As boas mulheres da China

Obra baseada em relatos de mulheres chinesas que passaram pelas mais diferentes dificuldades, As boas mulheres da China é mais um daqueles livros de tirar o fôlego, além de uma grande lição de vida.

            Um livro daqueles para o qual você não dá nada. Começando pela capa, que não é nem um pouco atrativa e esbarrando, mais tarde, no preconceito com o nome da escritora, Xinran. O que o livro de uma jornalista chinesa tem a contribuir com a prática da profissão ou com nossas próprias experiências? O país é assolado por uma severa censura, o que, supostamente, não daria espaço para os jornalistas realizarem seu trabalho. Mas é justamente esse o caminho que leva a obra a ser tão cativante e interessante: a dificuldade pela qual a escritora passou ao tentar mostrar à população, por meio de um programa de rádio – Palavras na brisa noturna – o que as pessoas, em especial as mulheres desse país sofreram e ainda sofrem.

            Publicada em 2003, pela editora Companhia das Letras, na obra, Xinran constrói a narrativa por meio de relatos, diversificados e emocionantes, de mulheres que passaram pelas mais diferentes dificuldades. O primeiro, um dos mais impactantes, é a história de uma menina que sofria abusos do pai, adorava ficar no hospital e tinha como animal de estimação uma mosca. O modo com que a escritora conta a história, cheia de detalhes, faz com que consigamos sentir o momento pelo qual a menina passava, suas dificuldades e apreensões. Os demais casos expostos no livro, que tratam de abusos sexuais contra as mulheres, privação de direitos e supressão de sonhos, também passam ao leitor as vivências dessa parte da sociedade.

            A obra coloca em questão o papel social do jornalismo. Xinran recebia cartas de suas ouvintes, contava as histórias no ar, dava conselhos. Mesmo tendo que tomar cuidado com tudo o que falava, ela deu espaço àquelas que queriam e precisavam ser ouvidas. Também inovou ao receber ligações ao vivo no programa, o que era extremamente arriscado na época, pois a rádio na qual trabalhava poderia ser fechada se alguma coisa desse errado. Além disso, Xinran dá uma lição de como fazer uma boa entrevista e revela a dificuldade encontrada para abordar assuntos difíceis com mulheres que sofreram muito. Por exemplo, ao entrevistar algumas administradoras de um orfanato, que perderam toda a família no terremoto de 1976, passou pela provação de encaminhar uma entrevista que trouxe lembranças bastante difíceis.

            Ao contar todas essas histórias, mescladas com sua própria experiência, Xinran também mostra as dificuldades de uma China em processo de modernização, mas com uma cultura ainda opressora e sufocante. Suas histórias são baseadas principalmente na época da Revolução Cultural no país. Assim, a escritora consegue mostrar ao leitor as dificuldades pelas quais os cidadãos passaram.

            Emocionante, sensibilizante, chocante. As boas mulheres da China é um livro para aqueles que gostam de ler histórias reais, conhecer culturas diferentes e descobrir um outro lado da mulher, muito mais revelador.

             Xinran é jornalista, radialista e escritora chinesa. Nasceu em Pequim em 1958 e trabalhou em Nanquim até 1997, quando se mudou para Londres sozinha e após um ano buscou seu filho Pan Pan.

[xrr rating=5/5]

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