A voz da mulher na política de Passo Fundo

A visão da figura feminina na política, desde seu cargo até a representação.

  

Foto divulgação. Cartaz da TSE na participação da mulher
Foto divulgação sobre a camapanha da TSE na participação da mulher

Mais da metade do Brasil é composto pelo publico feminino, de acordo com o Governo Federal pouco mais de 51,7% do total. Em um ano de eleições, além de ver as propostas dos candidatos aos cargos de prefeitos e vereadores, deve-se prestar atenção na divisão representativa entre candidatos homens e mulheres.

Ao que se sabe a participação política das mulheres é prova real sobre isso, seja como eleitoras, com o poder de voto desde os anos 1930, tão quanto como candidatas a cargos públicos, porém, esse processo é de forma lenta. Ao mesmo tempo em que é tímida a presença crescente de candidatas, é algo importante para fortalecer a democracia com o público feminino envolvido. Representantes mulheres se faz necessário para a luta de seus direitos no contexto atual.

Em Passo Fundo não seria diferente, analisar detalhadamente quais as metas que se deseja alcançar e o seu gênero, afinal, o público feminino é dominante no território nacional, mas, no cenário politico não é bem assim. A capital do norte gaúcho tem quase 200 mil habitantes e a disputa pelas 21 vagas de vereadores municipais estão em 88 mulheres e 186 homens, um total de 270, o que significa que mais da metade dos concorrentes pertencem ao gênero masculino. Já na disputa pelo cargo de prefeito municipal continua a predominância dos homens, num total de 04, e apenas uma mulher é candidata a vice-prefeito.

Foto divulgação. Nadja Maria Hartmann
Foto divulgação. Nadja Maria Hartmann

Desta forma, a maioria das mulheres ainda não se sente representadas, como a Mestre em Comunicação e professora da UPF, Nadja Maria Hartmann. Ela diz que apesar dos avanços não se sente representada como mulher, “uma vez que somos a maioria do eleitorado e a minorias nas esferas de poder. O sistema de cotas, garantindo vagas para mulheres nas nominatas dos partidos nas eleições, ampliou o espaço, mesmo assim, as mulheres ainda não conquistaram os cargos de comando nas Executivas dos partidos. Ou seja, são lembradas apenas no momento que os partidos se veem obrigados pela legislação a preencher as cotas. Além disso, a política é um espaço que repete estereótipos machistas, como a tese muitas vezes defendida que “mulher quando entra na política, se masculiniza” ou deputadas que são eleitas “Musas do Congresso” em Brasília, entre outros exemplos”.

Foto divulgação. Movimento de Mulheres Olga Benário Mariah Teixeira
Foto divulgação. Movimento de Mulheres Olga Benário Mariah Teixeira

Na visão da integrante do “Movimento de Mulheres Olga Benário”,  Mariah Teixeira, as cotas são positivas acerca da representatividade das mulheres nos espaços de poder. Mas isso não é o suficiente, as pessoas que disputam essas esferas precisam de formação política e não só de uma candidatura aleatória. No espaço atual, a jovem diz que a política não é um espaço que aceita as mulheres, porque historicamente, o segundo sexo, que serve é o espaço da esfera privada e ao homem é dado o direito da vida pública, “o que isso significa que o posto mais alto que uma mulher pode chegar é ser a bela, recatada, do lar e primeira-dama e não a presidenta da república”, disse Mariah.

Foto divulgação. Doutora Patricia Kelzer
Foto divulgação. Doutora Patricia Kelzer

Já a Doutora em Filosofia, Patricia Kelzer, que é professora na Universidade de Passo Fundo, fala que a política brasileira não representa grande parte da sua população, bastam ver quem são os parlamentares, senadores, deputados estaduais e federais, onde 4% da população brasileira são empresários, mas, correspondem 43% dos deputados, o que significa que a Câmara dos Deputados tem dez vezes mais empresários que o Brasil. Patrícia explica: “Eu, como mulher, não me sinto representada pela política brasileira, os dados deixam claro: 51,5% da população brasileira é de mulheres, mas o Brasil tem menos mulheres no Legislativo que o Oriente Médio. Com apenas 9% de representação feminina na Câmara e 13% no Senado, nosso Congresso está em 116º em um ranking de 190 países, como indica pesquisa realizada pela União Inter-Parlamentar. São apenas 45 deputadas, num total de 513 (468 são homens). E dez senadoras, de um total de 81 integrantes. Podemos perceber que o congresso brasileiro representa apenas homens, brancos, de classe alta, já que uma eleição para deputado custa em média 6 milhões de reais. Uma pequena elite de empresários e ruralistas (temos inclusive a chamada bancada ruralista), heterossexuais, cisgêneros, que não condiz em nada com a imensa maioria da população. Estou destacando aqui a política no cenário nacional, mas se analisarmos em nível municipal notaremos que nada se modifica, pode-se notar inclusive que sobrevive um certo cenário coronelista. Eu sou oriunda de uma cidade menor que Passo Fundo, de 80 mil habitantes, no noroeste do Estado, onde 3 famílias dominam a política há pelo menos quatro décadas.” relata Patrícia.

A mulher por sua vez, está conquistando cada vez mais espaço, e para isso, na política não deve ser diferente, Mariah ressalta “ que o papel da mulher na política não é só sobre uma disputa de cargos, ele tem que estar principalmente nas ruas, na luta, nas ocupações urbanas. Só a organização de mulheres vai gerar um resultado prático. O exemplo da Casa de Referência da Mulher Tina Martins, um grupo de mulheres que ocupou um prédio do estado abandonado em Belo Horizonte e transformou em casa abrigo, a primeira presidenta mulher do país prometeu em todas as capitais, e foram feitas somente em duas. A prova de que as mudanças vêm da organização.” Já a professora Nadja acredita que a política deve ser a representação da sociedade como um todo: homens, mulheres, negros, gays, empresários, trabalhadores, educadores, etc… “No momento que um gênero ou uma classe monopoliza os espaços políticos, a política deixa de ser uma representação democrática e igualitária. As diferentes representações da sociedade são importantes para garantir as pluralidades das agendas e prioridades dos poderes.” Na mesma linha de pensamento a professora Patrícia levanta e aponta alguns detalhes que podem fazer a diferença na educação políticas das mulheres já na escola, para um maior futuro participativo da classe feminina, que deve ser desde a infância, para educar as meninas de forma que elas saibam que podem ocupar esses espaços, conforme ela complementa: “Toda a participação política se dá através de uma educação para a cidadania, mas enquanto se seguir educando os filhos à liderança, para a criatividade e competição, e as filhas para a passividade, para o cuidado e compreensão, estarão errando com ambos. Se está transmitindo valores errôneos para nossos meninos e meninas, fazendo os meninos pensarem que não podem demonstrar seus sentimentos e as meninas pensarem que só podem ter profissões restritas, ligadas ao cuidado. Que a beleza é mais importante que a inteligência, ou o esforço para desenvolver bem uma técnica, que elas têm que ser boas mães e esposas e não podem ser líderes, empresárias, engenheiras ou presidentas de seus países. Educar para o cuidado e para compreensão é importante, mas porque só ensinamos esses valores às mulheres, e a liderança aos homens. Precisamos ensinar às nossas filhas que podem ser líderes, isso fará com que se insiram na vida pública, e aqui, novamente, a representatividade importa”.

Foto de divulgação. Mais mulheres na Câmara de Deputados em Brasília - DF
Foto de divulgação.
Mais mulheres na Câmara de Deputados em Brasília – DF

A participação da mulher é extremamente importante, Nadja aponta fatos como o papel que deve ser assumido pelas famílias, educadores e partidos políticos. Com uma mudança cultural com a quebra de paradigmas na sociedade. “Por isso, é importante valorizar as conquistas das mulheres, não só na política, mas também em outras áreas, demostrando que podemos sim ser agentes de mudanças. Porém, isso passa também pela mudança de papeis dentro de casa, com a divisão de tarefas igualitária. Enquanto a mulher continuar obrigada a manter jornadas duplas e, muitas vezes, até triplas de trabalho, assumindo além da sua atividade profissional, também o cuidado com a casa e os filhos, será muito difícil que ‘sobre tempo’ para elas se interessarem por política.”

Patrícia complementa os pontos ditos por Nadja, no dever de “mostrar para as meninas, que há deputadas, presidentas, senadoras e admirá-las, fará com que possam sonhar em ser elas próprias deputadas, presidentas ou senadoras no futuro. Assim, mudamos a lógica de mulheres devem permanecer na esfera do lar, essa lógica arcaica, mas que ainda permanece na cabeça de muitos retrógrados, e vamos modificando a realidade. Políticas públicas também são importantes, como reservas de vagas para mulheres em cargos públicos”.

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