O ideal não é punir, é preservar!

O descarte de lixo não ocorre apenas por fora da mata nativa. Os poluidores são audaciosos: entram na mata para se desfazer do lixo. (Foto: Clarissa Battistella)

A consciência nem sempre é o forte do ser humano e, por isso, o planeta vem sofrendo as consequências. Consumir mais do que o necessário, produzir mais lixo do que se deve e, ainda, degradar o que não pertence a si próprio são atitudes inadequadas para um cidadão comum, porém praticadas por ele.

Colaboração: Ângela Prestes

“O pessoal vêm, estaciona o carro, descarrega o lixo e vai embora.”

O desabafo de Alfredo Von Muhlen Neto retrata a realidade de uma Área de Preservação Permanente (APP), onde há árvores, rio e é abrigo de muitas espécies de pássaros. Sem contêineres ou entulhos de lixo, a beleza é distorcida. O lixo, ali abandonado, contamina o solo e polui o ambiente.

Para parte da população, está claro qual é o destino do lixo. Entretanto, essa parcela não responde ou age sozinha. Segundo o tenente Joceli Moreira de Melo, do 1º Pelotão Ambiental de Passo Fundo, as denúncias são diárias. Pessoas colocam o lixo em seus carros e se deslocam de um bairro para o outro, afim de descartá-lo em locais inapropriados, como na mata nativa – mencionada por Neto – localizada na Planaltina, em Passo Fundo, e preservada pelo Código Florestal Brasileiro. “O que mais tem acontecido é isso. Os moradores não vão largar seu lixo na frente da própria casa ou no bairro onde moram”, diz Joceli.

(Foto: Clarissa Battistella)

Além do lixo, o pelotão atende ocorrências de degradação, queimadas e corte ilegal de madeira. Ao contrário do que muitos pensam, ainda é alto o índice de desmatamento na região, inclusive na APP da Planaltina. O verde, que deveria predominar, dá espaço ao colorido: amarelo, vermelho, cinza, branco, laranja, azul. Nada de flores, tampouco de borboletas. As cores são de roupas, calçados, potes, embalagens e até móveis que transformam o cenário natural. No lugar das araucárias, sujeira. Ao invés de ar puro, fumaça.

E apesar de existir punição, prevista na lei nº 9.605, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, muitas vezes os infratores saem ilesos. A identificação do transgressor é a maior dificuldade encontrada pela patrulha, pois, até a viatura se deslocar ao local, o indivíduo já fugiu, sem deixar indícios. Joceli explica que “o descarte de animais e de lixo é poluição. A pena prevista para esse crime é de dois anos de reclusão – senão mais”.

Para uma atuação eficiente do Batalhão, a equipe orienta: “Ao ver um veículo estacionando próximo à mata ou a um rio e descartando seu lixo, denuncie, e, também, anote a placa”. Porém, essa tarefa também não é simples. Segundo Neto e Lucas Antônio Rosso, que prestam segurança a uma construção ao lado da mata nativa, são inúmeros os carros que param na rua para o despache: “Quando vemos eles parando, corremos para anotar a placa, mas se eles veem nós nos aproximando, fogem”.

Educação questionável

Os problemas ambientais não são apenas de responsabilidade do poder público ou da segurança, mas da população que não tem o cuidado com o meio em que vive. Para Joceli, o primeiro e grande problema é educacional: “Você viaja por esse estado, por esse país e consegue perceber que não são todos os munícipios que passam por problemas como esse. Isso é questão de cultura”. E acrescenta: “E nós temos outros fatos piores do que largar o lixo na beira de uma estrada, que é largar em um rio. Como temos aqui o rio Passo Fundo, o grande problema do município, constatado no início do ano”.

O grande problema ao qual o tenente se refere não é a poluição visual – não menos importante. Mas, sim, o tormento que vem depois, com as chuvas. No solo, o lixo pode ficar depositado por muito tempo. Com as chuvas, ele se decompõe mais rápido e pode contaminá-lo. Nos rios o lixo corre e se acumula em determinados locais, contaminando, também, a água que abastece muitas das casas dos responsáveis por sua contaminação. É o feitiço voltando contra o feiticeiro.

Foto: Clarissa Battistella

A fiel soldado Carla, que acompanha o tenente nas constatações, avisa: “Às vezes, eles –referindo- se aos poluidores – vêm de muito longe, para fazer o descarte”. E o descarte não é feito apenas na lateral isolada da mata, mas também na outra extremidade, onde há casas e pessoas que testemunham o descaso com os bens naturais – ainda mais grave, por ter um rio ao ar livre, e claro, cheio de lixo.

Os moradores da região, preocupados com o descarte no ponto e cansados de inalar o odor que fica nas proximidades, falam que, mesmo “botando a boca” nos culpados, esses não se abalam e continuam com a infração. Segundo Raquel Casarin, que mora há apenas três meses na lateral da APP da Planaltina, muitos são os carros que param para fazer o descarte não só de materiais orgânicos – aqueles que se decompõem sem prejudicar o ambiente –, mas, principalmente, de materiais poluentes e animais mortos.

O lixo tem um paradeiro certo: quando inutilizado para o cidadão, o descarte deve ser feito em uma lixeira para ser recolhido pelos caminhões. Posteriormente passa por um longo processo de separação e reaproveitamento. É mais prático para a população aguardar a coleta do que se deslocar e ainda poluir. Mas nem todos pensam assim. Joceli dá o conselho final: “Por isso que eu digo: anotar as placas, para que possamos punir aqueles que cometem, muda a visão de quem joga!”.

(Infográfico: João Vicente)

Galeria de fotos. Confira: [nggallery id=110]

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