O hipismo criou raízes

O esporte requintado e de integração trouxe a Passo Fundo um novo patamar e projetou o nome da cidade mundialmente.

Imagine um cenário elegante e cordial, em um contexto de confraria e solidariedade, onde cavaleiros e amazonas circulam com seus ostentosos cavalos, entre famílias, jovens despretensiosos e crianças animadas. E agora insira nesse ambiente um esporte. Esse é o panorama das pessoas que convivem com o hipismo, um esporte clássico, agradável aos olhos do público, e de integração. Cavalo e cavaleiro se encontram em sintonia, entre saltos de uma barra a outra, em momentos oscilantes de apreensão, adrenalina e tranquilidade . E é essa mistura de emoções e vistosidade que desperta o interesse do público e traz a Passo Fundo competidores do mundo inteiro.

Esse fascínio que o esporte desperta é muito recente na cidade. O hipismo em Passo Fundo teve sua origem na Brigada Militar – um hipismo restrito – em 1931, quando o 3º Regimento, criado em Alegrete um ano antes, foi instalado no município definitivamente. Após o pioneirismo do Regimento na cidade – 3º RPMon – foi aberta uma escolinha de equitação, a Sociedade Hípica Passo-Fundense – onde tudo começou. Sendo a primeira escola de equitação, todas as pessoas que tinham interesse por essa modalidade – e não eram muitas – migravam para lá, onde aprendiam e treinavam. Entre essas poucas pessoas, estava um menino de sete anos, Irineu Gehlen Filho.

O fascínio de Irineu Gehlen Filho pela montaria começou muito cedo

O pai, Irineu Gehlen, era proprietário rural. Quando ia para a sua fazenda em Lagoa Vermelha, deitava o filho em seus braços, sobre o cavalo e saia galopar. O menino demonstrou interesse e afeição pelo cavalo desde muito cedo, como conta Irineu “Aos três anos ele já ia até a mangueira e tocava os terneiros”, diz, referindo-se às brincadeiras preferidas do garoto “e aos sete anos começou a praticar” conclui.

Por se destacar, Irineu percebeu que o filho precisava de um suporte a mais, e, por conta do seu empreendedorismo, construiu o primeiro Clube Hípico de Passo Fundo, no Parque Turístico da Roselândia. Foi o embrião que fez germinar o hipismo e disseminou a tradição do esporte por aqui. Ao mesmo tempo, seu filho cresceu dentro da atividade, “O Irineuzinho – como chama o filho – estourou e só cresceu, foi a melhor coisa que fizemos”, conclui. A certeza que Irineu expressa ao mencionar o clube se comprova, pois, foram muitas as conquistas do filho.

Concursos e conquistas

 Dentre essas conquistas estão as oito vezes que foi campeão gaúcho, a medalha de Bronze no Campeonato Brasileiro 2007. Irineu ficou com o1º lugar para a Seletiva do Rio de Janeiro para o Americano 2007 e também, 1º lugar da categoria The Best Jump 2006 e 2007, 1,40mem Porto Alegre. Nomaior campeonato hípico já sediado no Brasil, Athina Onassis International Horse Show 2007, categoria Junior, ficou em 3º lugar, liderou o Ranking Brasileiro da Categoria Junior, foi duas vezes campeão americano em Buenos Airespela equipe brasileira da CBH. Ganhador do Grande Prêmio de Brusque em 2009, na categoria Young Rider e 1º Lugar na Seletiva 2010, em São Paulo, 1,50m, para o Sul Americano, além de vice campeão brasileiro também em 2010.

A família Gehlen, como pioneira, sediou diversos concursos estaduais e nacionais, como o Concurso de Saltos Nacional e a Copa Sul de Hipismo. Com as disputas ocorrendo no município, outros investimentos foram direcionados ao hipismo local. Para uma melhor organização – já que o esporte prosperava – foi criada a Liga Passo-fundense de Hipismo, em 2008, do qual participam todos os proprietários das hípicas – Gehlen, Haras MD, Tiradentes, Sociedade Hípica e Brigada Militar – para melhor organizar as competições sediadas na cidade e competir a nível municipal.

Fim de uma era

 A consternação e orgulho no olhar do fundador pioneiro se mesclam quando fala dos anos que passou acompanhando treinos e competições em casa. A expressão do rosto é uma variante de entusiasmo e contentamento, ao lembrar das viagens feitas à outras hípicas. Hoje o Clube Hípico Gehlen encontra-se fechado, já que a intenção primordial era investir no atleta Irineu Filho, que, ao atingir seu ápice, encerrou a carreira profissional para seguir na área judicial. Com pesar, o instituidor fala sobre o tempo que se encerra: “Tudo é cíclico, tudo na vida tem sua fase”, completa.

A Hípica Gehlen não é mais o refúgio da família, mas a paixão pela montaria e o espírito hípico continuam a rodeá-los. Entre umas e outras frases, o próprio escritório de Irineu – lugar que a princípio deveria ser reservados a livros– contextualiza com a história, completando o cenário – mas dessa vez sem famílias, jovens ou crianças. O que se vê são estátuas de cavalos e cavaleiros, botas de montaria, fotos das competições e o resto da indumentária.

Se um ciclo termina, normalmente outro começa.  E foi assim que surgiu o Centro Hípico e Haras MD. O treinamento, tratamento de animais, estrutura e as competições que vêm ocorrendo, você confere na próxima edição.

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