Das hortências ao Kikito

No início uma pequena Mostra de Cinema, na Festa da Hortênsia,em Gramado. Alguns filmes apresentados. Alguns atores que apareciam nas telenovelas da época. Um cinema pouco espaçoso, mas quem se importa?

Surgia, entre filmes e hortênsias, no ano de1969 o rascunho do que seria o maior  festival brasileiro de cinema. Mais tarde, em1973, a oficialização: Gramado seria o município anfitrião do Festival de Cinema. De 10 à 14 de janeiro daquele ano, reuniram-se na cidade produtores, atores, diretores e amantes da sétima arte para prestigiar a produção nacional. Desde então se passaram 39 edições, muitos premiados e filmes que se tornaram os queridinhos – ou não – da crítica.  O sucesso do evento resulta na 40ª edição que, no segundo semestre do ano, impulsionará, também, novos talentos na atuação e produção de filmes.

O evento é promovido pela Prefeitura Municipal, através da Associação de Cultura e Turismo de Gramado, em parceria com o Governo do Estado, o Governo Federal e a Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul e reúne, a cada edição, cerca de 150 mil turistas em busca de qualidade cinematográfica tanto da parte de quem atua quanto de quem produz. A despeito de todos os obstáculos surgidos durante os anos – especialmente pela fuga da censura nos primeiros anos -, o Festival jamais deixou de ser promovido e, ao longo do tempo, sofreu modificações que o levaram a sua atual regulamentação. Desde 1992, por exemplo, filmes latinos podem concorrer em uma categoria própria. A interação resulta, mais que qualquer outra coisa, na soma de conceitos e no próprio aprendizado.

O Festival de Cinema é divido em três grandes categorias: filmes de longa-metragem brasileiros; filmes de longa-metragem estrangeiros; filmes de curta-metragem brasileiros. Estes concorrem em subcategorias que premiam melhor ator e atriz, melhor diretor, melhor fotografia, melhor roteiro e melhor filme. Ainda, a Mostra Gaúcha, direcionada para a produção do estado, contempla os vencedores com prêmios em dinheiro, em 11 categorias. Ainda, o Festival propõe três homenagens: Troféu Oscarito – dedicado a atores e atrizes do cinema nacional que fazem história -, Troféu Eduardo Abelin – dedicado a grandes diretores -,  e Homenagem Especial. Também presente nas premiações está o Kikito. Criado para ser símbolo da cidade de Gramado, representando bom humor e alegria, a estatueta de bronze é, hoje, o prêmio máximo do Festival.

Entre o contado nas telas e nos bastidores, o Festival de Cinema reúne histórias do passado que molda o presente e aponta o futuro. Nos primeiros encontros, a polêmica ditava o sucesso de um filme. Nudez e sensacionalismo arrecadavam os prêmios, driblando qualquer censura. Exemplo disso é o filme “Toda Nudez Será Castigada”, vencedor do Kikito de melhor filme no primeiro Festival. Escrito por Nelson Rodrigues e dirigido por Arnaldo Jabor, o filme fala de prostituição, adultério e hipocrisia.  Entre alguns dos vencedores, Dona Flor e Seus Dois Maridos, Jango,  Anjo da Noite e O Seminarista, por exemplo, os temas explorados giram em torno de sexo, política, homicídios. O tapete vermelho do Palácio dos Festivais de Gramado era uma espécie de ringue para aqueles que disputavam a fama e a ascensão. A cidade gaúcha, em dias de Festivais, torna-se reflexo de crise ou de glória, retratando a sociedade e a época.
De Fernanda Montenegro à Selton Mello. De Gustavo Pizzi à Roberto Henkin. De Uma Longa Viagem a De Lá Pra Cá. Quase quatro décadas de Festival de Cinema de Gramado confirmam uma evolução na produção nacional e a cada edição, evoluem-se os critérios de avaliação e os conceitos apresentados. Sendo reconhecido como uma tradição exata do cenário cinematográfico brasileiro, o Festival é um espaço que promove, prestigia e discute o cenário nacional e latino do cinema, apontando tendências e alternativas de produção.
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