O tradicionalismo, pelo olhar de uma 1ª Prenda

“Dizem que o sol nasce para todos, mas parece que ele brilha com mais vontade nas terras do Rio Grande do Sul.” – Francine Costa

foto: Diogo Zanatta
O gaúcho honra sua história, em especial o episódio de 20 de setembro de 1835, data do começo da Revolução Farroupilha.

A história do Rio Grande do Sul é antiga. Vem dos açorianos, dos italianos e alemães. Vem da revolução farroupilha, dos estancieiros e da gadaria se criando solta. Dos campeiros e das mulheres que cuidavam das fazendas com mãos de ferro quando os maridos saíam para a guerra. A história do Rio Grande do Sul é rica, e dela é que surgiu a tradição e o tradicionalismo. Esses sim são relativamente novos. O tradicionalismo é o gaúcho da atualidade preservando de todas as formas a nossa história, para que essa não se perca nas páginas de qualquer livro antigo. E o tradicionalismo também é história.

No final da segunda guerra mundial, o RS encontrava-se tomado pela cultura americana. As roupas, bebidas, livros e diversos outros produtos tinham influência direta dos Estados Unidos. Foi uma época em que a cultura local estava esquecida, reflexo da recente ditadura imposta por Getúlio Vargas, que proibia manifestações de cultura regional.

No ano de 1947, o tradicionalismo gaúcho começa a se formar da maneira que conhecemos hoje. Um grupo de oito jovens liderados por João Carlos Paixão Côrtes, estudantes do colégio Júlio de Castilhos de Porto Alegre formaram o Grupo dos Oito. Esse grupo foi quem deu início ao tradicionalismo, com o objetivo de resgatar a história e os costumes do Estado.

Tudo começou quando o grupo pediu permissão para que uma centelha da Pira da Pátria fosse retirada, para que se formasse então a Chama Crioula. Nessa ocasião ocorreu a primeira Ronda Crioula, iniciando os primeiros festejos farroupilhas do estado. A ronda acorreu do dia 7 a 20 de setembro, ligando duas grandes datas: a independência do Brasil e o início da revolução farroupilha. Durantes os festejos foram organizados bailes, desfiles escolhendo a mais bela prenda, concursos para compor poesias sobre o Rio Grande do Sul, entre diversas outras atividades.

Nesta época, Paixão Côrtes recebeu um convite para que o Grupo dos Oito escoltasse os restos mortais do general farrapo David Canabarro, que seriam transferidos de Santana do Livramento para Porto Alegre. O grupo prontamente aceitou a missão, e desde então a semente do tradicionalismo foi se alastrando e tomando grandes proporções.

foto: estampa da tradição fotografia
Invernada adulta do CTG Lalau Miranda, um dos mais antigos do RS, com 62 anos desde sua fundação.

No ano de 1948 foi inaugurado o primeiro Centro de Tradições Gaúchas do Rio Grande do Sul: o 35 CTG, em Porto Alegre. A partir disso começaram as pesquisas sobre músicas tradicionais e invernadas de danças surgiram, além da escolha das prendas representantes da entidade.  Já no ano de 1966, as entidades tradicionalistas já existentes resolveram se organizar e criar um órgão de controle do tradicionalismo no estado. Foi então que surgiu o Movimento Tradicionalista Gaúcho, ou simplesmente MTG.

O MTG congrega atualmente cerca de 1400 entidades tradicionalistas, conhecidas como CTG’s, além de piquetes, grupos de tradição folclórica, entre outros. O objetivo é unir essas entidades e orientá-las sobre as normas gaúchas, para que as tradições do Estado se perpetuem de maneira organizada. As entidades que querem participar de concursos, rodeios entre outras atividades do meio tradicionalista precisam se filiar ao MTG e seguir as regras impostas.

O tradicionalismo é a tradição em movimento. É cultuar as características gaúchas em qualquer data ou ocasião, fazendo com que o gaúcho tenha identidade inigualável. O Rio Grande do Sul possui uma cultura tão rica e diversa, capaz de transformar todos os gaúchos em irmãos, especialmente na Semana Farroupilha.

Somos privilegiados em morarmos em um estado que se mobiliza para dar espaço ao nosso passado. Respeitamos os nossos heróis e valorizamos quem já lutou para formar o estado nos moldes do tradicionalismo. Como prenda, acredito que essa cultura nos torna especiais, isso tudo sem desmerecer os demais estados do país, que também possuem sua cultura.

Há quem seja contra o tradicionalismo, e pode ter seus argumentos contrários, afinal, cada um tem direito de ter sua própria opinião. Mas não conheço uma prenda infeliz em servir seu estado, uma invernada que esteja dançando sem alegria no rosto ou um campeiro que esteja na lida por não ter outra opção. Quem é tradicionalista o é por amor, por se encontrar na música nativista e nas danças, por se apaixonar pela nossa história e por se sentir em casa em um CTG, fazendo dos demais tradicionalistas sua segunda família.

Como dizem os ditos populares, “quando vestimos a pilcha e nos denominamos prendas, estamos selando um compromisso. O compromisso firmado nas verdades do presente, respeitando o passado, e cuidando o futuro, para mantermos o que para nós é verdadeiro, com a consciência de que somos o cerne cultural que mantém viva a chama do Tradicionalismo”.

Marina Giolo, 1ª Prenda da 7ª Região Tradicionalista do Rio Grande do Sul

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