Embora filosofia e religião sejam dois tipos de saberes diferentes, ambas respondem, a partir de perspectivas diferentes, às mesmas inquietações.
Duas correntes de pensamento explicam a história do mundo e podem responder perguntas que o homem vem fazendo há muito tempo. A religião e a filosofia são elementos chaves para estabelecermos o desenvolvimento histórico da humanidade. Ambas nascem da consciência da mortalidade, da finitude e querem explicar a existência humana aos sujeitos.
É difícil adquirir uma compreensão adequada da política internacional sem que se saiba a importância e influência da religião e da filosofia. O judaísmo, por exemplo, é uma religião que está muito envolvida com a inteligência e o estudo. O Torah, seu livro sagrado, diz que com o estudo se chega ao sucesso. Uma prova da inteligência dos judeus é o fato de que eles já ganharam 20% dos prêmios Nobel até hoje, sendo que a população judia corresponde a apenas 0,25% da população mundial. Já sociedades que seguem o budismo têm baixos índices de violência. No momento que uma pessoa passa a ser budista ela aprende cinco preceitos: não matar, não se intoxicar com drogas ou bebidas, não roubar, não ter má conduta sexual e não mentir.

Embora filosofias e religiões tenham surgido para auxiliar os humanos a compreenderem o sentido da vida, para o Professor Dr. do curso de Filosofia da Universidade de Passo Fundo, Francisco Fianco, religião e filosofia são coisas completamente distintas. Enquanto a religião nega a realidade e projeta outros mundos ou outras existências, como um modo de explicar a existência humana, a filosofia se alimenta justamente dessa grande incógnita que é a existência, vendo na ausência de sentido espaço para a criação livre de sentidos. Opinião compartilhada pelo professor Dr. de Ciências da Religião, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Eulálio Avelino Pereira Figueira, “na filosofia seu objeto primeiro é produzir uma visão sobre o mundo independente de qualquer referencial mítico religioso” comenta.
Confira abaixo, alguns pontos da conversa do Nexjor com o professor Francisco Fianco e com o professor Eulálio Figueira.
Guerras e religião
Os registros da história mostram inúmeros exemplos de fanatismo e intolerância. Já houve lutas de uma religião contra outra e se travaram diversas guerras em nome da religião. Para Fianco, o problema da intolerância não é específico da religião, e sim do monoteísmo. “Eu costumo dizer que no monoteísmo o que mais me assusta é a parte mono do que a parte teísmo. A parte mono é assustadora, pois quer dizer um, único, exclusivo, ou seja, se tu não concordas com o deus que esse cara gosta, tua visão de mundo não presta e deve ser eliminada, ele pode se explodir e, pior, te explodir junto. Ou te queimar, apedrejar, enfim, existem milhares desses exemplos do amor divino nas religiões dos livros sagrado”. Em contra ponto, Figueira comenta que muitas vezes se atribui à religião culpas que não lhe cabem. “É necessário que se elimine nestas questões das guerras o que é religioso e o que é político, o que há de interesse político que se coloca sob a capa do religioso”.
Filosofias e visões de mundo
Cada época se constrói baseado em filosofias, ou seja, em baseado em grandes modelos de pensamento que, cada um a seu modo, vão produzir visões de mundo, de homem, de sociedade e de divindades. Figueira diz que, já em seu surgimento, a filosofia causou uma ruptura com o contexto mitológico e religioso para os gregos do séc. IV a. C. Mas essa filosofia, apesar de inovadora, não conseguiu romper com o pensamento de além-mundos da lógica religiosa. Fianco comenta que durante a Idade Média, com o Renascimento e principalmente o Iluminismo, o pensamento filosófico construiu um projeto de novo mundo a partir da racionalidade humana. “Mas foi só um momento, pois mesmo esses ideais revolucionários foram transformados em algo muito próximo da religião” completa.
Fé em simbologias
A arte, as emoções, pinturas, esculturas, peças de altar, cantos, são radicalmente formas de linguagem humana. Figueira comenta, que estas manifestações têm servido às religiões para que estas não apenas comuniquem suas formas de vida, mas usem destas linguagens para se fazerem perpetuar nas gerações. Para o filósofo Fianco, “o ser humano, como um ser simbólico e consciente de sua fragilidade, se agarra a elementos que reforcem sua segurança, mesmo que isso não seja racional, que não faça sentido. É o reflexo de um traço do pensamento infantil” ressalta.
Quem vê de fora uma religião ou uma filosofia, enxerga apenas suas manifestações, e não o que significam para os indivíduos. O mundo está cada vez mais multicultural e os valores de cada época despertam novas ideias e evoluções. Religião e filosofia são duas possibilidades para auxiliar os humanos a responder as finalidades do existir, seja através da razão ou da fé.

