Os dois lados da polêmica que tem ganhado as discussões dos brasileiros e as atenções da mídia
O assunto não é novidade, mas ainda há muito a ser discutido. A usina hidrelétrica de Belo Monte está colocando em lados opostos governo e ambientalistas, trazendo uma estrondosa repercussão na mídia e nas redes sociais. Em consequência disso, dezenas de informações proliferam pela internet, apresentando dados que, nem sempre, condizem com os números do empreendimento. Nessa história de diz-que-me-disse, nada melhor do que enumerar os elementos que constituem os dois lados da moeda.
Prós
O país necessita de energia, e a UHE Belo Monte é a alternativa mais viável economicamente. Para se ter uma ideia, a área da Amazônia Legal é de 5.500.000 km², enquanto a área a ser ocupada pelo reservatório é de 516 km². Assim, o percentual de alagamento da Amazônia Legal seria de 0,0094%. No entanto, desses 516 km², metade corresponde à carga natural do rio, ou seja, não serão novas áreas alagadas, mas que já fazem parte do rio.
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento na Amazônia Legal entre agosto de 2009 e julho de 2010 foi de 7.000 km². Isso quer dizer que 1 ano de desmatamento na Amazônia equivale ao impacto de 14 usinas hidrelétricas de Belo Monte. Além disso, a chamada “volta do Xingú” não vai secar. De acordo com a Agência Nacional de Água (ANA), existe uma vazão mínima a ser solta em cada um dos meses do ano quando a usina estará em operação. Em outras palavras, a volta vai sempre ser abastecida de água.
Uma das alternativas propostas para evitar a construção de Belo Monte foi o uso de energia eólica. Fazendo uma comparação, o fator de capacidade (FC) da UHE Belo Monte é 0,41, sendo que a média nacional do FC é de 0,52. Já a energia eólica tem FC igual a 0,35 e a densidade para instalação de um parque eólico é de 10 mw/km² – distância mínima entre os geradores para que eles trabalhem sem atrapalhar um ao outro. Isso significa que, para produzir a mesma energia que Belo Monte, um parque eólico, com essas características, deveria ter 1.306 km²: mais que o dobro da área da usina hidrelétrica. A energia solar, por exemplo, tem custo 4 vezes maior do que a UHE.
Para mais informações sobre o projeto, acesse o site da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Lá, você encontra o edital completo do leilão de concessão de Belo Monte.
httpv://www.youtube.com/watch?v=JhYd48tQav4
Contras
O custo da obra está estimado em 30 bilhões, dos quais 80% serão arrecadados por meio dos impostos. Especialistas alegam que entre os impactos causados pela obra na região está o aumento da pressão sobre os recursos naturais – já ameaçados pela caça, pesca e exploração madeireira -, o que aumentaria a atividade ilegal. Além disso, a vazão ecológica do rio Xingú seria prejudicada, pois a barragem desviaria um trecho de aproximadamente 100 km de água do leito, alterando as condições do rio e a reprodução dos seres vivos. Consequentemente, os povos que vivem naquela região e dependem desses recursos também seriam atingidos. Devido ao grande período de estiagem do rio Xingú, a usina deve operar com um terço de sua capacidade na maior parte do ano.
A região escolhida para a construção apresenta grande biodiversidade de fauna e flora. Segundo informações do site Problemas Ambientais, no caso dos animais, o EIA aponta para 174 espécies de peixes, 387 espécies de répteis, 440 espécies de aves e 259 espécies de mamíferos, algumas espécies endêmicas – aquelas que só ocorrem na região -, e outras ameaçadas de extinção. No trecho onde a vazão do rio seria reduzida, os impactos sobre a fauna aquática seriam irreversíveis, o que caracterizaria a inviabilidade do projeto nas questões ambientais. A biodiversidade de peixes da bacia do Xingú – certa de quatro vezes o número de espécies existentes em toda a Europa – deriva das barreiras geográficas das corredeiras que isolam em duas regiões o ambiente aquático da bacia. A UHE Belo Monte poderia romper esse isolamento, resultando na perda irreversível de centenas de espécies.
Além disso, os índios que vivem na região seriam diretamente atingidos. Em fevereiro deste ano, eles organizaram um protesto em Brasília contra a construção da usina.
httpv://www.youtube.com/watch?v=L7mxAy5T4Co&feature=related
Para a ONG WWF, a construção da hidrelétrica de Belo Monte poderia ser substituída pela repotencialização das usinas já existentes no país, pela redução do desperdício no sistema de distribuição elétrica, além de investimentos em fontes limpas de energia.
Repercussão na internet
O Movimento Gota D’água, já explicado na primeira reportagem desta série, causou notória mobilização na internet, tanto a favor quanto contra o projeto. Ao digitar o nome do movimento no Youtube, é possível assistir a dezenas de vídeos com manifestações da população a respeito do tema. Entre eles, se destaca a produção de Rafinha Bastos, ex-apresentador do CQC, que fez uma paródia sobre o movimento. Confira:
httpv://www.youtube.com/watch?v=Cyu5x_cSzH4
O que os alunos acham
[stextbox id=”custom”]Renato Philippsen – Engenheiro Elétrico formado pela UPF
Dadas as condições da matriz energética do Brasil hoje e das previsões para a próxima década, é uma construção inevitável. O impacto ambiental é relativamente pequeno, se comparado ao impacto causado pela derrubada da floresta amazônica para pastagem e plantação, visto que a cada 40 horas uma área igual à da usina é desmatada.
A única solução menos impactante para o meio ambiente seria – ironicamente – a energia nuclear. Sou a favor desta, pois é uma energia extremamente segura (se construída da maneira correta, como é o caso de Angra I e II) e limpa. Energia eólica e solar são tecnicamente inviáveis para esta demanda.
Mas o ideal seria não precisar construir novas usinas. O grande “vilão” da história é a política de produção e exportação quase exclusiva dos famosos commodities. Esse tipo de indústria “suga” quantidades monstruosas de energia para agregar pouco valor. Como é o caso da indústria de alumínio, que tende a aumentar muito nos próximos anos e, com isso, a necessidade de mais energia.
O ideal seria que o Brasil investisse mais em tecnologia, para exportar produtos que agreguem mais valor e consumam menos energia em seu processo de fabricação. Mas para essa mudança no panorama industrial do Brasil é necessário, além de muito investimento, muito tempo também. No mínimo, uma década.
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Tatiel Zart – acadêmico de Jornalismo na UPF
No ponto de vista de destruir a floresta, é algo engraçado, pois muito mais que isso foi destruído por madeireiras ao longo de muitos anos. E o povo nunca se pronunciou nem deu a importância devida para isso. Mas, quando é em nome do “progresso”, todos se revoltam e escolhem os momentos errados. Na questão dos impostos, são arrecadados para construções inúteis como, por exemplo, o estádio do Corinthians e ninguém fala nada. Então, não vão ter muita moral para criticar isso!
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