O toque dos dedos nas cordas produz o som que aninhado no corpo do violão rebomba o Batuque de Cordas. Dois instrumentos, dois músicos e uma carga sonora cultural de raíz, de origem, erudita e contemporânea preenchem o corpo do teatro e o corpo da gente. A sensação é física e de sentimento.
Há 10 anos, Vinícius Correia e Cláudio Veiga fazem parceria com seus violões. Produziram o primeiro CD em 2002 e já na seqüência receberam o Prêmio Açorianos de Música de Porto Alegre (prêmio esse que destaca os melhores da música no estado) nas categorias de Melhor Grupo Instrumental e Melhor CD de Música Instrumental. Depois, em 2006, o segundo CD. Desde então, o grupo já compartilhou sua música em vários projetos pelo País e também no Exterior. No final do Show, que aconteceu agora em abril no Teatro do Sesc, o Nexjor conversou com o Batuque de Cordas e precebeu que eles são o que tocam e que uma pergunta leva à muitas reflexões.
Nexjor – Muitas vezes as pessoas se sentem mais jovens do que são ou mais velhas do que à idade que possuem. Que idade a música de vocês têm?
Cláudio – Eu sempre digo que eu não escolhi a música eu fui escolhido por ela. Pra mim música é início, meio e fim.
Vinícius – Pra mim a descoberta é mais recente, foi na adolescência que a música me cativou. Uma coisa que talvez fosse uma pré disposição, uma necessidade de expressão muito grande, mas eu ainda não sabia com que, e, como traduzir isso. Quando eu consegui ouvir com mais atenção a música eu percebi que era essa a linguagem que eu buscava. Era esse o jeito pra eu me comunicar, através de som, do violão. Aí foi arrebatador.
N – Quais foram os músicos e estilos que influenciaram vocês na busca de uma sonoridade própria?
V – Essa coisa da música regional, da música folclórica mais popular. Não só o regional do Brasil, mas regional de tudo que é região do mundo sempre me chamou muita atenção porque é uma música com um lado simples mas carregada de significado e expressão, de sutilieza. Singela sem ser simplória, sofsticada inclusive mas sempre muito direta, e é isso que me chama muita atenção.
C – Complementando o Vinícius, alguém já falou que se você quer ser universal fale para a tua aldeia.
V – O primeiro veículo que me chamou muita atenção na música foi o violão, os instrumentistas. Depois de aprender bem o violão, a técnica, comecei a conhecer aos poucos a música brasileira. Dois músicos fundamentais pra mim foram Baden Powell e o Egberto Gizmonte; um divisor de águas. Eu vi um concerto do Gizmonte a um bom tempo atrás e percebi que a música pra mim era aquilo e fiquei com um pensamento na cabeça: de onde ele tirava aquilo, isso não podia simplismente brotar na cabeça dele e ir pros dedos. Aí 03 meses depois eu vi um show do Baden Powell, que era muito didático nas suas apresentações, explicava as músicas, falava dos compositores antigos, os estilos. E pra mim foi aí: Música Brasileira, MPB. Depois disso fui aonde eu estudava violão e disse pro pessoal lá que apartir daquele dia eu queria saber só de música brasileira. A música brasileira é muito presente na minha vida mesmo.
C – Primeiro tu te indentifica com a necessidade de expressar, de falar pro mundo o que tu pensa e tu descobre o meio, a forma de fazer isso. Depois a necessidade de descobrir a tua identidade. Daí tu tens o meio, mas como fazer isso? E a partir disso o que eu quero expressar? E ocorre a identificação com a tua cultura.
V– Mas é sem bairrismo, o legal é saber que não existe cultura melhor que a outra, toda cultura é boa. Agora estamos estudando a música do continente africano, danças negras pro nosso próximo trabalho e tem coisas maravilhosas e é completamente diferente, uma música nova aos nossos ouvidos. Mas ao mesmo tempo a identificação é imediata com nossa cultura também.
N – Atualmente a diversidade musical é extensa, mas também existe muitas produções parecidas. Como é pra vocês buscar o novo, criar uma sonoridade própria?
C – Um dos problemas justamente está no acesso à informação. Porque está ao alcance da mão, num clique temos o mundo inteiro. Daí tu recebe todas as informações, podendo absorver e trabalhar em cima de coisas que já existem. Utiliza-se um fragmento de uma música, gosta de uma idéia e desenvolve essa idéia: pronto tem uma música nova. Nova, porque se modifica, mas no fundo tornou-se uma cópia. Eu já conheci pessoas que se utilizam dessa prática. Mas quando você descobre a identidade que se quer, no nosso caso o violão brasileiro (porque dizem que se tem 02 escolas de violão: a brasileira e a espanhola), aí se começa a ouvir de tudo: choro, samba. E aí podemos citar vários compositores, instrumentistas, intérpretes que produzem nesse mesmo universo. Primeiro a gente tem é a dificuldade de encontrar a originalidade porque o material que agente tem já existe: o ritmo. Por exemplo o samba, vamos ter a pretensão de fazer um samba novo? Como é que funciona isso? Uma música nova, sim. Mas um samba diferente? Isso é muito difícil. Então, essa não é a nossa pretensão. O que buscamos é uma sonoridade exclusiva. Até as coisas que fazemos no violão os sons de percussão não é novo, mas a maneira de colocar isso dentro da música é nosso, faz parte da nossa música. A gente se preocupa mais com a nossa identidade do que com essa originalidade, essa busca do algo novo. A nossa busca é algo que seja nosso, que tenha a nossa cara, a nossa identidade.
V – Falando de música eu acho quase impossível dizer que algo é novo, pra não dizer que é impossível. A gente sempre é o resultado de alguma coisa. Mesmo quando eu estou compondo o que estou criando é resultado de alguma coisa. Mas tem elementos nas músicas que a gente gosta, que a gente prefere, que a gente privelegia. Tanto eu quanto o Cláudio. A nossa visão é bem violonística. O nosso instrumento é o violão, tem sonoridades que agente gosta no violao. Mas algo que acho importante no nosso trabalho é a busca incessante e chata até, perfeccionista, de evitar o clichê. Primamos pela originalidade. Quando fizemos um arranjo, uma composição, nós evitamos isso. A gente procura tocar diferente dos demais.
C – Durante o processo de aprendizagem é quase impossível aprender um instrumento ou a música sem passar pelos clichês. Pois é a música mais comum, conhecida, que forma às pessoas e que cria uma certa bagagem cultural da sociedade e do indivíduo. Conseguir sair do senso comum na aprendizagem é difícil. Mas nós vamos contra isso.
V – E por mais que tocamos as músicas de outros compositores, instrumentistas tocamos de um jeito nosso.
N – Como vocês compõe, como surge a música?
Vinícius – Eu trabalho com som. O meu som não representa nada, ele não é descritivo. Eu não vou falar da situação política do Brasil com notas musicais. Eu acho impossível. Eu quero falar de coisas, de sentimentos. Eu quero que quem ouve a minha música entenda o que eu estou sentindo, mas eu não vou explicar como ele é. É pra sentir junto.
Cláudio – O meu objetivo com a música é criar um ambiente melhor nesse mundo. Hoje tem mais de 5 bilhões de pessoas no mundo e agente tem uma tendência de se isolar, de se individualizar cada vem mais e pra mim a música é um meio pra tentar unir cada vez mais as pessoas.
Vinícius – O meu objetivo é porque através dela eu consigo viajar a vários lugares e compartilhar com as pessoas a música, por mais que não falamos a mesma lingua a música é universal. Essa oportunidade de conviver com as outras pessoas é o que me faz fazer música. Essa troca.
Todo esse envolvimento com levar a música a todos os lugares e fazer com que as pessoas participem dela aconteceu no último show realizado em Passo Fundo no Teatro do Sesc. Confira clicando aqui: Batuque
Para conhecer o trabalho do Batuque de Cordas acesse www.batuquedecordas.com aqui você vai encontrar o endereço no myspace deles. E boa música!
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