
O artesanato, técnica de trabalho manual artístico não industrializado, é utilizado pelo homem desde o início da sua história. Os primeiros artesãos começaram a fabricar seus bens no período neolítico (6.000 a.C). Aos poucos foi evoluindo, e muitos começaram a tirar sustento dessa prática. O artesanato, apesar de ser comercializado, não é considerado uma mercadoria, pois carrega valores, crenças e culturas.
Na maioria das vezes, tido como um hobby, uma válvula de escape para aliviar o estresse, ou até como um tratamento para alguns problemas físicos, o artesanato é tradicionalmente a produção de caráter familiar, para qual o produtor (artesão) possui os meios de produção (sendo o proprietário da oficina e das ferramentas). Entretanto, ele vem cada vez mais se tornando um ofício. O artesanato começa a virar um sonho de negócio na mesma medida em que a pessoa vai se aperfeiçoando na técnica. A ex-gerente de O Boticário, Simoni Canfild de Oliveira Nunes, de 39 anos, é um exemplo desse sonho. Há 10 anos trabalha com artesanato de madeira. Ela compra a madeira crua, ou com fundo branco, de decora, pinta, faz decoupage, craquelê, e mistura tecido e papel. Após quatro anos do nascimento do seu filho, buscou no artesanato uma ocupação para seu tempo vago. Já o tem como fonte de renda, e, como na maioria dos casos, começou a produzir seu artesanato em casa.

Na verdade, eu era gerente de O Boticário. Daí engravidei e, depois que ganhei meu filho, parei de trabalhar. Então, comecei a fazer cursos de pintura e madeira, como um hobby mesmo. Acabei gostando, montei meu ateliê em casa, comecei a vender peças e agora dou aulas.
Nexjor – As pessoas têm procurado o artesanato como hobby, ou já o procuram como fonte de sustento?
Atualmente, é para ter um sustento, um aumento na renda familiar. Já, na época em que eu comecei, a maioria fazia para hobby. E não é um campo fácil, tem muita gente trabalhando com isso. Assim, vêm as dificuldades.
Nexjor – Essas dificuldades seriam devidas a que?
A madeira encareceu bastante, o que era uma coisa bem mais acessível. Além dos produtos que você usa, tem mais a mão de obra. Então, você coloca um preço em cima da sua arte, e as pessoas acham caro, ou não dão o devido valor. Sem contar que abriram vários ateliês ao longo dos anos.
Outra forma de artesanato é o biscuit. Conhecido das geladeiras há anos, mas pouco explorado pelos artesãos. O biscuit é uma massa de fácil modelagem, aceita tingimento e pintura com diversos tipos de tintas e corantes. Geralmente são fixados imãs nos biscuits que são colocados na geladeira. Mas outra prática que vem se destacando com o passar dos anos é o biscuit como enfeito de bolos de casamentos, aniversários, lembrancinhas. Para fugirem do trabalho em casa, Simone e, sua amiga Danieli Bordignon Guedes, de 37 anos, abriram uma loja/ateliê. Enquanto Simone realiza seu artesanato e dá cursos no andar de cima da loja Art’s Country, Danieli, trabalha no andar de baixo.

Quando Danieli começou a criar biscuit, era mais uma brincadeira. Fez um cursinho para se entreter. Acabou gostando, e, quando uma amiga se casou, deu de presente para ela um bonequinho de biscuit. A partir daí, as decoradoras, doceiras e floriculturas queriam saber quem fazia os noivinhos, porque ninguém trabalhava com isso na época em Passo Fundo. E de boca a boca, chegaram a Danieli. Já faz 10 anos que o biscuit virou sua profissão, e procura a todo instante se aperfeiçoar, com novos cursos, técnicas.
Nexjor – Como funcionam os seus cursos?
Meus cursos são com aulas individuais. Como é algo muito minucioso, cheio de detalhe, preciso estar prestando atenção no que a aluna faz, porque, se ela fizer uma coisinha errada, já estraga toda a peça. Normalmente minhas alunas fazem o meu curso por hobby, alguma vez ou outra elas vendem as pecinhas, mas geralmente é só por hobby. E é por isso que ainda não encontrei dificuldades no que faço; o campo de trabalho da minha área não está saturado.
Nexjor – Você encontra algum tipo de dificuldade no artesanato como fonte de renda?
Antes eu encontrava algum, sim. Já agora não, porque com a internet fica muito mais fácil descobrir as coisas, ter um amparo. A minha matéria-prima é barata, eu mando vir minhas peças de São Paulo. Com a minha mão de obra, eu consigo ter um bom valor, porque ninguém faz essa parte que eu faço. Faço as roupas iguais às dos noivos, e não me prendo a feições humanas, procuro um padrão. Até para os bonecos ficarem divertidos.
A arte do biscuit não é apenas relaxante, ou uma alternativa de renda; ela vem sendo usada por pessoas com problemas nas articulações das mãos.“É excelente, pra quem gosta de trabalhos manuais. E, para pessoas que têm artrite nas mãos, é muito bom também. Os médicos já estão indicando este tipo de trabalho manual, para aliviar dores e ajudar no tratamento”.
Entretanto você só irá conseguir se sustentar como artesão, se tiver qualidade, e isso vem como consequência de vários outros fatores.
“Independente se tu sabes pintar, o fundamental é ter capricho e paciência. E você tem que ver se realmente é isso que você quer. Ter também muita persistência, porque tem muita concorrência. Você tem que tentar ter mais qualidade, bom acabamento, e se aperfeiçoar sempre. Fazer sempre cursos, se atualizar. Fazer isso é fundamental”, complementa Simoni.
Para quem quiser conferir um pouco sobre estes dois tipos de artesanato, e até mesmo fazer algumas aulas, a loja/ateliê Art’s Country da Simone, e da Danieli fica na Av.Brasil, na Galeria Central, em frente do ateliê Dy Paola.
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