
Há cerca de um ano, de acordo com uma pesquisa realizada pela Trabalhando.com Brasil, apenas 27% dos brasileiros falavam mais de uma língua. Com toda a tecnologia surgida nesse tempo, é claro que, hoje, essa estatística melhorou, certo?
Não.
Testes feitos com mais de 13 mil brasileiros que trabalham em multinacionais de diversas áreas, e divulgados recentemente, mostram que o inglês falado por aqui é insuficiente até mesmo para manter uma conversa telefônica sobre assuntos do dia a dia e colocaram o Brasil na lista dos países onde se fala o pior inglês, com uma média de 2,95 – equivalente à média de um iniciante -, enquanto a mundial ficou em 4,15.
Entre os motivos, segundo Elaine Saad, vice-presidente da Associação Brasileira de RH, está o fato de que normalmente os brasileiros só estudam quando surge uma exigência no trabalho.
Se dominar outro idioma é tão importante assim, por que, para tantas pessoas, essa é uma tarefa tão difícil? Talvez porque o estudo inicie muito tarde.
O processo de aprendizado de um idioma se dá de uma forma interativa, com foco na comunicação entre aluno e professor. Assim, quatro habilidades ganham ênfase: ouvir, falar, ler e escrever. É justamente por isso que a professora Iara Cecchet Pavinato, coordenadora pedagógica da UPF Idiomas, afirma que o estudo de um novo idioma deve iniciar ainda na infância. “As crianças aprendem com muita facilidade, pois elas são espontâneas e não têm medo de errar.” De acordo com a professora, a curiosidade, inerente às crianças, também deve ser levada em conta, pois facilita a comunicação.
Outro detalhe importante está relacionado à formação das crianças: muitos profissionais afirmam que a idade correta para iniciar o estudo de um idioma é aos 3 anos, pois é nessa fase da vida que o aparelho fonador da criança está se formando e as chances de esse aluno não ter sotaque ao utilizar uma língua estrangeira são muito maiores.
O estímulo, é claro, deve vir de casa. Segundo Iara, a participação dos pais no processo ensino-aprendizagem é muito importante: “os pais devem estimular a criança a se interessar pelo novo”, comenta.
Os reflexos de um início precoce 
Flaviana Comin é um exemplo do poder de um estímulo precoce. A estudante de letras começou a aprender inglês cedo, com 11 anos, e considera essa uma boa idade para iniciar. Segundo ela, foi muito importante ter iniciado ainda criança: “Vários fatores auxiliaram na eficácia do aprendizado, por exemplo, o sotaque (que foi reduzido pela pouca idade) e o tempo disponível nessa idade, que, quando somos adultos, diminui.” Fundamental, para Flaviana, foi, também, a continuidade desse estudo: “Um estudo contínuo indica melhor eficácia se comparado a uma situação em que o aluno inicia o aprendizado, para e depois de algum tempo volta.”
O interesse pela língua foi tanto que a jovem viu nesta uma importante ferramenta de trabalho e resolveu seguir seus estudos. Entretanto, ela concorda que saber mais de um idioma é indispensável para qualquer área: “Há uma demanda de qualquer profissional saber pelo menos uma língua estrangeira, pois, com os processos de globalização, trocas de informações entre países, congressos e aperfeiçoamentos de estudos, quem realmente quer se aperfeiçoar deve saber mais de uma língua.”
Marcelo Benvegnú começou ainda mais cedo, aos 6 anos, e concorda com Flaviana. O jovem, que está tentando uma vaga no tão sonhado curso de medicina, conta que foi muito bom ter começado cedo: “É mais fácil se acostumar com a língua”, justifica. Além de ajudar na escola, saber outro idioma abriu muitas portas para o estudante: no início do ano, Marcelo passou três semanas estudando na Nova Zelândia e confessa que foi uma experiência pela qual ele não imaginava passar, mas que foi gratificante: “Ter uma conversa em inglês seja com quem for fez eu me sentir mais responsável por mim mesmo.”
Para quem ainda não se convenceu da importância de saber outro idioma, a professora Iara ressalta: “Ter uma língua estrangeira, além de ser um diferencial, é uma necessidade muito grande, pois as oportunidades de trabalho para quem a possui conta pontos.” Exemplos não faltam: “O inglês foi importantíssimo pra mim durante a minha vida e sempre vai ser”, conclui Marcelo.
E, para quem concorda que nunca é tarde para começar, Rafael Lanzetti, professor e tradutor, dá algumas dicas:

