“A história é êmula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do passado, exemplo do presente, advertência do futuro”
(Miguel de Cervantes)
A formação de uma cidade se dá vagarosamente. Uns poucos se achegam num pedaço de terra, constroem morada e vida. Outros tantos constroem relações um pouco adiante. Logo tais relações se estreitam e as distâncias diminuem. Nasce um povoado. Uma aglomeração. Um pequeno e talvez imperceptível sinal do futuro. Quem poderia imaginar que Cabo Neves, ao escolher o terreno da Praça Tamandaré para construir sua estância em 1835, daria início a uma cidade que, hoje, abriga quase 183 mil habitantes?
Foi em janeiro de 1857. Trinta anos depois da chegada de cabo Neves, Passo Fundo está pronta para voar sozinha. Deixando a cidade de Cruz Alta e optando pela independência, Passo Fundo foi emancipada e governada pela Constituição de 1824. Organiza-se o poder Legislativo, e a Câmara de Vereadores fica sob a presidência de Manoel José de Araújo. Junto dele, Joaquim Fagundes dos Reis, Antônio de Mascarenhas e Manoel da Cruz Xavier decidiam o futuro da Vila que logo seria cidade. Questões econômicas, políticas e administrativas levaram à emancipação da cidade. O povoado que caiu sob o fogo da Revolução Farroupilha foi capaz de se reerguer e chegar a um boom de desenvolvimento para a época. A liberdade foi necessária.
Nossas veias carregam o sangue que bombeia nosso coração e nos dá a vida – o caminho levando à existência. Tal qual, as ruas foram levando Passo Fundo a uma existência concreta. Às vezes estreitas, de difícil acesso, mal traçadas. Em meio às construções, estradas de terra, de mato ou de pedra estendiam-se e levavam a um futuro logo ali. A principal das ruas, a atual Av. Brasil, foi chamada de Rua das Tropas e, logo depois, Rua do Comércio. Ali, o coração da cidade. À época da emancipação, eram sete as ruas nominadas de Passo Fundo. Rua 7 de agosto, em homenagem à liberdade do município. Rua 20 de Setembro, em homenagem ao estado. Aos poucos, cada rua ganhando um nome, uma identificação, uma caracterização.
Estudar e conhecer conceitos de patrimônio é uma forma de criar consciência acerca do próprio desenvolvimento. Eduardo Knack, mestre em História, diz que “se trabalha com a ideia de conservação para a partir da educação valorizar e dar a devida importância para o patrimônio.” Prédios foram erguidos, comércios iniciados, raízes foram firmadas sobre a terra onde, outrora, bandeirantes e tropeiros pisavam – a fim de levar o charque gaúcho para as bandas de São Paulo. A arquitetura da cidade, seu patrimônio físico e cultural tornaram Passo Fundo polo educacional, de saúde, cultural e religioso.
Emancipada, Passo Fundo construiu sua própria história. E os tijolos dessa história são também físicos. Nossa viagem prossegue. A Capela São Miguel, símbolo do crescimento da cidade, é nossa próxima parada. E, a partir desta, a visita prossegue com prédios que fizeram e fazem parte da cidade.

