Capítulo I – Primeiros passos de Guilherme como “Gezinho”

Guilherme viveu sua décima segunda primavera no ano de 2008. Já na infância iniciou tragando incertezas junto a sua “galera”, um grupo de aproximadamente oito jovens, grande parte maior de idade.

-Meus amigos, os que não morreram, estão todos preso (sic).        

Fumava maconha todas as tardes após deixar sua turma de escola, sexta série do ensino fundamental. A mãe trabalhava, e o pai cuidava da oficina durante o dia.

-Daí comecei a sai com uns pia lá. Comecei a entrar no mundo do crime daí também. Daí meu pai não viu que eu tava nessa. Daí quando foi da conta eu já tava perdido (sic).

“Gezinho” virou o mascote de um dos “bandos” da cidade onde morava. Para estar junto, ainda criança, começou a realizar pequenos furtos.

– A galera colocava eu faze os robinho menor. Ai viram que eu era de fé. Ai comecei a andar com eles.

Por mais dois anos, Guilherme passou despercebido diante de sua família. Nem mãe, nem pai, perceberam que seu unigênito estaria envolvido com drogas e praticando furtos. O vizinho do menino – o que apresentou Guilherme ao grupo que agora faziam parte – protegia “Gezinho”.  Quando descoberto, o menino vivia os seus 14 anos. Foi então que Guilherme pensou que seria notado. Na incerteza do certo ou errado, temia a reação do pai quando esse descobrisse que seu filho não estaria só na maconha.

Eu cheguei a usa as droga bem pesada.  E só robando(sic).

– Meu pai. É que meu pai também é dependente, drogado. Daí ele, tipo, não me deu muito conselho. Eu via ele fazendo as coisa e achava que era o certo. Meu pai começo a sabe das coisa que eu fazia quando tinha quatorze ano. Ele usava também, daí nois saia junto. Mas tipo, pensei que o pai ia fala alguma coisa pra mim. Ia me reprende. Daí comecemo sai junto eu e ele (sic).

O caçula ganhou mais um parceiro do vício, e esse estava dentro de sua casa. Ao contrário do que pensava, o menino continuou sem ser filho, amigo, criança, sujeito.

Depois de revelada sua identidade de Esquecido Ladrão Drogado, Guilherme encontrava-se em um contexto que não existiam motivos de esconder-se. Foi como ladrão e drogado que passou a ser “valorizado”. Estava conhecido em sua cidade, por ser um município pequeno, cerca de dez mil habitantes. Hoje, reclama do preconceito que sofria na época ao entrar em estabelecimentos, ou mesmo, em andar na rua, mas deixa transparecer que foi através do crime que ganhou identidade. O vício levou o menino, com o consentimento do pai, ao extremo da criminalidade. A perda do sentido da vida era uma consequência da falta de valores. Já não fazia diferença matar ou morrer. Talvez fosse como na guerra: ou você atira ou é baleado. O menino passou a conviver com homicídios. Estava em débito, seria queimado. Tornou-se natural para “Gezinho” ver seus amigos “caducar” pessoas.

-É que os mais cabeça que andavam com nóis mataram um cara. Foi num baile, brigaram e mataram. Aí foram preso (sic). 

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