, que se responsabiliza pela produção e diagramação do livro. Você recebe quantos exemplares quiser em casa e o único trabalho que tem, depois de escrever, é vender a própria obra. Você só desembolsa o dinheiro, depois de vender os livros. Para mais informações, basta entrar no blog.[/stextbox]
