A ideia de multidisciplinaridade propõe resolver problemas com base nas variadas áreas do conhecimento e deixar de lado o tratamento mecânico e automático na hora de tratar doenças.
Durante muito tempo, a maioria dos profissionais da saúde cuidou das doenças do corpo como se ele fosse uma máquina com defeito. Ao substituir ou consertar uma peça, tudo deveria voltar ao normal. Mas nem sempre isso acontece. É preciso deixar de lado a percepção mecânica na hora de tratar as doenças.
A partir dessa percepção, um grupo de pesquisa da Universidade de Passo Fundo estuda os paradigmas da corporeidade. A ideia é humanizar o atendimento aos pacientes tratando corpo e mente como algo único. O trabalho envolve as áreas de educação física, fisioterapia, educação, psicologia, fonoaudiologia e medicina veterinária. O estudo busca formar profissionais de educação e saúde voltados não apenas aos aspectos físicos, mas também aos emocionais e subjetivos.
O estudo teve início em 2001 e já resultou na publicação de três livros. Os textos relacionam o bem-estar físico e o emocional e tratam de saúde, educação e do envelhecimento humano.
A mestra em Envelhecimento Humano, Renata Maraschin, diz que a relação entre profissional e paciente é distante. “As reclamações que chegam são inúmeras pelo tratamento dos profissionais para com os pacientes”. Ela viu no grupo de pesquisa uma oportunidade de estudar questões para melhorar essa perspectiva com uma visão mais ampla da saúde e do próprio corpo não só como algo biológico, mas como um fenômeno que está inserido também em questões sociais, políticas, econômicas e culturais.
[stextbox id=”custom” caption=”Corporeidade”]
É a maneira pela qual o cérebro reconhece e utiliza o corpo como instrumento relacional com o mundo.
Guarda três dimensões que mantêm uma relação:
a) fisiológicos (físico);
b) psicológicos (emocional afetiva);
c) espirituais (mental espiritual sendo o universo físico, o universo da vida e o universo antropossocial).
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O conceito de corporeidade é relativamente novo. Somente a partir do século XX começa se entender que o ser humano é uma unidade que se conecta com múltiplas influências, que não é uma junção de fragmentos.
A pesquisa envolve uma equipe multidisciplinar de professores, profissionais e acadêmicos. O conhecimento produzido por eles busca, além da formação profissional, levar para a prática a perspectiva do conhecimento não fragmentado. Uma das ações que já trabalha com essa ideia é a equoterapia, projeto de extensão da UPF.
[stextbox id=”custom” caption=”Equoterapia”]
A equoterapia é um método terapêutico e educacional, que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência e/ou de necessidades especiais. Na equoterapia, o cavalo é utilizado como um meio de se alcançar os objetivos terapêuticos. Ela exige a participação do corpo inteiro, de todos os músculos e de todas as articulações.
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O uso de cavalos na terapia de pessoas com necessidades especiais auxilia na socialização e reflete na qualidade de vida de quem é atendido. “A pessoa com deficiência é vista como um aluno, não é tratada como um paciente ou como portador de uma patologia. O movimento tridimensional do cavalo, que é parecido com a marcha humana, faz o sistema nervoso central do aluno se desenvolver”, relata a psicóloga Maira Meneguzzi.
Péricles Saremba Vieira, coordenador do projeto de pesquisa, afirma que é uma satisfação ver que o grupo de estudos está conseguindo contribuir para a melhoria da formação de alguns profissionais.
Os resultados são visíveis. Observou-se, na prática, que a união de corpo e mente tem efeito. No caso da equoterapia, a atividade muda a qualidade de vida dos alunos. Eles passam a observar as coisas, a ter maior autoestima e autoconfiança. Isso faz com que desenvolvam potencialidades que estavam guardadas e sem estimulação.
