“Intoxicada gravemente pela poesia”, como ela mesma brincava, a cearense Rachel de Queiroz entrou para a história há 34 anos como a primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Eleita em 04 de agosto de 1977, por 23 votos contra 15, e um branco, a escritora venceu o jurista Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda, tornando-se pioneira entre os imortais. A posse aconteceu em 04 de novembro de 1977, sucedendo o jurista, crítico e jornalista Candido Motta Filho, ocupando a Cadeira 5, na qual foi fundada por Raimundo Correia, tendo como patrono Bernardo Guimarães e ocupada também pelo médico Oswaldo Cruz e o pelo poeta Aluísio de Castro.
Em seu discurso de posse a escritora revela em fragmentos literários como se intoxicou gravemente pela poesia. No ato, também evidenciou a vida do seu antecessor imortal na Casa de Machado de Assis, Candido Motta Filho. “Se houve, neste país, um homem de letras a quem não se pudesse taxar de alienado, como é de gosto dizer-se agora, ou de encerrar-se em torre de marfim, como no tempo em que ele fez a sua opção na vida, será esse homem aquele cuja saudade ainda choramos, de cuja Cadeira me acerco, apesar do direito que me dais, meio receosa de ocupá-la.”, enfatizou Queiroz.
[stextbox id=”custom” caption=”Biografia” float=”true” width=”250″]Rachel de Queiroz iniciou a carreira em 1927, publicando trabalho no jornal O Ceará, com o pseudônimo de Rita de Queiroz, tornando-se redatora. Mais tarde, colaborou com vários jornais, como O Estado de S. Paulo, O Diário de Notícias, Diário da Tarde, O Jornal e Diário de Pernambuco, e também com a revista O Cruzeiro. O primeiro romance da escritora, O quinze, foi publicado no final de 1930, repercutindo no Rio de Janeiro e São Paulo. Publicou mais de duas mil crônicas, além de escrever peças de teatro e livros de literatura infantil. Também destacou-se como tradutora de livros.
Rachel de Queiroz foi membro do Conselho Federal de Cultura, desde a sua fundação, em 1967, até sua extinção, em 1989. Participou como delegada brasileira da 21ª Sessão da Assembléia Geral da ONU, em 1966, trabalhando especialmente na Comissão dos Direitos do Homem.
[/stextbox]Para ela, Motta Filho ocupou a Cadeira 5, “graças à sua essencial condição de homem de letras, atividade que, a par das outras, exerceu com fidelidade, constância e talento. Caracterizava-se como escritor, além da lucidez e da originalidade do enfoque nos temas abordados, pela exposição clara e bem informada, aliada à preocupação estética da forma.”. E finalizou o discurso revelando que em certo momento, quando esteve com o então Ministro Motta Filho, e o assunto eram netos, ele deixou escapar uma certa preocupação em relação à vocação profissional do seu neto Nelsinho e um possível preconceito da elite. Naquele momento, Rachel de Queiroz teria lhe dito com vigor: “- Mas eu sou fã do Nelsinho! Fã de firma reconhecida! Tenho os discos com as músicas, não perco a coluna dele no jornal, e sempre que posso o vejo na TV! É um doutor em música popular.”. O neto em questão, é o jornalista, compositor, roteirista, produtor musical e letrista, Nelson Cândido Motta Filho, o famoso Nelson Motta.
Nascida em 17 de novembro de 1910, em Fortaleza (CE), a escritora Rachel de Queiroz era descendente de literários, pois tinha em sua genética o sangue da família de José de Alencar. Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04 de novembro de 2003, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Prêmios:
-Prêmio Nacional de Literatura de Brasília para conjunto de obra em 1980;
-Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Ceará, em 1981;
-Medalha Mascarenhas de Morais, em solenidade realizada no Clube Militar (1983);
-Medalha Rio Branco, do Itamarati (1985);
-Medalha do Mérito Militar no grau de Grande Comendador (1986);
-Medalha da Inconfidência do Governo de Minas Gerais (1989);
-Prêmio Luís de Camões (1993);
-Prêmio Moinho Santista, na categoria de romance (1996);
-Diploma de Honra ao Mérito do Rotary Clube do Rio de Janeiro (1996);
-Título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2000);
-Em 2000, foi eleita para o elenco dos “20 Brasileiros empreendedores do Século XX”, em pesquisa realizada pela PPE (Personalidades Patrióticas Empreendedoras).
Bibliografia:
Romance
–O quinze. Fortaleza, 1930 (Prêmio da Fundação Graça Aranha);
–Caminho de pedras. Rio de Janeiro, José Olympio, 1937.
–As três Marias. Rio de Janeiro, José Olympio, 1939 (Prêmio da Sociedade Felipe de Oliveira).
–Dora, Doralina. Rio de Janeiro/Brasília, José Olympio/INL-MEC, 1975.
–O galo de ouro. Rio de Janeiro, José Olympio, 1985.
–Memorial de Maria Moura. São Paulo, Siciliano, 1992.
Teatro
–Lampião (peça dramática em cinco atos). Prêmio Saci de O Estado de S. Paulo. Rio de Janeiro, José Olympio, 1953; 3ª ed., 1990.
–A beata Maria do Egito (peça em três atos e quatro quadros). Prêmio Melhor Peça Teatral, da Associação dos Críticos Teatrais de São Paulo (1957); Prêmio de Teatro do INL (1957); Prêmio Roberto Gomes, da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro (1957). Rio de Janeiro, José Olympio, 1958; 3ª ed., ver., 1990. Montagem e encenação no Teatro dos Grandes Atores – Barra, Rio de Janeiro, 1997.
–Teatro. São Paulo, Siciliano, 1995.
Crônica
–A donzela e a moura torta. Rio de Janeiro, José Olympio, 1948.
–100 crônicas escolhidas (Nota de Gilberto Amado). Rio de Janeiro, José Olympio, 1958, 2ª ed., São Paulo, Siciliano, 1994.
–O brasileiro perplexo. Rio de Janeiro, Ed. do Autor.
–O caçador de tatu (seleção e prefácio de Herman Lima). Rio de Janeiro, José Olympio, 1967.
–As menininhas e outras crônicas. Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.
–O jogador de sinuca e mais historinhas. 1980.
–Mapinguari (integrando O brasileiro perplexo e O jogador de sinuca e mais historinhas). Rio de Janeiro, José Olympio, 1989; 2ª ed., com o título O homem e o tempo. São Paulo, Siciliano, 1995.
–As terras ásperas. São Paulo, Siciliano, 1993.
Literatura infanto-juvenil
–O menino mágico (com 67 ilustrações de Gian Calvi). Rio de Janeiro, José Olympio,. 1967; 17ª ed., 1992; 21ª ed., São Paulo, Siciliano, 1997.
–Cafute e Pena-de-Prata (com ilustrações de Ziraldo). Rio de Janeiro, José Olympio, 1986. 3ª ed., 1991; 9ª ed., São Paulo, Siciliano, 1996.
Memórias
–Tantos anos (com Maria José de Queiroz). Rio de Janeiro, Siciliano, 1998.
Diversos
-Seleta (org. por Paulo Rónai; notas e estudos do prof. Renato Cordeiro Gomes). Rio de Janeiro, José Olympio, 1973; 22ª ed., 1991.
-Discursos na Academia (com Adonias Filho). Rio de Janeiro, José Olympio, 1978.
-Arnaldo Niskier (discurso de recepção na Academia). Rio de Janeiro, Bloch, 1984.
-Obra reunida. Vol. I (Nota da Editora; Louvado para Rachel de Queiros | Manuel Bandeira |; Vida e obra de Rachel de Queiroz | Antônio Carlos Villaça |; Uma revelação
– O quinze | Augusto Frederico Schmidt |; Caminho de pedras | Graciliano Ramos | ): O quinze, João Miguel e Caminho de pedras. Vol. 2 (As três Marias | Mário de Andrade |): As três Marias e Dora, Doralina; Vol. 3: O galo de ouro e A donzela e a moura torta; Vol. 4 (Rachel de Queiroz | Herman Lima | ): 100 crônicas escolhidas e Caçador de tatu; Vol. 5 (Nota introdutória | Sérgio Milliet |; A beata Maria do Egito | Paulo Rónai | ): Mapinguari, Lampião e A beata Maria do Egito.
-CD Rachel de Queiroz – historinhas e crônicas, lidas por Arlete Salles. 1º vol. da Coleção “Os Imortais”, da Academia Brasileira de Letras, 1999.
Livros didáticos
–Meu livro de Brasil 3 (educação moral e cívica – 1º grau). Rio de Janeiro, José Olympio/Fename/MEC, 1971.
–Meu livro de Brasil 4 (educação moral e cívica – 1º grau). Rio de Janeiro, José Olympio/Fename/MEC, 1971.
–Meu livro de Brasil 5 (educação moral e cívica – 1º grau). Rio de Janeiro, José Olympio, 1971. Todos em co-autoria com a professora Nilda Bethlem.
–Luís e Maria (cartilha de alfabetização de adultos) em co-autoria co a professora Maria Vilas-Boas Sá Rego. São Paulo, Lisa, 1971.
Em colaboração
-Brandão entre o mar e o amor (romance) (Co-autoria com: Aníbal Machado, Graciliano Ramos, Jorge Amado, José Lins do Rego). São Paulo, Marins, 1942.
–Nove elas são (crônicas) (Co-autoria com: Maria Eugênia Celso, Emi Bulhões de Carvalho, Dinah Silveira de Queiroz, Lygia Fagundes Telles, Ondina Ferreira, Leandro Dupré, Lasinha Luís Carlos, Francisca Barros Cordeiro). Rio de Janeiro, Freitas Bastos, 1957.
–História do acontecerá (co-autoria com: Álvaro Malheiros, André Carneiro, Antônio Olinto, Clóvis Garcia, Dinah Silveira de Queiroz, Leon Eliachar, Zora Seljan). Rio de Janeiro, GRD, 1961.
–O mistério dos MMM (romance) (Co-autoria com: Viriato Correia, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Jorge Amado, José Conde, Guimarães Rosa, Antônio Callado, Orígines Lessa). Rio de Janeiro, O Cruzeiro, 1962.
–Elenco de cronistas modernos (Co-autoria com: Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Rubem Braga). Rio de Janeiro, Sabiá, 1971; a partir da 5ª ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 1976.
-“Noel Nutels”, em Memórias e depoimentos, de Noel Nutels (com vários autores). Rio de Janeiro, José Olympio, 1974.
No Exterior
Estados Unidos:
-The three Marias. Trad. de Fred. P. Ellison. Ilustr. de Aldemir Martins, Austin, University of Texas Press, 1963.
-Dôra, Doralina. Trad. de Dorothy Scott Loos. New York, Avon Books, 1984.
Japão:
-O quinze. Tóquio, Shinsekaisha, 1978.
-Lampião. Tóquio, 1964.
França:
-Dora, Doralina. Trad. de Mário Carelli. Paris, Stock, 1980.
-L’année de la grande sécheresse (O quinze). Paris, Sock, 1986.
Alemanha:
-Das Jahr 15 (O quinze). Suhreamp Verlag, Frankfurt am Main, 1978.
Portugal:
-3 romances (O quinze, João Miguel, Caminho de pedras). Lisboa, Livros do Brasil (s.d.).
-O quinze (s.d.).
Fonte: Academia Brasileira de Letras – www.academia.org.br

