Enquanto a Copa do Mundo acontecia em terras brasileiras, uma preocupação tomava conta da sociedade em geral: o fato da Brigada Militar estar concentrada no segundo maior evento esportivo mundial, uma vez que milhares de policiais prestaram serviço nas capitais brasileiras, onde se encorparam ao batalhão de segurança para a chegada dos estrangeiros nas cidades sedes.
Em virtude do suporte necessário para cobrir o evento – e devido a enorme aglomeração de pessoas em lugares chaves do país -, militares do Brasil todo deixaram suas cidades no interior para integrar os grupos de policiamento das capitais. E em Passo Fundo não foi diferente. Na primeira quinzena de Maio até o final de Junho, 55 brigadianos, em conjunto com mais de 100 profissionais do 3º Batalhão de Operações Especiais (BOE) viajaram a Porto Alegre para trabalhar. Entretanto, a experiência desses policiais ao participar da segurança de uma Copa do Mundo também foi marcada pelos anseios da população passo-fundense sobre a criminalidade. Tema no qual repercutiu em massa entre os habitantes da cidade e foi encarado como um alerta.
‘’De todas as cidades que cederam efetivo policial para Porto Alegre, o município de Passo Fundo foi o único que não aumentou os índices de criminalidade’’
Quem revelou essa informação foi o tenente comandante da Brigada Militar e também chefe do 3º Regimento de Polícia Montada, Fernando Carlos Bicca, que esclareceu quais foram as providências tomadas pelo efetivo policial para chegar a esses resultados.
Segundo ele, a Brigada Militar de Passo Fundo planejou suas atividades antes mesmo de ceder parte dos seus militares. Desde a suspensão de férias e licenças até a abolição de tarefas administrativas e operacionais. Todos os procedimentos foram detalhadamente estudados. Medidas que foram estabelecidas por necessidade. ‘’Mudamos a nossa rotina, tomamos as devidas providências para que essa ausência não fosse sentida’’, conclui.

A preparação
Mas algumas mudanças não repercutiram bem entre a equipe. De acordo com o tenente comandante Bicca, a corporação de brigadianos passo-fundenses lamentou a perda de uma fatia da equipe. A suspensão de férias e licenças, por exemplo – que seria um quantitativo de 16 a 18% do efetivo – foi uma das principais medidas adotadas.
Outra programação antecipada foi solicitar ao escalão superior um aumento da cota de horas extras. O pedido, no entanto, não foi aceito, e ao invés de aumentar, diminuiu a ordem em quase 9%. Em virtude dessa tentativa falha, houve um redirecionamento de carga horária para os turnos em que tradicionalmente há um aumento na criminalidade.
Conciliar tempo de serviço e bons resultados também foi uma meta da Brigada Militar. A alteração na rotina fez com que fosse necessário ganhar horas a mais de trabalho, em detrimento de outras tarefas secundárias. Para isso, casos como o de apresentação de foragidos na Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento foram extintos temporariamente. O processo mais rápido para essa situação foi o de apresentá-los diretamente ao Presídio Regional de Passo Fundo.
Segundo Fernando Bicca, outras ocorrências, como a de apresentar veículos recolhidos – produto de crime, encontrados abandonados – na Delegacia de Polícia, colaborou para que a equipe ganhasse duas horas de serviço. E, por opção de não encaminhá-los até o gabinete, passaram a entregá-los ao Agente de Guincho, para que fossem tomadas as devidas providências. ‘’Ganhamos tempo e ainda conseguimos resolver as questões de maneira correta e prática, foi um fator importante para obter resultados qualificados na segurança da cidade’’, comenta o tenente comandante do 3º RPMon.

O equilíbrio
De acordo com dados do 3º Regimento de Polícia Montada, o total de roubos durante o mês de Junho foi menor em comparação ao mês de Maio do mesmo ano, de 84 para 65 ocorrências. Concentrados em roubos a farmácia, postos de combustíveis, – furto de pedestres e furto e roubo de veículos.
Para o tenente comandante da Brigada Militar de Passo Fundo, as estatísticas durante a Copa do Mundo deve-se ao estudo programado pelos militares. No entanto, reforça que o planejamento foi temporário e não deve ser utilizado indefinidamente. ‘’Mantivemos a estabilidade possivelmente porque utilizamos a estratégia mais adequada para essa situação, mas muitas coisas que fizemos não podem ser incorporadas, ainda mais sob risco de falharmos em outros tipos de atividade’’, relata Bicca.
É verdade que não houve diminuição de crimes no município, como apreensão a armas de fogo e Lei Maria da Penha. No entanto, surpreendentemente, ocorrências como furto e roubo de veículos não aumentaram. A Copa do Mundo passou e, segundo Fernando Bicca, o quadro em que Passo Fundo se encontra é o mesmo. O trabalho realizado pela Brigada Militar apaziguou o medo da população e, sobretudo, deixou a Capital do Planalto Médio entre as cidades em que menos houve alteração nos índices de criminalidade, mesmo sem parte do seu efetivo.

