Juremir e o cinema

Em 2005 conversei com Juremir Machado após o término de um evento sediado na UPF. Um bate-papo sobre cinema.

Juremir Machado é um jornalista conhecido por ser crítico e por falar o que pensa, nos veículos de comunicação o qual atua, em palestras e eventos. Seus assuntos mais frequentes transitam pela política, educação e comunicação.  Aqui delimitamos a temática em um bate-papo sobre cinema. Em 2005, ano da entrevista, os filmes em destaque no cinema nacional eram Dois Filhos de Francsico, Casa de Areia, Cinema Aspirinas e Urubus, Cidade Baixa, Meu Tio Matou um Cara e O Casamento de Romeu e Julieta.

Fabiana: Quando eu te falo em cinema, o que te vem primeiro a mente?

Juremir: Bom, vêm alguns diretores, os quais eu gosto muito como Win Wenders. Também, vêm alguns filmes brasileiros que eu gosto, filmes do Glauber Rocha, por exemplo. Que lembra bem essa idéia de entrar numa máquina do tempo, de uma viagem, sair do mundo, entrar em outro mundo. É algo sempre muito bom. Cinema é uma imagem de fantasia, de sonho, de certa irrealidade que aprofunda a realidade.

F: Se você fosse falar sobre um filme, não precisa ser um filme atual, mas um filme que fala da atualidade principalmente política. Você indicaria que tipo de filme?

J: A tem muitos filmes, atualidade política, política, eu não sei, mas enfim, que fala do mundo de hoje, de maneira que me parece interessante. Filmes do Tarantino, filmes do Wood Allen. São muitos filmes que pegam uma ou outra faceta da nossa realidade. Outro dia eu vi, por exemplo, um filme do Cacá Diegues, acho que não está fazendo muito sucesso, mas ainda assim é um bom filme que é O Maior Amor do Mundo, fala da realidade brasileira, da miséria, da violência, das drogas, das esperanças… É um bom filme no sentido de uma introdução à realidade brasileira.

F: E você acha que o aluno em comunicação hoje está preparado para fazer cinema?

J: Eu acho que os alunos em geral gostam muito de cinema, porque tem isso justamente da imagem, da glamourização das celebridades. O que eu creio é que é uma das vertentes mais admiradas pelos alunos, e eles sabem fazer. Lá na PUC tem a faculdade de cinema e os alunos são muito criativos, muito bons, eles vão rápidos nisso aí. Há toda uma cultura da imagem, ao qual o cinema só pode corresponder.

F: E o que você pensa da recepção, no caso, “como que eu recebo ele”, estando dentro de casa ou estando dentro da sala de cinema. Qual é a diferença entre os dois?

J: A tem diferença? É clássica a diferença. A sala de cinema cria o próprio ambiente no cinema. Há quem diga até que, o cinema é antes de tudo a sala de cinema, o escuro, as pessoas abstraindo todo o resto, o sujeito não levanta para ir ao banheiro, não tem pipoca, agora também tem às vezes, mas em fim, é uma situação de abstração, é um ambiente, uma atmosfera especial. Em casa é com menos concentração, embora lá também existam todas estas tecnologias que teriam que ter um cinema em casa, uma tela grande, uma sala adequada e tudo mais. Eu acho que a sala de cinema, ela tem lá suas vantagens, inclusive de tirar o sujeito de casa, de sair pra um programa, um acontecimento, uma realização. Ela tem uma especificidade, mas também, eu acho que os grandes filmes, eles continuam grandes filmes vistos em qualquer lugar, na telinha da televisão, ou em qualquer lugar. É claro que não são as condições ideais, a condição ideal é a tela de cinema, a tela grande da sala de cinema, e tudo mais.

F: Uma dica de filme bom, e uma dica de filme que você não indicaria para ninguém assistir:

J: Um filme clássico, eu acho que um dos melhores que eu já vi, Os vivos e os Mortos, de John Huston. Acho que é um filme pra ver sempre. Filme que eu não indicaria, bom, eu não indicaria nenhum filme destes de catástrofe, de violência, e os filmes americanos por excelência não indicaria. Mas eu não teria nenhum assim, especifico.

F: Então levando para o bom e para o ruim. Um grande filme e um pequeno filme?

J: O grande filme?? (pausa) São muitos, e, os filmes brasileiros em geral andam ruins. É difícil achar um filme brasileiro bom. É uma pena isso. Eu gosto de ver filmes brasileiros, eu gosto de ver tudo aquilo que fala de nós, do nosso país, das coisas que a gente vive. Mas eles estão muito apegados a idéia de fazer filmes para Rede Globo, estão muito (modernizados), então isso faz com que eles percam profundidade, experimentação, qualidade estética, inovação, e tudo mais.

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