Um dos lugares mais conhecidos da cidade esbarra, ironicamente, na ignorância da população
Cartão-postal da cidade de Passo Fundo, a praça Marechal Floriano, mais conhecida como “praça da cuia”, é visitada diariamente por centenas de pessoas. Seja para sentar nos bancos e colocar o papo em dia, seja simplesmente para um rápido passeio, o local faz parte da história do município. Nele, podemos encontrar alguns monumentos, como os do ex-prefeito César Santos, de Getúlio Vargas, de Túlio Fontoura e de Múcio de Castro.
No entanto, o que era para ser uma área de preservação ambiental e de lazer para a comunidade tem se revelado um espaço para cultivo do péssimo comportamento da população e da completa falta de respeito com o patrimônio público. Na tarde da última segunda-feira, dia 9, nossa equipe foi até a praça para avaliar a situação e percebeu que o maior problema é a falta de educação dos passo-fundenses.
Os banheiros não têm um cheiro muito agradável, mas o que mais anoja é perceber que a própria população é responsável por depredar a estrutura e pichar as paredes. Aí, fica a dúvida: adiantaria o poder público investir na melhoria da infraestrutura dos sanitários e na higiene do local se os usuários não sabem conservar ou, pelo menos, cuidar do que é seu? Será que também escrevem nas paredes com corretivo, sujam, jogam papel no chão e não utilizam a descarga em seus banheiros privados?
O principal monumento da praça, a cuia, é um dos pontos turísticos da cidade. Ao redor dela, crianças brincavam de pega-pega enquanto dezenas de pessoas caminhavam por entre as árvores. Alguns sentavam à sombra para amenizar o forte calor, outros namoravam e havia quem aproveitasse o fim da tarde para passear com o animal de estimação. Apesar disso, bastava olhar para o lado e perceber que o cenário não era assim tão “hollywoodiano”: próximo aos bancos que ficam de frente para a rua Moron, garrafas pets, copos descartáveis, papéis e sacolas ocupavam o espaço que deveria ser de uso exclusivo da vegetação.
Nesse contexto, fica difícil não se questionar: adianta cobrar da prefeitura projetos voltados à revitalização das praças? Vale a pena investir dinheiro em projetos que, passados alguns meses, serão vítimas do descaso dos moradores? Talvez, a higiene dos banheiros pudesse ser melhor e a iluminação dos postes pudesse ser restaurada, mas será que é vantajoso destinar uma verba para isso ou primeiramente as pessoas precisam se conscientizar sobre os seus atos?
Conversamos com o secretário interino de Serviços Gerais do município, Sérgio Rocha, sobre a revitalização da Praça Marechal Floriano. Segundo ele, o projeto vai entrar para licitação. “As duas primeiras licitações feitas para a reforma do piso foram desertas. Agora, veio o complemento de uma emenda parlamentar do deputado Beto Albuquerque – que está torno de R$480.000,00 a R$500.000,00 – previsto para manter a pavimentação original da praça, a reforma dos banheiros, da iluminação e a melhoria na cuia e no chafariz”, explica.
De acordo com o secretário, as principais reivindicações da população são os banheiros e a iluminação da praça. A limpeza do local é realizada, diariamente, por funcionários da prefeitura municipal, que limpam os sanitários e fazem a varredura. Além disso, foram instaladas papeleiras – distribuídas em quase todos os pontos da praça – para dar a correta destinação ao lixo. “Mas, infelizmente, isso é uma questão até cultural das pessoas. É um problema enfrentado pela limpeza: a não colaboração da população”, salienta Rocha.
Para exemplificar o descaso dos passo-fundenses, em dezembro de 2011, uma ação conjunta da Secretaria de Serviços Gerais com a Associação dos Amigos da Praça Tamandaré realizou a pintura dos banheiros da praça Tamandaré. No dia seguinte ao término da obra, as paredes estavam pichadas novamente. Para o secretário, a ideia da revitalização da praça Marechal Floriano é que, além de ser cartão-postal de Passo Fundo, o lugar possa fazer com que as pessoas o frequentem e, de fato, possam se apropriar do bem público. A secretaria espera que, agora, com o valor da licitação mais elevado, as empresas se credenciem para fazer as reformas.
Na opinião dos munícipes, o local precisa de mais atenção. Para o professor Enderson Gois, a praça Marechal Floriano poderia ser mais cuidada, ter mais segurança e banheiros mais limpos e organizados. “Acho que nossas praças deveriam e poderiam ser mais seguras, com mais opções de lazer e cultura. Talvez, com pequenas bibliotecas”, sugere.
[stextbox id=”custom” caption=”Curiosidade:”]Em São Paulo existe uma lei que estabelece multa para quem joga lixo no chão.
[/stextbox]Origem do nome
A cuia se tornou símbolo da cidade a partir da lei municipal nº 3082, de 26 de dezembro de 1995. A praça não é chamada de Marechal Floriano por acaso: esse nome certamente lhe é familiar, nem que seja lembrado pelas aulas de história do Brasil no ensino fundamental. Floriano Vieira Peixoto foi militar e político brasileiro, além de presidir o Brasil de 1891 a 1894, no período conhecido como República Velha. Também chamado de “Marechal de Ferro”, Floriano assumiu a presidência com a renúncia do marechal Deodoro da Fonseca, sendo conhecido por sua participação ativa na Guerra do Paraguai.
Nascido em Maceió (AL), em 1839, Floriano Peixoto sofreu forte oposição a seu governo. Um exemplo disso foi o “Manifesto dos 13 generais”, documento que contestava a legitimidade do governo e criticava as atitudes do presidente quanto às rebeliões nos estados, além de sugerir a convocação de uma nova eleição para a presidência. A atuação enérgica, quase ditatorial, deu origem à alcunha de “Marechal de Ferro”, principalmente por dominar as sucessivas revoluções que fizeram parte dos primeiros anos da república brasileira.
Nos três anos em que presidiu o país, marechal Floriano enfrentou a Revolução Federalista no Rio Grande do Sul e as Revoltas da Armada do Rio de Janeiro. Na primeira, apoiou Júlio Prates de Castilhos – jornalista e político gaúcho que governou o Rio Grande do Sul por duas vezes; na Segunda Revolta da Armada, em 1893, o presidente foi alvo de ameaças lideradas pelo almirante Custódio de Melo. A revolta foi suprimida e a antiga cidade de Desterro, palco da revolta, é a atual Florianópolis, em homenagem ao marechal.
Retratado na minissérie República e no filme Policarpo Quaresma, Herói do Brasil, o rosto de Floriano Peixoto da Fonseca estampou as notas de cem cruzeiros, que circularam no país entre 1970 e 1980. Ele faleceu em 1895, mas deixou seu nome registrado na história do Brasil e, em reconhecimento, foi homenageado nominando as ruas, praças e avenidas espalhadas pelo país.
Apesar das lixeiras espalhadas pela praça, a população ainda polui o chão
População aproveita a sombra para se refrescar nas tardes quentes
Iluminação da praça precisa de reformas
Pessoas aproveitam para passear com seus animais de estimação
